Inverno à distância
RIO DE JANEIRO - Em setembro de 1965, Frank Sinatra lançou um LP intitulado "September of My Years". A canção-título, escrita para ele por Jimmy Van Heusen e Sammy Cahn, referia-se àquela quadra da vida em que, pelo visto, as pessoas começam a enxergar o fim do túnel. Ao gravá-la, Sinatra ainda estava a dois meses de completar 50 anos. Como só morreu em 1998, aos 82, conclui-se que se afobou -ainda teria grandes outubros e novembros para viver.
Também em setembro, mas de 2012, em entrevista a Luciana Leiderfarb, do jornal português "Expresso", o escritor americano Paul Auster, 65 anos recém-feitos, declarou: "Agora sou um homem mais velho. Meus dias estão contados e não sei quantos me restam. Certamente menos do que aqueles que já vivi. Estou literalmente no inverno da minha vida. Se dividirmos a vida em quatro estações, cheguei à quarta estação".
Bem, tendo também completado 65 há alguns dias, e pulado fogueiras brabas nos últimos anos, entendo o que Auster quis dizer. Mas não acho que me diga respeito, nem à gente bronzeada do hemisfério Sul. Nossa quarta estação do ano não é o inverno, mas o verão, quando os fluidos se assanham e querem sair por aí, misturando-se a fluidos outros. E, perdão, Frank, mas, para nós, setembro não anuncia folhas secas e caídas, e sim a explosão de cores e cheiros.
O ator Marco Nanini, a apresentadora Marília Gabriela, a ministra do STF Rosa Weber, a dramaturga Gloria Perez, o designer Hans Donner e o treinador e linguista Joel Santana, todos terão 65 anos em 2013. Outros que há muito se despediram dos 65 e acabam de fazer ou farão 70 são Caetano Veloso, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Nei Lopes, Dori Caymmi, Leny Andrade, Edu Lobo, Marcos Valle e Turibio Santos, para ficarmos só na música.
Pergunte-lhes se estão no inverno de suas vidas.
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