NEURO
Um Ano-Novo magro
Você precisa comer a terceira rabanada ou vai ficar mais feliz se continuar cabendo na sua calça favorita?
Uma das resoluções de Ano-Novo mais comuns é perder peso -um dos sinais de que a obesidade é um problema real. Culpa, em parte, da invenção da cozinha por nossos antepassados.
Foi essa invenção que nos permitiu ingerir calorias suficientes por dia para sustentar um cérebro cheio de neurônios, mas que hoje, somada à geladeira, à fartura e à industrialização, tornou fácil demais... comer demais.
O problema, então, passa a ser aprender a lidar com toda essa fartura.
Para começar o ano ajudando a quem quiser comer menos, vou contar aqui três medidas que vi funcionar -ou não- nos Estados Unidos.
Primeira: ano passado, o prefeito de Nova York tentou limitar a cerca de meio litro o tamanho das doses de refrigerante vendidas ao público em copos descartáveis.
Dá para entender e apreciar o intuito: cada 100 ml de refrigerante tem mais de dez gramas de açúcar, ou 40 calorias de energia pura, não nutritiva. Meio litro dá 200 calorias provavelmente desnecessárias para quem já se alimenta bem -e que são, em um copão só, 10% de toda a energia que o corpo precisa em um dia.
A medida, contudo, não foi bem-vista e há boas chances de não ser implementada. Americanos não gostam de ninguém cerceando sua liberdade, mesmo que seja a de engordar com calorias desnecessárias.
Donde a segunda história: a Uno, uma das redes de pizzaria mais tradicionais nos Estados Unidos, agora traz em seu cardápio o valor calórico de cada pizza.
Assim você pode usar o próprio cérebro para avaliar se quer mesmo comer sozinho uma pizza, até que pequena, mas que coloca em seu prato mais de 1.500 calorias -75% de toda a energia que você precisa em um dia.
Em seguida, você quer de sobremesa aquela fatia de cheesecake de 1.600 calorias (chocante, pois é)? Eu não quis. Essa estratégia de conscientização e livre escolha tem bem mais chances de sucesso do que o terrível "não coma!".
Como, aliás, tem boas chances a terceira medida, iniciativa da Kellog's em um anúncio de TV muito bacana: encorajar pensamentos otimistas sobre dietas, em vez do conceito tão comum do maldito "sacrifício".
Ninguém gosta de fazer sacrifícios, e a neurociência já aprendeu que o que nos move é a expectativa positiva.
Comer menos? Só se o benefício valer a pena. Então, experimente se perguntar o seguinte: você precisa mesmo comer a terceira rabanada que sobrou das festas ou vai ficar muito mais feliz se continuar cabendo, com folga, na sua calça favorita?
SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista, professora da UFRJ, autora de "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog
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