Ana Clara Brant
Estado de Minas: 29/05/2013
Nas famílias de
palhaços circenses, quando nascia uma filha isso era considerado uma
verdadeira tragédia. Tudo porque o ofício sempre foi passado de geração
em geração e, se não viesse um herdeiro, significava que o legado não
seria transmitido. “Era motivo de choro mesmo, porque os números do
picadeiro eram ensinados aos filhos. Mulher não tinha vez na palhaçaria.
Mas hoje isso está mudando e estamos invadindo o mercado”, avisa a
atriz Gyuliana Duarte, que há 14 anos dá vida à palhaça Xuleta.
Boa parte dessas artistas não é proveniente da lona, como no caso dos homens, mas sim das escolas de circo e do teatro. E o mais curioso é que hoje a mulherada está conquistando tanto espaço que existem festivais só de palhaças e cada vez mais elas encenam espetáculos solos, como lembra a atriz Adriana Morales, do Grupo Trampulim, que interpreta a palhaça Benedita Jacarandá.
Ela conta como foi sua descoberta e seu encantamento por essa profissão e acredita que o fato de o palhaço ser um personagem curinga, que se permite fazer de tudo um pouco, é um dos seus pontos fortes. “O palhaço tem muitas cartas na manga. Com ele posso executar um número aéreo, de malabares, de acrobacia e ainda fazer as pessoas rirem. Só ele dá essa liberdade de ir para todos os lados e brincar com tudo. Sem falar que consigo trabalhar com vários temas. Posso falar bobagem, ser mais político, mais romântico. O palhaço é um repórter da praça pública, ele dá notícia de tudo utilizando a ferramenta do riso”, destaca Adriana.
Assim como ela, outras atrizes perceberam que esse filão pode ser um bom negócio, como Janaína Morse. Formada em teatro pelo Centro de Formação Artística do Palácio das Artes, se encantou com o universo clown durante uma oficina. Foi ali que nasceu Brisa, a simpática palhacinha. O nome curioso surgiu a partir de uma atividade em que ela tinha que interpretar uma jabuticaba. “Como sou uma pessoa mais gordinha e pesada e estava toda de preto, escolhi essa fruta. E eu tinha que fazer a jabuticaba caindo do pé. Toda vez que o professor pedia para eu cair leve, caía mais pesado. E isso provocava risada. Aí ele pediu: ‘Cai como uma brisa, uma brisa’. E aí pegou, porque é algo contraditório, já que sou mais cheinha”, recorda Janaína.
A artista confessa que ela mesma tinha um certo preconceito com relação à profissão e que acabou pagando língua. “Achava que palhaço era algo menor, meio marginal. E quando entrei de cabeça e conheci essa arte, vi que não é nada disso. E hoje brinco que vivo de Brisa, já que é com a minha personagem que ganho a vida”, salienta.
Doutoras Outra que comenta sobre a imagem errônea da palhaça é Gyuliana Duarte, que não se esquece do dia em que contou para a mãe sobre o caminho que ia seguir. Ela acredita que ainda há pessoas que veem o ofício como um mero animador e que até se espantam quando explica que para ser palhaço é necessário muito estudo e pesquisa. “Lembro-me que quando me formei em artes cênicas na Unirio minha mãe disse: ‘Minha filha, você foi para o Rio de Janeiro, se formou e vai se tornar palhaça?’. Mas depois que ela conheceu a fundo meu trabalho, e viu o quanto ele exige de dedicação e estudo, mudou de opinião e é a minha maior fã. Apesar de parecer uma brincadeira, ser palhaço é coisa séria, é uma profissão como outra qualquer”, acrescenta.
A criadora da simpática Xuleta não se imagina fazendo outra coisa e conta que desde que colocou o nariz vermelho sua vida mudou. “O palhaço encanta porque ele é verdadeiro, autêntico, lida com o real, com o improviso. Falo que a melhor descoberta na faculdade foi o palhaço. Apaixonei-me e não tem jeito”, comenta Gyuliana, que é fundadora e coordenadora artística do Instituto Hahaha, ONG de BH que nasceu dentro do Doutores da Alegria com o objetivo de levar saúde e alegria a hospitais, empresas e outros ambientes.
Quem também tem sua origem no Doutores da Alegria, entidade que tem como missão promover a experiência da alegria na adversidade por meio da arte do palhaço, é a atriz paulista Lu Lopes. Desde criança, ela sempre quis ser atriz, mas não passava pela cabeça que fosse na palhaçaria que iria se realizar. Intérprete de Rubra, Lu revela que ainda há um estranhamento com relação à profissão, mas que o crescimento no número de festivais dedicados ao assunto, não só no Brasil como no exterior, vem melhorando a imagem do clown. “É uma arte que sempre existiu, mas de uns 20 anos para cá, especialmente entre o sexo feminino, está bombando. O fato de ter esse caminho muito livre, de desenvolver um trabalho mais autoral e autônomo, atraiu muitas mulheres. No meu caso, o que mais me fascina é justamente a autonomia criativa. Posso falar o que quiser, com amor, e ainda atingir milhares de pessoas”, declara.
