sexta-feira, 31 de maio de 2013

Eduardo Almeida Reis-Belezura‏

Escrevo domingo, dia em que 30 canais exibem 50 manhãs sertanejas, noves fora os 30 canais religiosos 


Eduardo Almeida Reis

Estado de MInas: 31/05/2013 


Veja o leitor como são as coisas: adoro palavras, vivo delas e não sabia que conjuminância, “combinação”, “acordo”, estava dicionarizada: regionalismo brasileiro de uso informal. Vem de conjuminar + -ância. Conjuminar mexe comigo e vou explicar por quê.

Logo no segundo ou terceiro dia de redação carioca, escrevi “não conjumina” e o copidesque Roberto, ex-colega de turma na faculdade, veio de lá para dizer que não conhecia o verbo. Os dicionários da redação ficavam no vestíbulo de acesso às salas dos diretores do jornal. Não existiam dicionários eletrônicos, computadores, máquinas elétricas: foi no tempo de antigamente.

Partimos, copidesque e repórter, em direitura do hall dos dicionários, que nada tinha de hall da fama, quando encontramos com um dos diretores, o dr. Rogério Marinho, saudoso amigo que nos deixou há dois anos. No dia do dicionário tinha 47 anos e gostava de andar a cavalo. Sempre foi meu amigo. Mesmo depois que saí do jornal, a pedido, para morar na roça, ele me telefonava para conversar sobre dendrologia, bovinos e cavalos, ou para saber os nomes científicos das plantas, que andei estudando feito um bobo durante anos.

Ao nos encontrar mexendo nos dicionários, perguntou: “O que é que vocês estão procurando?”. Explicamos: “Conjumina”. E ele: “Vocês são todos umas bestas: o verbo é congeminar”. Bestas no bom sentido, naturalmente.

Cansaço

Noite admirável, nove horas de sono: café tomado, charuto aceso, temos o philosopho a trabalhar. As coisas correm muitíssimo bem, textos revistos e enfeixados em tiros e quedas, novos textos escritos, e-mails respondidos ou repassados, a impressão que tenho é a de que o cavalheiro pode prosseguir durante 10 horas na mesma toada.

Contudo, ao cabo de três horas e meia em que o trabalho fluía azeitado, trombo no primeiro erro. Em vez de escrever Tiro & Queda escrevo tiro e dou um espaço sem saber como prosseguir. Epa, que é o cansaço pintando no pedaço neuronal. Hora de dar um descanso à cuca. Vou à tevê e volto daqui a pouco para continuar philosophando sobre o palpitante assunto. Fui.

Voltei! Para variar, a televisão estava uma porcaria. Escrevo domingo, dia em que 30 canais exibem 50 manhãs sertanejas, noves fora os 30 canais religiosos, que atingem a perfeição transmitindo religião sertaneja. E dizer que pago 100 reais por mês para receber essa porcariada.

O tema desta nossa conversa matinal é o cansaço, de cansar + -aço, em que o sinal de menos, antes do aço, dá ideia do quadro. Não resisto à tentação de mostrar a sinonímia de cansaço: afronta, cansadez, canseira, canso, descaimento, esfalfamento, esgotamento, estafa, exaustão, extenuação, fadiga, fraqueza, lassidão, moedeira, moimento, ofego, prostração.

Sei que a idade influi, e muito, no ofego, na cansadez, no moimento. Sujeitos mais novos, desde que dirijam bem, tiram de letra etapas de mil quilômetros ou mais. Com o passar dos anos, trechos de 400 quilômetros exaurem o marquês.

Daí a pergunta que lhes faço: aquele piloto da TAP que bateu com a ponta da asa do seu Airbus numa torre de iluminação do aeroporto de Brasília, se descansado teria batido? O comandante trazia 10 horas de pilotagem no fio do lombo e ainda foi mal orientado pelo pessoal da torre. Se descansado, respeitaria a orientação?

Operadoras

Leitor amigo escreve que também é vítima das operadoras de marketing. Uma delas, depois de mil perguntas, quis saber: “Sexo?”. E ele, que se chama João, nome improvável nos outros sexos que não o masculino, respondeu: “De vez em quando”. Diz que a moça caiu na gargalhada. Melhor assim.

Mudando de um polo ao outro, que este suelto está muito pequeno, como será que as operadoras de telemarketing fazem um negócio chamado cocô? Houaiss diz que a etimologia do substantivo malcheiroso é de origem controversa; Aulete/digital concorda com o diplomata carioca, filho de libaneses, e Aurélio fica mudo.
Sendo assim, compete ao philosopho philosophar: cocô resulta do fato de a humanidade, desde sempre, obrar de cócoras. Ainda aí, Houaiss diz que o substantivo feminino plural cócoras é de etimologia obscura, de origem controversa. Não discuto, como também é indiscutível o fato de ser a aquela, por excelência, a posição lógica e fisiológica.

O mundo é uma bola
31 de maio de 1223: os generais Subedei e Jebe Noyon, comandando exército mongol, vencem os exércitos de vários principados russos na Batalha do Rio Kalka. Em 1850, fundação de Juiz de Fora, cidade mineira habitada por gente ilustríssima, como, por exemplo, Heinrich Wilhelm Theophilo Halfeld, militar e engenheiro alemão, que chegou ao Brasil em 1825 e traçou a avenida juiz-forana onde mora ilustre philosopho.

Em 1910, independência da União Sul-Africana, atual África do Sul. Em 2003, último voo do Concorde da Air France. Em 2009, o Airbus A-330, do voo Air France 447, trecho Rio de Janeiro-Paris, cai no Oceano Atlântico com 258 pessoas entre passageiros e tripulantes.

Em 1469 nasce dom Manuel I, rei de Portugal, dinasta de Avis, que oficializou o descobrimento de um país grande e bobo. Em 1491 nasce Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus.

Hoje é o Dia da Aeromoça e o Dia da Juventude Luterana no Brasil.

Ruminanças

 “Marx roubou-nos a vida eterna, a minha e a do Otto Lara Resende. Pois exigimos que ele nos devolva a nossa alma imortal.” (Nelson Rodrigues, 1912–1980)

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