Roberta Machado
Estado de Minas: 01/01/2013
No fim do ano passado, os governos brasileiro e francês assinaram acordo que deve, finalmente, trazer a tecnologia de produção de células fotovoltaicas para o país. Até então, a fabricação dos equipamentos no Brasil se resumia à montagem de peças importadas. A nova fábrica, com projeto previsto para o próximo ano, poderá realizar todo o processo, desde a purificação do silício à produção de módulos. A ação é essencial para o barateamento das células no mercado interno, além de incluir o país na revolução tecnológica pela qual têm passado os coletores de energia.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Energias Alternativas e Meio Ambiente (Abema), o preço da energia fotovoltaica, um dos grandes culpados pela resistência a esse tipo de fonte, caiu em 2011 de US$ 1,50 para US$ 0,50 por watt. Se esse ritmo continuar, prevê a entidade, o custo da eletricidade de origem solar deve se igualar ao das outras fontes até 2015. “A competição com a eólica e outras tecnologias de fontes renováveis tem feito a energia solar caminhar a passos gigantes”, avalia Ruberval Baldini, presidente da associação.
Para o especialista, o preço mais atraente vai impulsionar as pesquisas já em andamento em todo o mundo. “Existe uma busca por materiais e processos sustentáveis, e a entrada desses produtos e métodos na indústria dependerá do impacto econômico que causem”, completa.
Esse embate financeiro faz com que, pelo menos por enquanto, descobertas fiquem restritas ao laboratório. É o caso de uma célula fotovoltaica inspirada nos girassóis desenvolvida na Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos. Apoiado numa combinação de elastômero líquido, cristalino e nanotubos de carbono, o conjunto se contrai na presença do calor, o que leva a célula a se curvar para o sol e absorver mais luz. “Com o aperfeiçoamento dos materiais e do design, conseguiremos a mesma eficiência de modelos com GPS e motores. Nosso custo seria mais baixo”, adianta Hongrui Jiang, criador dos módulos móveis. “Mas nosso método ainda está na fase de pesquisa.”
Sonhos Ainda nos Estados Unidos, pesquisadores propuseram uma técnica para a fabricação de células com qualquer semicondutor. O método, que dispensa o tratamento químico de polarização do material, poderia dar fim à dependência do silício, principal matéria-prima desses equipamentos. Outras ideias que devem levar anos para chegar ao mercado variam de módulos em formato de funil a células escuras que absorvem o espectro infravermelho da luz solar. Na semana passada, engenheiros da Universidade de Stanford descreveram na revista Scientific Reports a criação de células adesivas, que podem ser aplicadas como decalques em qualquer superfície. São módulos finos e maleáveis que se descolam da estrutura rígida com água.
“Essas outras técnicas estão em nível de laboratório. Ainda é muito cedo para sabermos se serão usadas em alta escala”, avalia Adriano Moehlecke, coordenador do Núcleo de Tecnologia em Energia Solar da PUCRS. De acordo com ele, mesmo que as células de hoje enfrentem o preconceito pelo alto preço, a estabilidade e a eficiência comprovadas do modelo atual satisfazem às necessidades do mercado.
Para Moehlecke, a tendência do mercado de esperar o barateamento da tecnologia pode ser justamente o que trava o desenvolvimento do mercado. “Todo mundo espera que, de um dia para o outro, tenhamos a invenção de uma célula solar com a mesma eficiência e um custo de 1%. Podemos trabalhar nisso, mas não teremos esse sonho de uma hora para outra. Essa expectativa freia o uso da energia solar”, acredita. A tecnologia, aponta o especialista, já vale a pena. Estima-se que o investimento em célula tradicional seja compensado muito antes do término de sua vida útil, que pode chegar a 30 anos.
Em países que adotaram o modelo tradicional de células, como o Japão, as novidades tecnológicas entram com mais facilidade no mercado e ajudam a reduzir os gastos energéticos. Uma companhia de eletrodomésticos anunciou recentemente a venda de painéis semitransparentes que podem ser instalados em janelas e varandas, e o Centro de Tecnologia Industrial do país criou um tecido que poderá ser usado em breve para a fabricação de roupas fotovoltaicas.
O arquipélogo asiático, segundo país do mundo no uso de coletores fotovoltaicos, também criou subsídios para a energia renovável e planeja a construção de um imenso parque solar a apenas alguns quilômetros da Usina de Fukushima-Daiichi, cenário de um desastre nuclear em março passado. Para Moehlecke, o apoio do governo é a maior ferramenta de que os pesquisadores precisam neste momento crucial. “Se não houver incentivo, nada vai ocorrer nos próximos anos. O importante é que, gerando energia na ponta, o governo não precisa investir em novas centrais.”
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