segunda-feira, 20 de maio de 2013

Eduardo Almeida Reis - Saudosismo‏

Nas muitas roças em que vivi, as casas tinham portas sem fechaduras: bastava empurrar para entrar 


Estado de Minas: 20/05/2013 


Tenho visto nos jornais, na televisão e nas rádios uma porção de gente dizendo que o tempo bom de viver é o atual, de mesmo passo em que os saudosistas somos criticados quando nos referimos aos bons tempos sempre que falamos do passado.

Não creio que sejamos injustos com o século atual, porque nos referimos, antes e acima de tudo, à idade que tínhamos nos “bons tempos”. A medicina evoluiu tremendamente, é certo, mas todos os que ainda estamos por aqui sobrevivemos com a medicina daqueles idos. Hoje temos computadores, mas vivíamos perfeitamente sem eles. As telecomunicações atuais nada têm que se pareça com as de 40 anos atrás: tudo bem. Mas cabe a pergunta: para quê? Ganhamos alguma coisa com isso?

Se é para acompanhar nossos filhos, saber onde estão e o que estão fazendo, seja dito que naquele tempo ninguém acompanhava os filhos, que voltavam para casa sem correr a milionésima parte dos riscos de hoje. Rapazes e moças de antanho transavam nos carros, à noite, em Ipanema, bastando para tanto escolher um ponto menos iluminado das ruas do bairro. O risco era passar um gaiato e soltar uma piada, que minha pudicícia não me deixa contar, mas consistia num verbo, que entrou em nosso idioma no século 15, etimologia provavelmente onomatopaica, seguido do nome “Aristeu”. Verbo que podia significar sugestão ou constatação daquilo que Aristeu deveria fazer ou estava fazendo no banco de trás do fusca.

Ninguém me contou: vivi esse tempo. Casas com muros baixos, portas abertas e luzes acesas até alta madrugada, sem câmeras e cercas elétricas na vizinhança de duas das maiores favelas do Rio: Catacumba e Praia do Pinto. Hoje, com esta parafernália de segurança, prédios inteiros são assaltados. E o neto do vice-governador de São Paulo só escapou porque a motorista, filha do vice dublê de ministro, dirigia um carro blindado.

Morria-se, é certo, de doenças que hoje não matam. Em contrapartida, morre-se hoje de milhares de coisas que não existiam nas cidades grandes. Na roça a tranquilidade era parecida. Só fui conhecer guarda noturno armado quando visitei bela fazenda que pertencera à senhora Maysa Figueira Monjardim, neta do barão de Monjardim, depois Maysa Matarazzo ou simplesmente Maysa, grande cantora. Fazenda que tinha café ensacado e armazenado num galpão muito grande, e as sacas de café sempre foram danadas para atrair ladrões.

Nas muitas roças em que vivi, as casas tinham portas sem fechaduras: bastava empurrar para entrar. Não havia notícia de assaltos às fazendas nas décadas de 1950, 1960, 1970 e 1980. Hoje, quase no país inteiro, a insegurança rural é assustadora.

Banda larga
Dizem que a 4G vem aí. Já chegou a Búzios e, dizem, a Belo Horizonte, meio caminho andado para abranger os 8,5 milhões de quilômetros quadrados do Piscinão de Ramos. Jejuno em bandas que não sejam de roqueiros, que sou obrigado a ver quando zapeio o televisor, me pergunto que diabo será 4G.

Gê de gabarola, gabão e gabador não deve ser, nem de geada, incomum no Brasil. Pode ser gê de gazopa, isto é, mentira, embuste ou trapaça, como também de gazua, saque, roubo, assuntos em que excelem os nativos do Piscinão.

De gestação, ato de gestar que se multiplica aos milhões, de ghost-writer, da giárdia que abunda por aí, de gigolô, do ginasta que se multiplica nas academias, dos ginecofóbicos, que desfilam pelas ruas sua repulsa ou medo doentio às mulheres, ou dos cada vez mais raros ginecômanos, que têm por elas forte entusiasmo.

Nessas horas vale pensar até no ponto G ou ponto de Gräfenberg, batizado em 1981 por Addiego et al. em homenagem ao ginecologista alemão Ernst Gräfenberg, o primeiro médico a aventar, em 1950, a hipótese da existência de tal ponto. Há controvérsias na área científica, como também na área tecnológica quando à disponibilidade da 4G antes de Copa.

O mundo é uma bola
Dia 20 de maio de 325: realiza-se o Primeiro Concílio de Niceia, reunindo bispos cristãos na cidade de Niceia da Bitínia, atual Íznik, Turquia. Iniciativa do imperador romano Constantino I, o concílio foi a primeira tentativa de obter o consenso da igreja através de uma assembleia representando toda a cristandade.

Diz a Wikipédia que o principal feito do Concílio de Niceia foi o estabelecimento da cristologia entre Jesus e Deus, o Pai, a construção da primeira parte do Credo Niceno, a fixação da data da Páscoa e a promulgação da lei canônica.

O economista Celso Roberto Pitta do Nascimento (1946-2009), que foi prefeito de São Paulo, levou muito a sério o concílio niceno, casou-se com a jovem Niceia e conheceu o inferno quando se divorciou depois de 30 anos de casamento.

Em 526, um terremoto matou cerca de 300 mil pessoas na Síria e na Antioquia, atual Antakya, província de Hatay, Sul da Turquia.

Em 1277, morreu João XXI, médico, filósofo, professor e matemático, o único papa português. Causa mortis: desmoronamento das paredes do quarto em que dormia.

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