Estado de Minas: 29/05/2013
O conhecimento sobre a história dos minoicos, civilização europeia mais antiga de que se tem notícias, é recente. Foi no começo dos anos 1900 que os estudos desse povo, que habitou a ilha de Creta há cerca de 3,5 mil anos, começaram. Aos poucos, novos estudos vão desfazendo algumas crenças sobre a cultura dos cretenses. É o que ocorre com relação à forma como eles lidavam com as guerras.
Por bastante tempo, perdurou a ideia de que os minoicos se envolviam em poucos conflitos. Contudo, uma pesquisa recente, conduzida pela Universidade de Sheffield, no Reino Unido, conclui que a população da ilha tinha uma forte tradição marcial. “O mundo deles foi descoberto apenas há um século e acreditou-se que eles eram uma sociedade amplamente pacífica. Com o tempo, muitos (historiadores) tornaram isso um paradigma de sociedade desprovida de guerra, em que soldados e violência não tinham espaço”, disse, em nota, Barry Molly, arqueólogo responsável pelo estudo. “Essa visão utópica não sobreviveu na escola moderna, mas continua a aparecer em textos atuais e, na cultura popular, surge com frequência surpreendente”, esclareceu.
Molly contou que, por ter trabalhado em escavações e outros projetos em Creta por muitos anos, ficou curioso para saber como uma sociedade tão complexa, que armazenava recursos e fazia comércio com reinos poderosos como o Egito, poderia ter evoluído em um contexto igualitário e cooperativo. “Podemos mesmo ser tão otimistas quanto à natureza humana? À medida que fui procurando por evidências de violência, guerreiros e guerras, rapidamente ficou óbvio que isso poderia ser encontrado em uma gama de locais.”
Baseada em estudos recentes sobre a guerra em sociedades pré-históricas, a pesquisa de Molly revela que batalhas eram, de fato, uma característica evidente da sociedade minoica. A bravura era uma das expressões mais fortes, na época, da identidade masculina. O arqueólogo descobriu que, para exibi-la publicamente, os habitantes de Creta domavam touros, faziam competições de boxe, caçavam, marcavam duelos… Na religião, na arte, na manufatura, na política, no comércio e no convívio social, as tradições marciais mostraram-se comprovadamente a espinha dorsal dos antigos cretenses.
Processo social Mesmo os famosos micenas – heróis da Guerra de Troia – absorveram a forma minoica de guerrear, adotando armamentos, práticas e ideologias. “De fato, é para Creta que devemos olhar quando buscamos a origem de artefatos bélicos que dominaram a Europa até a Idade Média, principalmente espadas, machados de metal, lanças e, provavelmente, armaduras”, escreveu Molly. O arqueólogo encontrou uma surpreendente quantidade de menções à violência na linguagem simbólica minoica e nos objetos pertencentes à Creta pré-histórica.
A linha de pesquisa de Molly investiga a guerra como um processo social, buscando mecanismos psicológicos e estruturais que facilitam a cultura bélica. Essa abordagem, segundo o arqueólogo, leva a um entendimento mais aprofundado da guerra na civilização minoica. “Os componentes sociais e institucionais da guerra impactaram nos padrões de estabelecimento na terra, na exploração do meio ambiente, na tecnologia, nas redes comerciais, nas práticas religiosas, na arte, na administração e muito mais. Então a guerra era, indiretamente, um fator constante na construção da vida cotidiana em Creta. Entender os aspectos sociais da guerra ‘por trás da batalha’ é essencial se quisermos entender melhor como as elites manipularam a economia, a religião e a violência no controle de seus mundos.”
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