Estado de Minas: 16/01/2013
Enquanto degusto a maçã verde que separei para o fim da tarde desse calmo janeiro, penso no cronista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, que faria 90 anos na última sexta-feira. Não foi muito lembrada essa data, ao contrário dos justos festejos dedicados ao centenário de Rubem Braga.
Cada um teve sua importância e seus escritos estão aí para comprovar. Eles andavam esquecidos, no limbo dos sebos, longe das luzes das livrarias, hoje obcecadas na exposição da mediocridade mundial. Mas há promessa de relançamentos dos dois autores, cada um mestre à sua maneira. E isso é uma boa notícia, principalmente para os que não conviveram com a obra deles.
Era mastigando suas goiabinhas no quintal da Tia Zulmira que o Lalau, ao longo de alguns anos, até 1967, tratou com humor afiado o cotidiano do Brasil. Suas crônicas em jornal carioca, que chegavam até nós pelos diários mineiros, eram primorosas ao desmascarar a falsidade, o conservadorismo e as peripécias dos homens públicos da época.
Era um grande gozador. Sua maior criação, atual ainda, foi o Festival de Besteiras que Assola o País, o Febeapá. Ali, desde o político mais modesto das pequenas cidades brasileiras até os grandalhões da cena nacional, quem falasse ou fizesse besteira era objeto de sua crítica ferina.
E como o ridículo é um atributo da vida cultural e política do Brasil (e do mundo) que sempre se realimenta, ele nunca padeceu por falta de assunto.
Era uma diversão, para o adolescente mineiro do início dos anos 60, acordar e tomar café lendo o Lalau, o Antônio Maria, o Nelson Rodrigues e A vida como ela é ou À sombra das chuteiras imortais. Apesar da qualidade dos jornais e jornalistas da cidade, as sucursais dos matutinos cariocas faziam uma concorrência boa para os leitores.
Assim, as histórias das noites do Rio, plenas de boemia e da música que prenunciava a bossa nova, tomavam conta de nossa imaginação. E os cronistas transmitiam aquele mundo glamouroso. Sua participação era tão intensa, que muitos deles se foram cedo, surpreendidos por seus corações em pleno voo noturno.
Quando cheguei ao Rio, em 1967, para assumir um lugar na canção brasileira com meu amigo Bituca, sentado na areia da praia e contemplando o mar, ouvi no rádio a notícia da morte de Sérgio Stanislaw. Não tinha completado 45 anos.
Gosto de reler as coisas que escreveu. Palavras leves e cheias de humor que não se desgastam com o tempo. Tia Zulmira, Primo Altamirando e as certinhas do Lalau fazem parte de um tempo aparentemente mais inocente e menos agressivo. Sei não. As lentes da lembrança, principalmente as do tempo da juventude, costumam ser míopes.
A terra continua a girar da mesma forma que sempre rodou, ao redor do Sol. Há sempre coisas boas e ruins. Pessoas boas e merecedoras de afeto. E outras que nada valem. Escolho o meu lado e sigo em frente.
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