quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Vera Guimarães Martins

FOLHA DE SÃO PAULO

Pelo fim da força aérea
SÃO PAULO - O STF (sempre ele) vai patrocinar em março um debate interessantíssimo. Resumindo: os moradores do bairro paulistano Alto de Pinheiros entraram na Justiça há 12 anos para exigir que a Eletropaulo reduza a voltagem da rede aérea de alta-tensão sob a qual vive parte do bairro. A concessionária de energia perdeu em duas instâncias e apresentou recurso ao Supremo.
Não há estudos científicos que comprovem nem desmintam os efeitos danosos de viver sob radiação contínua, mas o temor dos moradores faz sentido. A força do campo eletromagnético a que estão submetidos é o dobro do nível máximo recomendado pela Organização Mundial da Saúde. E não estão sozinhos.
Só na Grande São Paulo, cerca de 66 mil pessoas, em locais nobres ou pobres, moram sob linhas de transmissão de energia, segundo estudo da Faculdade de Medicina da USP. A maioria certamente sem informação ou condição de questionar a situação.
O caso do Alto de Pinheiros, bairro de classe média alta da zona oeste, só chegou tão longe porque seus moradores conseguiram se mobilizar e levar a cabo uma longa luta judicial, pagando até especialistas estrangeiros para defender seu ponto de vista no STF. Se a ação ajudar a mudar padrões, milhares podem ser beneficiados. Se não, só a audiência pública para discutir o tema, em março, já merece ser comemorada.
Ela abre espaço para a população conhecer e debater os critérios que levam as concessionárias de serviços públicos a espalhar florestas de postes e cipoais de fios, que emporcalham a paisagem urbana. São os "gatos" oficiais. Há calçadas paulistanas onde se amontoam três ou quatro estruturas, de concreto ou metal, em menos de dois metros. E tome fio.
Em 2006, decreto do então prefeito Gilberto Kassab criou o Programa de Enterramento da Rede Aérea, que obrigava essas empresas a enterrar 250 km lineares de cabos aéreos por ano. Ganha um choque de 220 volts quem acreditar que saiu do papel.

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