Turistas admiram a vista do Parque Estadual do Ibitipoca |
Estado de Minas - 12/03/2013
É verdade: o tema da falta de assunto costuma render assunto. Foi o que aconteceu quando escrevi, nesta coluna, sobre o bloqueio criativo que, vira e mexe, atormenta os cronistas (e escritores em geral). Logo, comecei a receber e-mails, todos muito gentis, com sugestões de temas para as crônicas das semanas seguintes. Um deles foi o de Ana Maria de Oliveira Sales, da cidade de Divino, que me sugeriu falar sobre Ibitipoca, terra de sua família materna. Não conheço o lugar, embora já tenha ouvido falar das cachoeiras e grutas que lá existem. E como escrever sobre algo desconhecido é sempre um desafio interessante, fiquei bastante tentada.
Hoje, finalmente, encampo a ideia, mesmo correndo o risco da imprecisão e do devaneio. Para isso, não apenas me pus a pesquisar sobre a região de Ibitipoca em mapas, sites e guias turísticos, como também liguei para minha mestra Zenóbia, que sabe tudo o que não sei. Foi ela quem me contou a maioria das coisas que descrevo aqui com outras palavras.
Zenóbia falou muito de uma amiga sua de juventude, Maria Lúcia, nascida na Vila de Conceição do Ibitipoca. Por conta dessa amizade, foi lá duas vezes e achou o lugar uma maravilha. “Fica no município de Lima Duarte, no caminho de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, e sua paisagem montanhosa cativa qualquer pessoa de espírito sensível”, explicou, descrevendo em seguida algumas particularidades da flora e da fauna das redondezas. “Não à toa fizeram na região um parque estadual, um dos mais bonitos de Minas”, ela acrescentou, com um sorriso na voz. Vale esclarecer: Zenóbia, que é bióloga aposentada, sempre teve especial apreço pelas coisas da natureza. Conhece bem todas as áreas de preservação ambiental do estado. Daí seu entusiasmo pelo que chamou de “pérola da Serra da Mantiqueira”, um verdadeiro paraíso ecológico em terras mineiras, cheio de orquídeas, bromélias, samambaias e líquens.
Outro dado curioso sobre o lugar é o fato de ter sido registrado em detalhes pelo botânico francês Auguste de Saint Hilaire (1779-1853), que esteve em Ibitipoca em 1822, pesquisando espécies desconhecidas de plantas. Diante de tanta riqueza natural, ele chegou a afirmar, antes de partir: “À vista dos belos campos que se apresentaram hoje aos meus olhares, não pude deixar de sentir verdadeiro aperto de coração pensando que logo os deixarei para sempre”.
Zenóbia contou ainda que Maria Lúcia criava cabras. Tinha um belo rebanho, nomeava todos os animais e retinha os nomes na memória. Uma cabra, em especial, conquistara seu coração: Josefina, que, apesar do aspecto frágil, era corajosa e gostava de comer flores, de preferência amarelas. Dava o melhor leite do mundo. Um dia, porém, ela desapareceu misteriosamente. Dizem que foi roubada, pois o queijo de seu leite era o mais procurado de todos. Maria Lúcia, inconformada com a perda, acabou por se desfazer do rebanho inteiro. Nunca se esqueceu de Josefina e, até o fim da vida, chorou o sumiço da cabra querida.
Enfim, muito há o que descobrir sobre Ibitipoca – tanto a vila como o parque. Mas não bastam os guias, mapas, livros e sites de turismo. Pelo que parece, é um lugar para ser conhecido ao vivo. Fica como roteiro das próximas férias.
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