Desempenho do setor deve responder por 30,4% de toda a riqueza gerada no país em 2013,
segundo especialistas. Com alta no trimestre, mercado revê para cima projeção para o PIB
Diego Amorim, Pedro Rocha Franco
Estado de Minas: 03/09/2013
Brasília – A força
do agronegócio deve responder por quase um terço do crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) em 2013. O campo tem tudo para se firmar, em
ano de supersafra, como o principal responsável pelo avanço da economia
em meio a inflação e juros altos. Nas projeções do economista-chefe da
MB Associados, Sergio Vale, a atividade do país deve avançar 2,3%, sendo
que 0,7 ponto percentual será debitado na conta das colheitas recordes,
ou 30,4% de toda a riqueza que será gerada no país. A safra prevista
para este ano é de 186 milhões de toneladas. No segundo trimestre a
agropecuária já mostrou que tem fôlego para sustentar o crescimento
econômico este ano.
O setor fechou o período de abril a junho com
crescimento de 3,9% em relação ao primeiro trimestre e expansão de 13%
sobre o segundo trimestre de 2012. Já na comparação entre o primeiro
semestre de 2013 com igual período do ano passado, o resultado é ainda
mais expressivo, o melhor já registrado pela economia do campo. A alta
foi de 14,7%, a maior taxa já registrada pelo IBGE desde 1996. Na
sexta-feira, o resultado foi comemorado pelo ministro da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, Antônio Andrade. “Estamos vivenciando,
provavelmente, um dos melhores momentos da agropecuária do país. Com o
crescimento dos investimentos no campo – o que tem gerado maior
produtividade nas lavouras – e a abertura de novos mercados”, afirmou.
Se
toda a cadeia do setor agrícola for considerada — incluindo o
escoamento dos produtos e a compra de máquinas agrícolas — o peso
esperado na alta do PIB passa de 50%. Confirmada a expectativa, o campo
se tornaria o componente mais importante do crescimento econômico
brasileiro, algo que não se registra há muito tempo. As dificuldades
enfrentadas pela indústria e os pífios resultados do setor de serviços
ajudam a potencializar o bom momento do campo.
Revisão Após o
surpreendente resultado da economia no segundo trimestre — alta de 1,5%,
ante previsões que não chegavam a 1% —, divulgado na sexta-feira, o
mercado financeiro reviu as estimativas para 2013. No Boletim Focus,
compilado toda semana pelo Banco Central, os analistas elevaram as
projeções de alta do PIB, o que não ocorria há 21 semanas. A aposta
passou de 2,20% para 2,32%. No início do ano, o percentual esperado para
2013 era de 3,26%.
Os números do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) permitem uma avaliação mais real da economia, na
avaliação do sócio-diretor da Nobel Planejamento, Luiz Gonzaga Belluzzo.
Porém, o economista sustenta que o crescimento maior que o previsto não
autoriza a análise de que a situação do país vai bem. No primeiro
trimestre, o PIB apresentou alta de 0,6%. Para o terceiro trimestre, as
expectativas não são a das melhores.
Juros e inflação A
estimativa de crescimento maior vem acompanhada de mais juros e mais
inflação. Os analistas consultados pelo BC subiram de 5,80% para 5,83% a
projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em
2013. No caso da taxa básica de juros (Selic), a expectativa se mantém
em 9,5% este ano, mas para 2014 os analistas já apostam em 9,75%. Entre
os cinco que mais acertam as projeções, o percentual para os dois
períodos é de 10% ao ano.
Para Júlio Miragaya, do Conselho Federal
de Economia, o Boletim Focus divulgado ontem mostra que o mercado se
apossou de uma visão um pouco mais otimista em relação ao crescimento do
país. “As novas estimativas mostram isso. Mesmo que a criação de
empregos continue a desacelerar, ainda acredito em avanço do PIB mais
próximo de 3%”, aposta o economista, ponderando que o desempenho da
indústria dependerá bastante do comportamento do câmbio até dezembro. O
efeito positivo da desvalorização do real sobre os setores exportadores e
as consequências do aumento de juros, analisa o Banco Santander, tendem
a contrabalancear investimento e consumo, resultando em crescimento
estável e moderado nos próximos trimestres.
