quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Eduardo Almeida Reis-Condomínios‏

De repente, sem aviso prévio, o adjetivo estupendo renasceu das cinzas com força total 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 22/08/2013 

Com R$ 1 milhão você pode comprar boa casa no Condomínio Retiro do Chalé, município de Brumadinho, “à 15 minutos do BH Shopping”, mas é conveniente suprimir o sinal de crase que vê no anúncio da imobiliária. A partir do BH Shopping você está perto do Centro da capital de todos os mineiros, trecho que pode demorar de 15 minutos a duas horas, dependendo do trânsito.

Morei 16 anos em BH e não conheci o Chalé por falta de convites, mas tenho bons amigos donos de belas casas por lá. Cidadãos que andam às voltas a com a “Mineradora”, assim mesmo, tratada como Mineradora com M em caixa-alta, que estaria querendo triturar e exportar tudo aquilo para a China: minério, casas e moradores. Se duvidar, exporta até o sinal de crase em imensos navios graneleiros e teremos os chineses às voltas com a necessidade de crasear os seus ideogramas.

Venho sendo abastecido de notícias sobre o enfrentamento da Mineradora com alguns condôminos e não entendo absolutamente nada. Contudo, pelo tom das discussões, o negócio já passou do ponto de briga para entrar no terreno do risco de homicídios e batalhas, motivo pelo qual me permito pedir ao secretário Danilo de Castro, que já foi meu amigo, para dar um jeito de formar grupo de trabalho envolvendo polícia, Ministério Público, bombeiros e advogados, equipe capaz de dar um jeito naquilo que ameaça virar a Guerra do Brumadinho, com milhares de mortos e feridos.


Advogados
Como em qualquer profissão, existem advogados e advogados. Limito-me aos advogados de bancos, não todos, é verdade, mas uma boa parte deles. A ópera Rigoletto, de Verdi, tem uma ária em que o barítono se refere aos cortesãos de um jeito que se aplica a muitos advogados de bancos: “Cortigiani, vil razza dannata!”.

Pausa para explicar que tenho dezenas de óperas com os respectivos libretos, do italiano libretto “livrinho”, e sumiu o CD do Rigoletto. Mas tenho o abençoado Google com os livrinhos de todas as óperas. Parece que em alemão a frase fica assim: Felle Sklaven, ihr habt sie verhandelt!

Por que vil raça danada? Ora, porque devem receber dos bancos “por hora trabalhada” e entopem o Judiciário de ações em que as leis são inventadas por eles. Vejamos: o banco, defendido pelo escritório, perde na primeira instância, perde no Tribunal de Justiça, perde de novo em Brasília sempre por unanimidade, mas seu advogado não se acanha de voltar à primeira instância pleiteando algo que só existe na cabeça dele, advogado de banco.

Salvo melhor juízo, o profissional do escritório que faz isso deve ser cassado pelo banco e caçado pela polícia para ser posto na cadeia. Justiça é coisa séria, que não merece manipulação por escritório de bandidos organizados em quadrilha. Mas é como dizia meu saudoso amigo Fritz Underberg, suíço-alemão, banqueiro que montou fazenda leiteira nas Serras Fluminenses: “Na Brasil vale tudo”. Pois é: na Brasil, vale.


Renascimento
Entrou em nosso idioma no ano de 1572 e é puro latim: stupendus,a,um 'digno de admiração, que deve ser admirado', gerundivo de stupére 'estar admirado'. De repente, sem aviso prévio, o adjetivo estupendo renasceu das cinzas com força total. Significa “que causa assombro, admiração, admirável, maravilhoso, extraordinário, que causa espanto pela enormidade, colossal, monstruoso, descomunal”.

Andou fora de moda durante meio século. Tenho aqui um arquivo com 546.706 palavras reunindo alguns dos livros que publiquei. Acabo de procurar o adjetivo entre as centenas de milhares de palavras, graças ao assombroso “localizar” do Windows 7, e não achei um único estupendo.

Pois muito bem: só nos últimos 10 dias devo ter visto cinco estupendos em textos de escribas respeitados. Vai ver que um deles escreveu, foi lido e copiado pelos outros, que se lembraram da supimpitude do esquecido adjetivo. Parabéns para nosotros, como dizem os espanhóis: nosotros, tras. (De nos y otros). 1. pron. person. Formas de nominativo de 1ª persona plural en masculino y femenino. U. con preposición en los casos oblicuos. Por ficción, que el uso autoriza, algunos escritores se aplican el plural, diciendo nosotros, en vez de yo. Existe ainda a locução adverbial entre nosotros, confidencialidade entre o falante e o ouvinte, isto é, entre el hablante y el oyente.


O mundo é uma bola
22 de agosto de 1415: comandadas pelo rei dom João I, tropas portuguesas conquistam Ceuta, lá perto de onde o Atlético vai conquistar o Campeonato Mundial de Clubes. Em 1791 começa a rebelião de escravos no Haiti. Em 1864, criação da Cruz Vermelha Internacional. Em 1906 e por US$ 200 – há 107 anos uma fortuna! – foi vendida a primeira vitrola. Em 1942, o Brasil entra na Segunda Guerra Mundial. Em 2003, na Base de Lançamento de Alcântara, MA, explode o foguete brasileiro VLS-1 V3 matando 21 cientistas.

Em 1908 nasceu o francês Henri Cartier-Bresson, uma das glórias da fotografia mundial. Em 1976, morreu Juscelino Kubitschek de Oliveira.


Ruminanças
“Vais ver mulheres? Não esqueças o açoite” (Nietzsche, 1844-1900, muito antes da Lei Maria da Penha).

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