ZERO HORA - 12/06/2013
Quando
era criança, assistia a filmes e novelas românticas e pensava: será que
um dia escutarei “eu te amo” de alguém? É bem verdade que ouvia todo
dia da minha mãe, mas não era do mesmo jeito que o Francisco Cuoco dizia
para a Regina Duarte. Eu sonhava com o “te amo” apaixonado, dito por um
homem lindo, e com a voz um pouco trêmula, para deixar sua emoção bem
evidente. Será que era invenção do cinema e da tevê, ou essas coisas
poderiam acontecer mesmo?
Passou o tempo. Cresci, ouvi e
retribuí. Clichê? Que seja, mas não há quem não se emocione ao escutar e
ao dizer, ao menos nas primeiras vezes, em pleno encantamento da
relação, quando a declaração ainda é fresca, pungente, verdadeira, a
confirmação de algo estupendo que se está experimentando, um sentimento
por fim alcançado e que se almeja eterno. Depois ele entra no circuito
automático, vira aquele “te amo” dito nos finais dos telefonemas, como
se fosse um “câmbio, desligo”.
O tempo seguiu passando, e me
encontro aqui, agora, descobrindo que há outro tipo de “te amo” a ser
escutado e falado, diferente dos que acontecem entre pais e filhos e
entre amantes. É quando o “te amo” não é dito a fim de firmar um
compromisso, para manter alguém a par das nossas intenções ou
experimentar uma cena de novela. Ele vem desvinculado de qualquer
mensagem nas entrelinhas, não possui nenhum caráter de amarração e
tampouco expectativa de ouvir de volta um “eu também”. É singular. Estou
falando do amor declarado não só quando amamos com romantismo, mas
também de outra forma.
Explico: tenho dito “te amo” para amigas e
amigos e escutado deles também. Uma declaração bissexual e polígama,
que resgata esse sentimento das garras da adequação. Volta a ser o amor
primitivo, verdadeiro, sem nenhuma simbologia, puro afeto real. Amor por
pessoas que não conheci ontem num bar, e sim por quem já tenho uma
história de vida compartilhada.
Amor manifestado espontaneamente
àqueles que não me exigem explicações, que apoiam minhas maluquices,
que fazem piada dos meus defeitos, que já tiveram acesso ao meu raio X
emocional e sabem exatamente o que levo dentro – e eu, da mesma forma,
tudo igual em relação a eles. Mais do que nos amamos – nos sabemos.
É
um “te amo” que cabe ser dito inclusive aos ex-amores, ao menos aos que
nos marcaram profundamente, aos que nos auxiliaram na composição do que
nos tornamos, e que mesmo nos tendo feito sofrer, foram fundamentais na
caminhada rumo ao que somos hoje. E indo perigosamente mais longe: esse
ex-amor pode ainda ser seu marido ou sua mulher, mesmo já não fazendo
seu coração saltar da boca. Pelo trajeto percorrido, e por ter alcançado
o posto de um amigo mais que especial, merece uma declaração igualmente
comovida.
É quando o “eu te amo” deixa de ser sedução para virar celebração.
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