É preciso ser atrativo
Diante
da incapacidade do poder público de atender todas as necessidades da
população, é preciso que os setores públicos e privados unam forças para
aumentar o nível de investimento e, por consequência, melhorar o nível
de vida no Brasil, avalia o diretor-presidente do Bradesco, Luiz Carlos
Trabuco Cappi. O banqueiro classificou o atual momento do país como
crucial para delinear os rumos da economia. “A conjuntura internacional
está nos oferecendo novos desafios. E esses desafios passam pela nossa
capacidade de provar ao mundo que o Brasil é o país mais amigável para
investir”, afirmou Trabuco em almoço no Automóvel Clube de Belo
Horizonte durante abertura do 4º Fórum Liberdade e Democracia.
O
entendimento é que com as melhorias nos indicadores econômicos dos
Estados Unidos – chamado por Trabuco de o “grande aspirador de capitais
do mundo” – o Brasil terá pela frente a necessidade de disputar recursos
com o resto do mundo. Mas, para ser atrativo em relação aos demais
players mundiais, ele diz ser necessário haver uma “relação mútua de
confiança” entre público e privado, ressaltando ser o Brasil um dos
poucos países do mundo em que há convivência entre as duas esferas em
diversos setores, como saúde, previdenciário, bancário etc.
O
executivo afirma que no segundo semestre o país terá uma importante
agenda para demonstrar como andam essas relações. A expectativa é que
finalmente sejam realizados os leilões rodoviários, ferroviários e de
aeroportos, o que pode contribuir para destravar os gargalos da
infraestrutura. “É uma agenda muito interessante para o país. Estamos
falando de centenas de bilhões. E isso é importante trabalharmos em
conjunto para conseguir atrair os investidores. Mais aeroportos, mais
rodovias e mais rodovias, o que acontece: o país fica mais competitivo”,
afirma o diretor-presidente do Bradesco.
Modelo de concessões é criticado
Rio
de Janeiro – O modelo de concessões proposto pelo governo federal para
alavancar os investimentos privados em infraestrutura foi alvo de
críticas de economistas e pesquisadores no Seminário Ibre de
Infraestrutura – Gargalos e Soluções na Infraestrutura de Transportes
Brasileira. No setor ferroviário, as mudanças propostas são consideradas
de “alto risco” em função das incertezas nas garantias oficiais. “O
modelo tem se mostrado inviável”, afirmou o coordenador de Economia
Aplicada do Ibre, Armando Castelar, no evento da Fundação Getulio Vargas
(FGV), no Rio. “Primeiro, o governo começou com tarifa baixa e retorno
baixo. Depois, para atrair investidores, começou a dar outros subsídios,
que são mais perigosos de garantir em longo prazo”, avaliou.
Para a
pesquisadora da FGV, Joísa Dultra, “as taxas de retorno não são
compatíveis com a sustentabilidade econômica e financeira do negócio. O
contrato não assegura claramente os retornos. Ficar brigando por causa
de 1% ou 2 % de Taxa Interna de Retorno (TIR) atrasa a licitação e não
estimula a concorrência”. Castelar também criticou a demora em definir
uma solução. “No longo período de negociação dos termos e taxas de
concessão, a situação mundial está mudando. Há um ano, essas medidas
funcionariam, mas o cenário mudou adversamente.”
Os pesquisadores
também apontaram problemas como os riscos na execução dos projetos, o
desconhecimento do modelo e a insegurança na regulação. O governo
federal aposta nas concessões para alavancar os investimentos e a
economia do país “Por mais que vejamos no discurso do governo de
incentivar o investimento de infraestrutura, o mercado não encontra uma
resposta efetiva”, declarou o diretor do Instituto Brasileiro de
Economia (Ibre), Luiz Guilherme Schymura.
Segundo ele, em dois
anos, o país caiu 21 posições no ranking de investimentos em
infraestrutura no ranking do Fundo Monetário Internacional (FMI),
alcançando a 128ª posição entre 177 países. “O Brasil está com
percentual de estoque de capital de infraestrutura baixíssimo, com 16%
do PIB (Produto Interno Bruto), ante 58% da Índia, 64% dos EUA e 76% da
China.” Os pesquisadores apontaram uma paralisia no setor de hidrovias,
que representam menos de 15% no transporte de cargas, e ineficiência em
medidas adotadas em outros setores, como o portuário. “Medidas para
destravar operação dos terminais, não avança na flexibilização das
relações trabalhistas. As coisas estão mais atrasadas”, afirmou Eduardo
Guimarães.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) deve reduzir de 0,75% para 0,50% o spread (taxa de remuneração)
cobrado no repasse de recursos para projetos de infraestrutura
rodoviária. A medida, prevista para vigorar nas licitações de rodovias
que o governo pretende fazer ainda este mês, é mais um esforço de
atratividade para o leilão marcado para o dia 18.
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