Estado de Minas: 25/06/2013
Sob o impacto do
emocionante e conturbado momento que o Brasil vive nas ruas, não me sai
da cabeça um romance brasileiro que li há poucos anos e muito me
impressionou: Passageiro do fim do dia, de Rubens Figueiredo. Foi dele
que me lembrei assim que foram deflagradas as primeiras manifestações
contra os preços dos ônibus e a péssima qualidade dos serviços públicos
do país, as quais logo se desdobraram num variadíssimo leque de causas e
insatisfações.
O livro tem como eixo uma viagem de ônibus do Centro de uma grande cidade até um bairro da periferia, no fim da tarde de uma sexta-feira de calor. Quem faz o trajeto é o jovem Pedro, que, após sair do trabalho, vai passar o fim de semana na casa da namorada, Rosane. Ela mora longe, num aglomerado de casas precariamente construídas em lotes dados de pelo governo. O ônibus, como sempre, demora para passar no ponto. E as pessoas, como sempre, se irritam com o atraso por estar exaustas, doidas para chegar em casa. Pedro, por sua vez, tenta manter-se calmo, por entender que o atraso já faz parte da rotina e que não adianta se irritar.
Quando, enfim, o ônibus aparece e o rapaz tem a sorte de encontrar um assento vago (outros passageiros tiveram que se espalhar de pé em duas filas pelo corredor), inicia-se a longa viagem pelas ruas engarrafadas da cidade. Freadas bruscas, trancos, barulhos insuportáveis do motor, empurra-empurra e cotoveladas das pessoas que continuam a entrar no ônibus a cada ponto, tudo contribui para que a situação dos passageiros se torne mais e mais infernal. Em meio ao desconforto, Pedro tenta ouvir um radinho de pilha, e o que lhe chega aos ouvidos é a cotação do dólar e do euro, seguida das variações da bolsa de valores em Londres e Nova York. Sabendo que o ônibus não vai chegar tão cedo, tenta, então, ler um livro. Mas não consegue se concentrar, já que um turbilhão de ideias, imagens e lembranças lhe vem à cabeça, ao mesmo tempo em que é puxado a toda hora para o aqui-agora do ônibus.
Acompanhamos, pela leitura, não só o trajeto aflitivo dos passageiros, como também tudo o que se passa na cabeça do rapaz. Dessa forma, temos acesso a detalhes de sua vida e a da namorada, bem como nos inteiramos das agruras de uma população diariamente humilhada e que ainda tem que pagar por isso.
Não é preciso pegar ônibus todo dia para entender o drama do livro e, por extensão, os primeiros protestos realizados no Brasil contra o preço do transporte e a má qualidade dos serviços públicos. Basta entrar na pele do outro e imaginar como ele se sente ao tomar um ônibus desses quatro vezes por dia. Por que, em vez de despejar carros e mais carros novos nas ruas, os governos (em todas as suas instâncias, federal, estadual e municipal) não investem num transporte público digno e em outros serviços de qualidade para a população? Mesmo quem só anda de carro já não aguenta mais o caos do trânsito. E para quem vive numa cidade como Belo Horizonte, nem metrô existe de fato. Se houvesse um bom serviço de transporte, não seriam poucos os donos de carro que o usariam.
Essas são apenas algumas das muitas reflexões que o primoroso livro de Rubens Figueiredo é capaz de provocar em quem o lê. E o Brasil que está dentro dele foi certamente um dos estopins para o que se vê, hoje, nas ruas.
O livro tem como eixo uma viagem de ônibus do Centro de uma grande cidade até um bairro da periferia, no fim da tarde de uma sexta-feira de calor. Quem faz o trajeto é o jovem Pedro, que, após sair do trabalho, vai passar o fim de semana na casa da namorada, Rosane. Ela mora longe, num aglomerado de casas precariamente construídas em lotes dados de pelo governo. O ônibus, como sempre, demora para passar no ponto. E as pessoas, como sempre, se irritam com o atraso por estar exaustas, doidas para chegar em casa. Pedro, por sua vez, tenta manter-se calmo, por entender que o atraso já faz parte da rotina e que não adianta se irritar.
Quando, enfim, o ônibus aparece e o rapaz tem a sorte de encontrar um assento vago (outros passageiros tiveram que se espalhar de pé em duas filas pelo corredor), inicia-se a longa viagem pelas ruas engarrafadas da cidade. Freadas bruscas, trancos, barulhos insuportáveis do motor, empurra-empurra e cotoveladas das pessoas que continuam a entrar no ônibus a cada ponto, tudo contribui para que a situação dos passageiros se torne mais e mais infernal. Em meio ao desconforto, Pedro tenta ouvir um radinho de pilha, e o que lhe chega aos ouvidos é a cotação do dólar e do euro, seguida das variações da bolsa de valores em Londres e Nova York. Sabendo que o ônibus não vai chegar tão cedo, tenta, então, ler um livro. Mas não consegue se concentrar, já que um turbilhão de ideias, imagens e lembranças lhe vem à cabeça, ao mesmo tempo em que é puxado a toda hora para o aqui-agora do ônibus.
Acompanhamos, pela leitura, não só o trajeto aflitivo dos passageiros, como também tudo o que se passa na cabeça do rapaz. Dessa forma, temos acesso a detalhes de sua vida e a da namorada, bem como nos inteiramos das agruras de uma população diariamente humilhada e que ainda tem que pagar por isso.
Não é preciso pegar ônibus todo dia para entender o drama do livro e, por extensão, os primeiros protestos realizados no Brasil contra o preço do transporte e a má qualidade dos serviços públicos. Basta entrar na pele do outro e imaginar como ele se sente ao tomar um ônibus desses quatro vezes por dia. Por que, em vez de despejar carros e mais carros novos nas ruas, os governos (em todas as suas instâncias, federal, estadual e municipal) não investem num transporte público digno e em outros serviços de qualidade para a população? Mesmo quem só anda de carro já não aguenta mais o caos do trânsito. E para quem vive numa cidade como Belo Horizonte, nem metrô existe de fato. Se houvesse um bom serviço de transporte, não seriam poucos os donos de carro que o usariam.
Essas são apenas algumas das muitas reflexões que o primoroso livro de Rubens Figueiredo é capaz de provocar em quem o lê. E o Brasil que está dentro dele foi certamente um dos estopins para o que se vê, hoje, nas ruas.
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