terça-feira, 25 de junho de 2013

MEMÓRIA » Gênio esquecido - Ailton Magioli

O fotógrafo Paulo Laborne luta por recursos para finalizar documentário sobre o pintor e escultor Lorenzato. Nascido em BH, o artista desenvolveu obra singular em Minas Gerais 


Ailton Magioli

Estado de Minas: 25/06/2013 

Fora Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730 – 1814), Amadeo Luciano Lorenzato (1900 –1995) é o maior artista nascido em Minas Gerais. A afirmação é do fotógrafo e cineasta Paulo Laborne, de 56 anos, que busca patrocínio para concluir documentário sobre o pintor e escultor belo-horizontino. Apesar de solenemente ignorado, sua obra é admirada por críticos e disputada por colecionadores.

Quando tinha apenas 15 anos, Laborne conheceu Amadeo Lorenzato. Os dois se tornaram amigos e o jovem frequentava a casa do artista, que sobrevivia como pintor de paredes. Proprietário de cerca de 40 quadros de variadas fases de Lorenzato, o fotógrafo explica que, por meio de seu filme – que pode se chamar Fui fogo depois de ser cinza ou A cor do meu destino –, pretende discutir o próprio conceito de arte. “Afinal, enquanto muita gente com obra menos expressiva é conhecida, ele, uma pessoa genial, com história de vida incrível, continua ignorado”, justifica.

“Gostaria que se valorizasse a pessoa de Lorenzato, com aquela qualidade de alma e de expressão”, reforça Paulo Laborne. O fotógrafo-cineasta admira a ausência de mágoa do pintor diante do fato de não ser reconhecido publicamente. “As pessoas o classificam de naif ou primitivista, mas, na verdade, ele nunca foi isso. Lorenzato era autodidata que pintou quadros de qualidade e expressão inigualáveis”, diz.

O documentário começou a ser rodado na década de 1980. Mais envolvido com o cinema, que acabaria trocando posteriormente pela fotografia, Laborne filmou com recursos próprios. Registrou cerca de 50 minutos com o artista em película de 16 mm. As cenas mostram Lorenzato pintando; ao lado da mulher, Ema; andando pelas ruas de Belo Horizonte; e em sua casa, no Bairro Alto dos Pinheiros.

“Em nossa conversa de cerca de uma hora, ele contou a vida dele, o nascimento e o retorno da família para a Itália”, recorda Laborne. Apesar de conseguir aprovar o projeto em editais de leis de incentivo, o diretor ainda não conseguiu captar recursos para concluir o trabalho. Orçada em R$ 70 mil, a finalização está na lista do programa Filme em Minas, cujo resultado Paulo Laborne aguarda com ansiedade.

“Incrível, mas tudo que diz respeito a Lorenzato aqui em Minas Gerais é difícil”, lamenta o fotógrafo-cineasta. Para ele, o estado deveria dedicar um museu à obra do artista plástico. Apesar de ignorados, os trabalhos de Lorenzato vêm sendo, cada vez mais, procurados por colecionadores, de olho em seu potencial de mercado.

“Grandes colecionadores de Lorenzato deveriam ceder obras para o museu”, afirma Paulo Laborne. “Não estou preocupado com o mercado, gostaria apenas que se valorizasse a pessoa dele”, garante o fotógrafo. Além de quadros do artista, ele guarda todo o acervo fotográfico da viagem de Lorenzato à Itália, em 1928. São cerca de 30 fotos. “Ele me doou 100 fotos de família, os passaportes italiano e brasileiro, e o único quadro que pintou na Europa. Na verdade, trata-se do vestígio de um quadro pequeno com paisagem europeia”, revela Paulo Laborne.

Lorenzato gostava de dizer ao amigo que pintava o que via. Filho de imigrantes italianos, nasceu em BH e voltou jovem para a Europa, percorrendo vários países de bicicleta ao lado do amigo, o cartazista holandês Cornelius Keesman. Conviveu com ícones do modernismo e voltou a Minas Gerais com a esposa, Emma, e o filho. “Era necessário contar a história dele não como pintor, mas como pessoa. Embora conhecido de todos os artistas, que julgam sua obra original por não pertencer a igrejinhas, Lorenzato acabou construindo carreira solitária”, conclui Paulo Laborne.


Do desenho às câmeras

Depois de estrear como fotógrafo profissional aos 15 anos, Paulo Laborne (foto) estudou desenho na Escola de Belas-Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com os artistas José Alberto Nemer, Arlinda Moura Lima e Solange Botelho. De 1978 a 1982, ele fez o curta-metragem Nua em aquário, que lhe rendeu prêmio concedido pelo Modern America Institute, nos Estados Unidos. Com o dinheiro, filmou o curta O ego filha da égua, com o qual participou da Jornada de Cinema da Bahia. Posteriormente, rodou Zacarias, inspirado no livro O pirotécnico Zacarias, de Murilo Rubião, de quem era amigo. Na década de 1980, Laborne voltou à fotografia e agora retoma a carreira cinematográfica.

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