Lu conta que há quem torça o nariz quando fala em que trabalha e brinca que a hora mais complicada de ser palhaça é quando vai comprar no crediário. “É interessante isso, porque o que faço é uma das profissões mais antigas do mundo. Ficou um tempo esquecida, desvalorizada, mas percebo que aos poucos estão reconhecendo e vendo o palhaço como uma figura social, política e uma figura humana importante. E é assim que tem que ser”, defende.
Boa parte dessas artistas não é proveniente da lona, como no caso dos homens, mas sim das escolas de circo e do teatro. E o mais curioso é que hoje a mulherada está conquistando tanto espaço que existem festivais só de palhaças e cada vez mais elas encenam espetáculos solos, como lembra a atriz Adriana Morales, do Grupo Trampulim, que interpreta a palhaça Benedita Jacarandá.
Ela conta como foi sua descoberta e seu encantamento por essa profissão e acredita que o fato de o palhaço ser um personagem curinga, que se permite fazer de tudo um pouco, é um dos seus pontos fortes. “O palhaço tem muitas cartas na manga. Com ele posso executar um número aéreo, de malabares, de acrobacia e ainda fazer as pessoas rirem. Só ele dá essa liberdade de ir para todos os lados e brincar com tudo. Sem falar que consigo trabalhar com vários temas. Posso falar bobagem, ser mais político, mais romântico. O palhaço é um repórter da praça pública, ele dá notícia de tudo utilizando a ferramenta do riso”, destaca Adriana.
Assim como ela, outras atrizes perceberam que esse filão pode ser um bom negócio, como Janaína Morse. Formada em teatro pelo Centro de Formação Artística do Palácio das Artes, se encantou com o universo clown durante uma oficina. Foi ali que nasceu Brisa, a simpática palhacinha. O nome curioso surgiu a partir de uma atividade em que ela tinha que interpretar uma jabuticaba. “Como sou uma pessoa mais gordinha e pesada e estava toda de preto, escolhi essa fruta. E eu tinha que fazer a jabuticaba caindo do pé. Toda vez que o professor pedia para eu cair leve, caía mais pesado. E isso provocava risada. Aí ele pediu: ‘Cai como uma brisa, uma brisa’. E aí pegou, porque é algo contraditório, já que sou mais cheinha”, recorda Janaína.
A artista confessa que ela mesma tinha um certo preconceito com relação à profissão e que acabou pagando língua. “Achava que palhaço era algo menor, meio marginal. E quando entrei de cabeça e conheci essa arte, vi que não é nada disso. E hoje brinco que vivo de Brisa, já que é com a minha personagem que ganho a vida”, salienta.
Doutoras Outra que comenta sobre a imagem errônea da palhaça é Gyuliana Duarte, que não se esquece do dia em que contou para a mãe sobre o caminho que ia seguir. Ela acredita que ainda há pessoas que veem o ofício como um mero animador e que até se espantam quando explica que para ser palhaço é necessário muito estudo e pesquisa. “Lembro-me que quando me formei em artes cênicas na Unirio minha mãe disse: ‘Minha filha, você foi para o Rio de Janeiro, se formou e vai se tornar palhaça?’. Mas depois que ela conheceu a fundo meu trabalho, e viu o quanto ele exige de dedicação e estudo, mudou de opinião e é a minha maior fã. Apesar de parecer uma brincadeira, ser palhaço é coisa séria, é uma profissão como outra qualquer”, acrescenta.
A criadora da simpática Xuleta não se imagina fazendo outra coisa e conta que desde que colocou o nariz vermelho sua vida mudou. “O palhaço encanta porque ele é verdadeiro, autêntico, lida com o real, com o improviso. Falo que a melhor descoberta na faculdade foi o palhaço. Apaixonei-me e não tem jeito”, comenta Gyuliana, que é fundadora e coordenadora artística do Instituto Hahaha, ONG de BH que nasceu dentro do Doutores da Alegria com o objetivo de levar saúde e alegria a hospitais, empresas e outros ambientes.
Quem também tem sua origem no Doutores da Alegria, entidade que tem como missão promover a experiência da alegria na adversidade por meio da arte do palhaço, é a atriz paulista Lu Lopes. Desde criança, ela sempre quis ser atriz, mas não passava pela cabeça que fosse na palhaçaria que iria se realizar. Intérprete de Rubra, Lu revela que ainda há um estranhamento com relação à profissão, mas que o crescimento no número de festivais dedicados ao assunto, não só no Brasil como no exterior, vem melhorando a imagem do clown. “É uma arte que sempre existiu, mas de uns 20 anos para cá, especialmente entre o sexo feminino, está bombando. O fato de ter esse caminho muito livre, de desenvolver um trabalho mais autoral e autônomo, atraiu muitas mulheres. No meu caso, o que mais me fascina é justamente a autonomia criativa. Posso falar o que quiser, com amor, e ainda atingir milhares de pessoas”, declara.
Lu conta que há quem torça o nariz quando fala em que trabalha e brinca que a hora mais complicada de ser palhaça é quando vai comprar no crediário. “É interessante isso, porque o que faço é uma das profissões mais antigas do mundo. Ficou um tempo esquecida, desvalorizada, mas percebo que aos poucos estão reconhecendo e vendo o palhaço como uma figura social, política e uma figura humana importante. E é assim que tem que ser”, defende.
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