Critica - Drama
Recorrente em certo cinema brasileiro, discurso social volta com força; escolha de Brasília como cenário é acerto
Traficante ou não, chamará a atenção de uma garota rica e travará com um traficante playboy (branco e bem de vida) duelo pelo controle das drogas em um círculo e, ao mesmo tempo (ou sobretudo), pelas atenções da garota --o traficante playboy não se conforma que ela goste do menino pobre e preto.
O fato de o roteiro prender-se estritamente à música poderá, talvez, contentar os fãs de Renato Russo, mas tem o inconveniente de ser previsível demais.
Mesmo quem não tenha ouvido, jamais, a música sabe quais os próximos passos do filme: ele cumpre determinadas convenções à risca.
Assim, nos damos conta de que, entre o pobre e o rico, o negro e o branco, é sempre o primeiro que terá suas razões privilegiadas.
DESGASTES
Isso nos remete a um momento do cinema brasileiro (a ditadura e mesmo após o seu final, tudo que antecede, a rigor, "Cidade de Deus") em que a preocupação social era central. Não é que essas preocupações tenham se tornado caducas: é que ficaram desgastadas pelo uso.Ao relançá-las, "Faroeste" busca Brasília como cenário, e esse é provavelmente o seu maior acerto. Primeiro, porque esse faroeste metafórico nos remeterá em linha reta ao bangue-bangue nacional, que tem naquela cidade a sua capital.
Segundo, porque carrega a indagação sobre o que é, afinal, Brasília. Que cidade misteriosa é essa onde tudo parece vir do exterior? Ou que, reformulando, parece não ter existência própria senão como lugar vazio?
Brasília: capital do país (Plano Piloto) e terra de ninguém (cidades-satélites): dois mundos que se comunicam por intermédio das drogas, que promovem certa igualdade nesse terreno de desigualdades.
Ali, pretos e brancos, pobres e ricos coabitam. Esse olhar sobre a cidade é que fornece o material mais interessante a um filme que aparece sob certo aspecto atrelado demais ao momento da música (entre os anos 1970 e 1980).
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