Estado de Minas: 16/01/2013
Brasília – O El Niño, nome em espanhol que significa “o garoto”, é um fenômeno meteorológico que ocorre no Oceano Pacífico, especialmente em sua porção Sul. O súbito e intenso aquecimento que ele causa nas águas do oceano provoca inúmeros problemas, desde furacões e tufões no Sudeste asiático até inundações e ondas de calor recorde no Brasil. Uma pesquisa divulgada na revista científica Science mostra que o fenômeno está fora de controle. Segundo os pesquisadores da Universidade Georgia Tech, nos Estados Unidos, é impossível prever com que intensidade o El Niño vai se manifestar nos próximos anos e se, de alguma forma, as mudanças climáticas vão influenciá-lo.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram
7 mil anos de história climática por meio do estudo de corais que, após se quebrarem e se desprenderem dos recifes, foram levados pelas correntezas para as praias das ilhas Christmas e Fanning, no Pacífico Sul. “Nós olhamos para a variabilidade de longo prazo do El Niño nos modelos climáticos e questionamos como ele se compara com a variabilidade de longo prazo do fenômeno no mundo real”, explica a pesquisadora Kim Cobb, líder do estudo, que comparou os registros dos fósseis e os dados climáticos desde a segunda metade do século 20, quando eles se tornaram mais elaborados, com os modelos teóricos concebidos até agora para prever como o garoto terrível se comporta.
Segundo os dados colhidos, os novos corais, formados no século 20, retratam que as variações do El Niño são significativamente mais intensas hoje do que as de tempos passados. Contudo, quando ampliada a janela de tempo analisada, são verificadas também grandes variações na intensidade do fenômeno. Assim, não fica claro se os furacões cada vez mais violentos na América Central, as cheias na América do Sul e o calor intenso do Brasil estão aumentando por causa das mudanças climáticas ou se esse seria um fenômeno natural.
Diferentemente do que preveem a grande maioria das teorias, o El Niño – também conhecido com Enso, na sigla em inglês, ou Oscilação Sul – aparentemente não manteve qualquer padrão nos últimos sete mil anos. Kim e sua equipe detectaram um aumento modesto, mas estatisticamente pouco significativo, na força do fenômeno durante o século 20. Há possibilidade de essa variação estar relacionada com as alterações climáticas causadas pelo homem. No entanto, a reconstrução coral mostra um nível ainda mais elevado de força do El Niño há 400 anos, embora sua duração tenha sido mais curta. “Quando observamos o nível de variação, vemos que o século 20 não foi sem precedentes”, afirma a cientista. “As variações do século 20 não se destacam, estatisticamente, como sendo maiores do que as da linha de base dos corais fósseis, ou seja, as mais antigas”, completa.
Revelações A escolha por estudar a história climática por meio dos corais não foi casual. “Corais fósseis são os reis da reconstrução do El Niño”, afirma a pesquisadora. Esses cnidários – além dos corais, integram esse grupo de animais do mar as águas-vivas e as anêmonas-do-mar – se agregam em grandes recifes nos quais são unidos por esqueletos externos de calcário. A estrutura química e a velocidade de crescimento dos exoesqueletos, conservados por milhares de anos, revelam dados como a temperatura dos oceanos e a salinidade das águas no passado, fatores que são diretamente influenciados pelo El Niño.
Os pesquisadores coletaram amostras de coral por perfuração em maciços localizados em praias das ilhas do Pacífico. O material foi depositado nesses locais pela ação de fortes tempestades ou tsunamis. Kim e sua equipe estudaram 17 desses núcleos, de diferentes comprimentos e idades, recuperados de praias nas ilhas Christmas e Fanning, que fazem parte do cinturão de Ilhas no meio do Pacífico, região considerada privilegiada para esse tipo de pesquisa.
A vantagem é que os corais dessas localidades cresceram em uma região próxima o bastante do centro do fenômeno climático para terem sido afetados, mas longe demais para terem sido destruídos pelos anos em que as temperaturas subiram exageradamente – eles tendem a morrer em águas muito quentes. “Os corais crescem no coração da região do El Niño e fornecem um nível muito elevado de detalhes”, completa a especialista da Universidade Georgia Tech.
A pesquisadora lembra ainda que compreender as variações do El Niño é uma forma importante de prever as mudanças climáticas em nível global, já que todo o clima do planeta é interligado. “O El Niño é algo sobre o qual as pessoas querem saber quando reconstroem mudanças climáticas passadas em um local específico”, diz Kim Cobb. “Nossos dados fornecem uma referência para a magnitude das mudanças do El Niño, e permitem que os pesquisadores investiguem as causas das alterações climáticas passadas.”
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