Fedra e Hipólito, ópera de Christopher
Park, tem estreia mundial dia 15, no Palácio das Artes. A montagem
dirigida por Fernando Bicudo mescla a tradição do enredo com alta
tecnologia
Sérgio Rodrigo Reis
Estado de Minas: 31/05/2013
Sedução, amor e traição. O americano
Christopher Park se inspirou em sentimentos universais para criar a
ambientação da ópera Fedra e Hipólito, cuja estreia está prevista para
dia 15, no Grande Teatro do Palácio das Artes, em Belo Horizonte. A
história se passa em tempos remotos. Afrodite, como vingança por
Hipólito não ter a mesma devoção por Ártemis, provoca em Fedra uma
paixão impossível por seu enteado. Para levar ao público a narrativa,
nunca antes apresentada, um batalhão de artistas, técnicos, cenógrafos e
figurinistas corre contra o tempo nos bastidores.
Com prólogo e
dois atos, o espetáculo tem duas horas e meia de duração. Música,
libreto e direção musical são assinados pelo compositor Christopher
Park. A direção artística e cênica é de Fernando Bicudo. A equipe de
produção se completa com Lúcia Tristão, que cuidará da direção geral da
ópera, cujos dois elencos reúnem as sopranos Leila Guimarães e Rita
Medeiros (Fedra) e os tenores Max Wilson e Anibal Mancini (Hipólito). Os
demais personagens serão interpretados por Leonardo Páscoa, Fabrízio
Claussen, Malena Dayen, Luisa Francesconi, Juliana Franco, Nívea Raf,
André Fernando, Cristiano Rocha e Lilian Assumpção.
A Orquestra
Sinfônica e o Coral Lírico de Minas Gerais, além da Sesc Cia. de Dança –
em sua estreia nos palcos –, são os corpos artísticos que participam da
montagem, baseada na tragédia universal Hippolytus, do dramaturgo e
poeta grego Eurípides (480 a. C.). Em outubro de 2009, Christopher Park –
autor do libreto – fez uma leitura musical da obra no Mannes College of
Music, em Nova York. Na plateia estavam Lúcia Tristão e o maestro
mineiro Luiz Aguiar. Ambos se encantaram com a apresentação. Desde
então, têm feito de tudo para montar o trabalho no Brasil.
A
missão de levar algo novo para a cena é desafiadora. “Trazer a novidade é
sempre algo sensacional. Não tenho nenhum medo de dar um salto no
escuro. Quem tem medo não sai do lugar”, avisa Fernando Bicudo, que se
apaixonou pelo projeto, pela música, libreto e os trágicos triângulos
amorosos. Bicudo se cercou de profissionais nos quais confia para levar
adiante o projeto, como o cenógrafo Hélio Eichbauer, o iluminador Maneco
Quinderé e os responsáveis pelos efeitos especiais, Fábio Passos e Fred
Tolipan. A equipe se completa com Karema Deodato (figurinos) e
Alexander Filipov (coreografia).
A opção da direção cênica foi
aliar a tradição grega à modernidade, distanciando-se das óperas
convencionais a partir de diálogos com a tecnologia de ponta utilizada
na cenografia e a ambientação cênica. “Temos disponibilidade de recursos
tecnológicos fantásticos.” A expectativa é que os recursos do cinema e
da computação gráfica consigam unir todas as demais artes, algo da
essência da ópera.
A iluminação é outra aposta. Será pontuada
apenas com refletores varylights, com amplas possibilidades de efeitos.
Recursos multimídia em computação gráfica e projeções em telão darão
vida às 14 cenas de Fedra e Hipólito.
A ambientação cênica é
composta de base cenográfica formada de vários planos, totalmente
revestidos em material decoflex branco, cor característica da Grécia,
que servirá de base para a composição das cenas, dispostas em quatros
níveis de ação, com plataformas e escadarias. Eles aparecerão e
desaparecerão a cada cena criada pelos artistas Fred Tolipan e Fábio
Passos. O clima se completa com a presença constante do icosaedro, uma
das cinco únicas formas perfeitas da geometria. Estudada por Pitágoras e
Platão, é formada por 20 triângulos equiláteros que aparecerão girando
no espaço.
A história
Hipólito, filho do
rei Teseu, enfurece Afrodite, a deusa do amor, ajudando Ártemis, a deusa
da castidade. Como punição, Afrodite faz com que a rainha Fedra,
madrasta de Hipólito, o desejasse. Fedra, envergonhada por seus
sentimentos, desabafa com sua aia, que logo em seguida a trai, contando
seu segredo para Hipólito. Para proteger sua reputação, Fedra decide
tirar a própria vida, mas antes deixa uma carta acusando Hipólito de
violentá-la. Ao retornar, Teseu descobre que a esposa havia morrido.
Ávido para saber a causa dessa morte, exige que familiares revelem a
verdade da falsa carta que Fedra deixou.
Três perguntas para...
Fernando Bicudo
diretor de ópera
Como você avalia a ópera na atualidade?
Ópera
é um espetáculo complexo. Abraça todas as formas de expressão
artística, da música, teatro, dança, artes plásticas e da iluminação.
Como estou criando, por que não pensar em algo revolucionário? Não vejo
ópera como algo tradicional. Mas como uma coisa de qualidade e
vanguarda. Estamos fazendo uma encenação atemporal, com várias dimensões
de ação, da dança, do canto e da música. Não queremos simplesmente
mostrar um texto, mas fazer com que as pessoas fiquem atentas ao que
acontece e sonhem.
Que questões a sua concepção dessa ópera incita?
A
força da paixão, o ciúme... Está tudo num plano só e misturado.
Trabalhamos com extremos de paixão, ódio e triangulações fortes. Não só o
que seriam supostamente representações dos deuses. Há neste espetáculo
uma triangulação de grandes sentimentos e conflitos, intensa desde o
primeiro instante. Ela já arrebata você pela força das composições desde
a ária de Afrodite, no prólogo.
Quais as contribuições da tecnologia para esta versão de Fedra e Hipólito?
É
tudo tudo novo, pelo fato de ser uma estreia mundial. Não temos nenhuma
referência, a não ser a nossa própria imaginação. Durante toda a
apresentação, o público verá projeções em quatro superfícies diferentes,
a partir de vídeos inventados por designers pioneiros em cenografia
virtual no Brasil. Eles farão isso a partir de meu storyboard. Minha
estreia na direção de ópera se deu em 1984, com Orfeu e Eurídice, no
Theatro Municipal do Rio. Foi a primeira vez que se utilizou o raio
laser. Foi um impacto.
Fedra e Hipólito
Ópera
de Christopher Park. Récitas em 15, 18, 20 e 21 de junho, às 20h30, e
no dia 16, às 19h, no Grande Teatro do Palácio das Artes, Avenida Afonso
Pena, 1.537, Centro. Com solistas convidados, Orquestra Sinfônica e
Coral Lírico de Minas Gerais, além de bailarinos da Sesc Cia. de Dança.
Ingressos: R$ 60 (inteira). Informações: (31) 3236-7400.
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