A solução da crise diplomática com a
Bolívia depende do destino que for dado ao refugiado senador Molina.
Afora a palavra do Conare, os dois países firmaram tratado de extradição
em 1942
Estado de Minas: 29/08/2013
A crise
diplomática com a Bolívia, detonada pela desastrada fuga do senador
Molina Pinto para o Brasil, com o auxílio de um trêfego diplomata
brasileiro, não se encerra com a substituição do ministro das Relações
Exteriores. Na primeira fala sobre o assunto, o presidente boliviano,
Evo Morales, pediu a devolução do senador. Circularam rumores de que a
presidente Dilma decidira por sua permanência no Brasil, mas essa não é
uma decisão unilateral dela. Na posse do novo chanceler, Luiz Alberto
Figueiredo, o embaixador da Bolívia no Brasil, Jerges Justiniano,
lembrava que Molina era asilado na embaixada. “Aqui, é apenas um
refugiado.” Isso é fato. Seu pedido de asilo terá que ser analisado pelo
Comitê Nacional para Refugiados, o Conare. Por fim, Brasil e Bolívia
têm um trato de extradição em vigor desde 1942.
O governo
boliviano, como fazia ontem seu embaixador, insistirá no fato de que não
há ditadura na Bolívia e que Molina não é um perseguido político. Os
processos a que ele responde na Justiça são por corrupção. O país em que
o Supremo Tribunal Federal (STF) dedica-se, há meses, a julgar um
escândalo de corrupção vai protegê-lo rasgando um acordo bilateral?
Para
alguns diplomatas, Morales, ontem, apenas declarou sua expectativa de
que o Brasil devolva Molina, mas, num segundo momento, deverá invocar o
acordo de extradição, por sinal, firmado por um dos grandes de nossa
diplomacia, Oswaldo Aranha. Tal como o caso Batisti, este poderá
terminar no STF, que se veria julgando algo parecido com uma eventual
concessão de asilo, por alguma embaixada, ao deputado Natan Donadon ou
algum réu do mensalão, que depois fugiria do Brasil com apoio de
diplomata da hipotética embaixada.
A resposta oficial à nota da
chancelaria boliviana será a primeira tarefa do novo chanceler
Figueiredo. Possivelmente, o Brasil dirá que o destino do refugiado será
decidido depois do exame do caso pelas instâncias pertinentes, como o
Conare, ganhando tempo para a decisão política – e isso vai demorar. A
decisão é política, pois, a esta altura, o episódio também já foi
tragado pelo campo magnético da disputa partidária.
No Congresso,
senadores e deputados da oposição continuaram ontem louvando a
iniciativa do embaixador Eduardo Saboia ao assumir o risco de dar fuga
ao asilado para lhe garantir a liberdade, mesmo sem consultar os
superiores. No Senado, silêncio absoluto sobre o papel do senador
Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações
Exteriores, ao buscar Molina em Corumbá em avião emprestado não se sabe
por quem. Ele mesmo declarou ter se articulado com o encarregado de
negócios Eduardo Saboia para a operação. Senadores da oposição já lhe
deram apoio, e seu partido, o PMDB, fechou questão em sua defesa.
Senadores do PT pensam em pedir esclarecimentos, mas a relação com o
PMDB anda por demais tensa para fazerem isso. Ao contrário do presidente
da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Nelson Pellegrino (PT-BA)
– que ontem foi à posse de Figueiredo e ao ato em que o ex-ministro
Patriota lhe transmitiu o cargo –, Ferraço desapareceu de cena. Que seus
pares não lhe cobrem o decoro, vá lá. Mas o silêncio é, no mínimo, uma
omissão institucional.
A guerra médica
O
governo e a presidente Dilma começam a ganhar a guerra da importação de
médicos. E, para isso, estão contando muito mais com os erros dos
adversários do programa, liderados pela corporação médica, do que pelos
resultados, que ainda levarão algumas semanas para aparecer.
Na
tarde de ontem, o senador petista e ex-ministro da Saúde Humberto Costa
(PE) fez um discurso que a oposição não contestou, afirmando que o
programa será vitorioso, já sendo apoiado pelas populações que serão
beneficiadas. Condenando o festival de xenofobia em relação aos médicos
cubanos, chamados de escravos por colegas brasileiros, recordou a
declaração da jornalista Micheline Borges nas redes sociais: “Me perdoem
se for preconceito, mas essas médicas cubanas têm uma cara de empregada
doméstica”. “Feliz será o dia”, disse Costa, “e eu tenho certeza de que
não vai demorar, em que a maioria dos médicos do nosso Brasil serão
filhos de empregadas domésticas, de pedreiros, filhos do povo. Aí, sim,
começará uma grande mudança social em nosso pais.” O ex-ministro
convidou seus colegas a baixar as armas e aceitar o debate sobre a MP no
Congresso.
O senador foi declarado “persona non grata” pelo CRM
de Pernambuco. O relator da MP do Programa Mais Médicos, deputado
Rogério Carvalho (PT-SE), recebeu ontem um telegrama do CRM de São Paulo
dando-lhe 30 dias para reassumir o posto de médico do estado, função da
qual está licenciado sem remuneração para exercer o mandato, como
garante a Constituição. “Estou indignado. Isso é retaliação, é
cerceamento do mandato popular”, protestou ele. Essas bobagens estão
contribuindo para isolar a classe médica e garantir apoio ao programa em
que Dilma apostou, e com o qual acabará resgatando mais pontos da
popularidade perdida.
Aécio na toca de Serra
Será
finalmente hoje o encontro do presidente e presidenciável do PSDB,
Aécio Neves, com os deputados estaduais paulistas. Na semana passada,
diante de ações atribuídas ao ex-governador José Serra para desarticular
o encontro, Aécio decidiu adiá-lo. Será sua incursão mais ousada à toca
do concorrente interno.
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