O fotógrafo Paulo Laborne luta por
recursos para finalizar documentário sobre o pintor e escultor
Lorenzato. Nascido em BH, o artista desenvolveu obra singular em Minas
Gerais
Ailton Magioli
Estado de Minas: 25/06/2013
Fora
Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730 – 1814), Amadeo Luciano
Lorenzato (1900 –1995) é o maior artista nascido em Minas Gerais. A
afirmação é do fotógrafo e cineasta Paulo Laborne, de 56 anos, que busca
patrocínio para concluir documentário sobre o pintor e escultor
belo-horizontino. Apesar de solenemente ignorado, sua obra é admirada
por críticos e disputada por colecionadores.
Quando tinha apenas
15 anos, Laborne conheceu Amadeo Lorenzato. Os dois se tornaram amigos e
o jovem frequentava a casa do artista, que sobrevivia como pintor de
paredes. Proprietário de cerca de 40 quadros de variadas fases de
Lorenzato, o fotógrafo explica que, por meio de seu filme – que pode se
chamar Fui fogo depois de ser cinza ou A cor do meu destino –, pretende
discutir o próprio conceito de arte. “Afinal, enquanto muita gente com
obra menos expressiva é conhecida, ele, uma pessoa genial, com história
de vida incrível, continua ignorado”, justifica.
“Gostaria que se
valorizasse a pessoa de Lorenzato, com aquela qualidade de alma e de
expressão”, reforça Paulo Laborne. O fotógrafo-cineasta admira a
ausência de mágoa do pintor diante do fato de não ser reconhecido
publicamente. “As pessoas o classificam de naif ou primitivista, mas, na
verdade, ele nunca foi isso. Lorenzato era autodidata que pintou
quadros de qualidade e expressão inigualáveis”, diz.
O
documentário começou a ser rodado na década de 1980. Mais envolvido com o
cinema, que acabaria trocando posteriormente pela fotografia, Laborne
filmou com recursos próprios. Registrou cerca de 50 minutos com o
artista em película de 16 mm. As cenas mostram Lorenzato pintando; ao
lado da mulher, Ema; andando pelas ruas de Belo Horizonte; e em sua
casa, no Bairro Alto dos Pinheiros.
“Em nossa conversa de cerca
de uma hora, ele contou a vida dele, o nascimento e o retorno da família
para a Itália”, recorda Laborne. Apesar de conseguir aprovar o projeto
em editais de leis de incentivo, o diretor ainda não conseguiu captar
recursos para concluir o trabalho. Orçada em R$ 70 mil, a finalização
está na lista do programa Filme em Minas, cujo resultado Paulo Laborne
aguarda com ansiedade.
“Incrível, mas tudo que diz respeito a
Lorenzato aqui em Minas Gerais é difícil”, lamenta o fotógrafo-cineasta.
Para ele, o estado deveria dedicar um museu à obra do artista plástico.
Apesar de ignorados, os trabalhos de Lorenzato vêm sendo, cada vez
mais, procurados por colecionadores, de olho em seu potencial de
mercado.
“Grandes colecionadores de Lorenzato deveriam ceder
obras para o museu”, afirma Paulo Laborne. “Não estou preocupado com o
mercado, gostaria apenas que se valorizasse a pessoa dele”, garante o
fotógrafo. Além de quadros do artista, ele guarda todo o acervo
fotográfico da viagem de Lorenzato à Itália, em 1928. São cerca de 30
fotos. “Ele me doou 100 fotos de família, os passaportes italiano e
brasileiro, e o único quadro que pintou na Europa. Na verdade, trata-se
do vestígio de um quadro pequeno com paisagem europeia”, revela Paulo
Laborne.
Lorenzato gostava de dizer ao amigo que pintava o que
via. Filho de imigrantes italianos, nasceu em BH e voltou jovem para a
Europa, percorrendo vários países de bicicleta ao lado do amigo, o
cartazista holandês Cornelius Keesman. Conviveu com ícones do modernismo
e voltou a Minas Gerais com a esposa, Emma, e o filho. “Era necessário
contar a história dele não como pintor, mas como pessoa. Embora
conhecido de todos os artistas, que julgam sua obra original por não
pertencer a igrejinhas, Lorenzato acabou construindo carreira
solitária”, conclui Paulo Laborne.
Do desenho às câmeras
Depois de estrear como fotógrafo profissional aos 15 anos, Paulo Laborne (foto)
estudou desenho na Escola de Belas-Artes da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) com os artistas José Alberto Nemer, Arlinda Moura
Lima e Solange Botelho. De 1978 a 1982, ele fez o curta-metragem Nua em
aquário, que lhe rendeu prêmio concedido pelo Modern America Institute,
nos Estados Unidos. Com o dinheiro, filmou o curta O ego filha da égua,
com o qual participou da Jornada de Cinema da Bahia. Posteriormente,
rodou Zacarias, inspirado no livro O pirotécnico Zacarias, de Murilo
Rubião, de quem era amigo. Na década de 1980, Laborne voltou à
fotografia e agora retoma a carreira cinematográfica.
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