Nossa história recente está cheia de
narrativas imperfeitas, que ainda serão revisitadas. Falta ainda
conhecer melhor o papel de Cachoeira e seu esquema em muitas delas
Estado de Minas: 12/03/2013
Um documento
arquivado pelo Senado como “sigiloso” aponta a ação do bicheiro
Carlinhos Cachoeira e seu grupo na urdidura de uma das denúncias que
levaram o senador Renan Calheiros a renunciar à Presidência do Senado em
2007: a de que ele teria montado esquema para espionar os senadores
Demóstenes Torres, que veio a ser cassado após ser desmascarado como
agente político do bicheiro, e Marconi Perillo, hoje governador, citado
como envolvido pelo relator da CPI do Cachoeira, Odair Cunha.
O
documento, ao qual a coluna teve acesso, é a íntegra do depoimento do
empresário e ex-deputado goiano Pedrinho Abraão ao então corregedor do
Senado, Romeu Tuma, já falecido. Tuma pediu seu arquivamento, sem
divulgá-lo, pressionado pelo DEM, antigo partido de Demóstenes, que
ameaçava processá-lo por infidelidade partidária, por ter migrado para o
PTB. Curiosamente, nessa época, o DEM moveu ação semelhante contra o
hoje ministro Edison Lobão, que havia trocado o partido pelo PMDB, mas
poupou Tuma.
No depoimento, Abraão, que é dono de um hangar em
Goiânia, nega taxativamente ao corregedor que o então assessor de Renan,
Francisco Escórcio – que havia sido senador como suplente e hoje é
deputado federal – tenha lhe pedido autorização para instalar câmeras no
hangar e captar imagens comprometedoras dos dois senadores. Se
aparecessem usando jatinhos de empresários, por exemplo, Renan poderia
chantageá-los.
Em outubro de 2007, o então presidente do Senado,
que já havia sido absolvido da acusação de ter tido despesas
particulares pagas por um empresário, enfrentava outras denúncias, como a
de usar laranjas em seus negócios. No dia 10, a revista Veja publicou
matéria, assinada pelos repórteres Policarpo Junior e Alexandre
Oltramari, sob o título “o jogo sujo de Renan”. O texto afirmava que ele
tinha montado um esquema para espionar seus pares chefiado pelo
assessor Escórcio. Que este tinha ido a Goiania e se reunido com Abraão,
pedindo-lhe para instalar duas câmeras em seu hangar, com o que ele não
teria concordado. A reportagem transcreve falas de Abraão mas registra,
no final, que ele confirmou ter os senadores como clientes e conhecer
os envolvidos, negando porém ter participado de reunião com esse
objetivo.
Num plenário incendiado pela reportagem, Demóstenes
fez um discurso indignado. O DEM e o PSDB apresentaram ao Conselho de
Ética a quinta representação contra Renan. As outras envolviam a sua
vida privada mas esta, de que espionava os colegas, fez com que alguns
deles lhe retirassem apoio. Temendo perder o mandato, ele renunciou à
presidência em dezembro.
No dia 16, Tuma foi a Goiânia colher o
depoimento de Abraão, a quem o então corregedor resumiu o que Demóstenes
declarou no Senado: “Ele me contou que Escórcio disse estar lá em
missão relativa ao Maranhão mas que precisava também me flagrar, e ao
Perilo, voando de forma ilegal. Pediu-me para instalar duas câmeras”.
Ouvindo
isso, Abrão declara ao corregedor, segundo a transcrição: “Não foi
dessa forma senador.” E resume o encontro ocorrido no escritório do
advogado Eli Dourado, negando ter havido qualquer abordagem sobre
instalação de câmeras: “Conversamos muito sobre avião, se eu voava, e
tal, e sobre algo que me surpreendeu, que o Heli iria ser advogado da
Roseana. Falamos também da minha cirurgia, como emagreci 60 quilos e
tal.”
Abrão relata a Tuma que Demóstenes o visitou dias antes,
afirmando já saber que Escórcio lhe havia proposto a arapongagem e que
ele se negou a colaborar. “O Demóstenes veio para mim com um ímpeto…me
especulando como promotor”. Esclareceu que não ouviu proposta em tal
sentido e teria acrescentado que o hangar já tem mais de 60 câmeras.
“Então, se eu quisesse fazer ou contribuir com alguma arapongagem, seria
a coisa mais simples”.
A versão de Escórcio, hoje deputado, é
coerente com o depoimento de Abraão a Tuma: “A conversa foi banal. Eu
fui a Goiânia contratar o Heli Dourado para mover a ação eleitoral que
veio a garantir a posse de Roseana. Na conversa, alguém mencionou
Pedrinho Abraão, com quem tive boa convivência no Congresso. Pedi o
numero dele e liguei. Ele se propôs a ir lá me rever. O que eu não
sabia, e vim a saber, é que, por eu ser assessor do Renan, meu telefone
tinha sido grampeado pelo esquema deles. Deduziram que meu encontro com
Pedrinho Abraão era alguma armação”. A coluna não conseguiu ouvir Renan.
Essa
história ocorreu há cinco anos. Demóstenes foi cassado, Renan voltou ao
cargo e enfrenta protestos. Mesmo assim, é importante “apurar” o
passado. Nossa história recente está cheia de narrativas imperfeitas,
que ainda serão revisitadas. Falta ainda conhecer melhor o papel de
Cachoeira e seu esquema em muitas delas.
Tucanos aceleram
Os
tucanos já constataram que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos,
está mais avançado que Aécio Neves na preparação de sua candidatura. Não
se lançou oficialmente mas já está discutindo alianças, montando equipe
de comunicação e até acertando doações. Por isso, a ordem no PSDB agora
é acelerar o passo.
Hoje, Aécio, que fez aniversário no domingo,
será homenageado com um jantar pelo governadores do partido, por
iniciativa do governador Antonio Anastasia, que está tiririca com
Eduardo Campos. Depois de todo o apoio do PSDB para garantir a reeleição
do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, do PSB, Campos estaria
articulando a candidatura dele a governador de Minas. Anastasia não pode
se reeleger e o PSDB precisa de um palanque fortíssimo para Aécio em
Minas.
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