Mariana Peixoto
Estado de Minas: 03/09/2013
Aos 57 anos e com mais de 30 de carreira, Bryan Cranston precisou do seriado Breaking bad para ganhar o direito de frequentar o star system |
Técnico-estrela do futebol europeu, o espanhol Pep Guardiola apareceu recentemente na capa da revista alemã 11 Freunde (11 amigos) vestido com a camisa do Bayern de Munique, meião e prancheta na mão direita. Guardiola está em meio a uma área desértica, postado de frente para a câmera, em atitude bem desafiadora. Tal e qual a imagem que serviu de inspiração para a publicação esportiva: uma das fotos mais conhecidas de Walter White, o protagonista de Breaking bad. O lançamento da revista (cuja manchete foi Breaking Pep) coincidiu com o da segunda metade da quinta (e derradeira) temporada da produção televisiva mais comentada dos últimos anos (vale dizer, desde a finada Lost).
Quando o último episódio da série for exibido nos Estados Unidos em 29 deste mês – no Brasil, o quinto ano de Breaking bad estreia somente em 4 de outubro, no canal pago AXN –, seu protagonista, o ator Bryan Cranston, estará com a cabeça longe da produção de metanfetamina que marcou a trajetória de Walter White. A grande aposta – que vem causando muito disse que disse na internet – é de que Cranston vai viver Lex Luthor, o mítico adversário do Super-Homem, na continuação de O homem de aço. Caso confirmado o rumor, ainda terá que manter a careca por um longo tempo. Antes disso, Cranston, que ganhou há dois meses uma estrela na Calçada da Fama, em Hollywood, lança uma nova versão de Godzilla.
Cranston tem 57 anos, ao menos 30 de carreira. Não fosse Breaking bad, esse ator e dublador poderia ficar restrito a personagens secundários, muitos deles vilões canastrões, de séries menores de TV. No próximo dia 22, poderá levar seu quarto Emmy pelo mesmo personagem, o onipresente Walter White. Vai ter como concorrentes Jon Hamm e Damien Lewis, dois atores que, como ele, se tornaram estrelas por causa da televisão: são os protagonistas de Mad men e Homeland, respectivamente. Todos atores que já passaram dos 40 anos e que, depois de labutar muito em pequenos papéis em produções sem grande repercussão, se consagraram na televisão.
Foi a partir de 1999, com Os Sopranos, que consagrou o ator James Gandolfini, que a revolução da teledramaturgia norte-americana teve início. Desde então, a força da criação, antes mola propulsora do cinema, está na TV. Séries com histórias absolutamente originais, que arriscam e não vivem tanto à mercê dos departamentos de marketing quanto os estúdios de Hollywood, fizeram nascer novas estrelas. Mais importante: têm narrativas construídas aos poucos, bem diferentes dos tradicionais seriados, que costumam repetir a mesma fórmula semana após semana.
O que seria de Terry O'Quinn sem o Locke de Lost? Ou de Michael C. Hall, não tivesse ele encarnado o psicopata Dexter? É por causa das narrativas – e de seus personagens, que carregam matizes bem diferentes dos protagonistas rasos dos blockbusters – que o público atual consegue esperar, por meses, para assistir à estreia de uma nova temporada. Não se espera com tanta ansiedade por uma nova produção da Universal ou da Disney quanto se aguarda pelo próximo ano de uma série como Game of thrones (HBO) ou The walking dead (AMC).
Veteranos
Curiosamente, neste Emmy, Cranston, Hamm e Lewis estarão concorrendo na categoria melhor ator em série dramática com veteranos do cinema: Kevin Spacey e Jeff Daniels. Nomes reconhecidos – Spacey tem inclusive dois Oscar, por Beleza americana (1999) e Os suspeitos (1996) –, são exemplos bem-acabados dessa dança das cadeiras. Antes considerada do baixo clero dentro da seara da dramaturgia, a TV tem recebido de braços abertos nomes que fizeram carreira bem longe dela. Daniels encabeça o elenco de The newsroom, produção sobre os bastidores de um influente telejornal.
Spacey é também produtor de House of cards, impecável trama dos bastidores de Washington que é um dos destaque da principal premiação da TV americana neste ano. Isso porque House of cards é a primeira série que concorre ao Emmy que não foi produzida para a TV: foi criada para a internet (pelo site de streaming Netflix). Com orçamento de longa-metragem (US$ 100 milhões por 26 episódios divididos em duas temporadas), traz como novidade para o público a ausência de espera. Explicando melhor: o primeiro ano, com seus 13 capítulos, foi lançado no semestre passado integralmente (uma vantagem e tanto se comparada à costumeira espera de uma semana para um novo episódio). O segundo ano, que será o último, entra no ar no início de 2014.
Spacey é estreante em seriados. “A terra não é mais fértil para contar histórias e dramas no cinema como era antes”, admitiu. Faz dobradinha com outro Kevin, o Bacon, que estreou na TV com a série policial The following, uma das mais comentadas do primeiro semestre. O time masculino de atores, que vêm migrando, pouco a pouco, do cinema para a televisão, ganha em Claire Danes sua representante feminina de maior destaque. Atriz até então reconhecida por um único papel – a Julieta de uma versão moderninha do clássico de Shakespeare (1996), em que fez par romântico com um Leonardo DiCaprio também em início de carreira –, deu a volta por cima em Homeland como Carrie Mathison, uma genial (e psicótica) oficial da CIA especializada em caçar terroristas no Oriente Médio. Em 29 deste mês, retorna (nos EUA) ao personagem, no aguardado terceiro ano da série. Já ganhou dois Globos de Ouro pelo papel. Falta-lhe o Emmy, ao qual concorre no fim do mês.
Revelados pela TV
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» Bryan Cranston (Breaking bad, quinta temporada estreia em 4 de outubro, no AXN)
» Jon Hamm (Mad men, sétima temporada estreia em 2014)
» Damien Lewis (Homeland, terceira temporada estreia dia 29 deste mês, nos EUA. No Brasil, segunda temporada está sendo reprisada, aos domingos, às 9h15, no FX)
» Jim Parsons (The big bang theory, sétima temporada estreia dia 26 deste mês, nos EUA. No Brasil, Warner exibe reprises às terças, 21h30)
» Lena Dunham (Girls, segunda temporada em reprise às terças, às 22h, na HBO Plus) – foto
Veteranos no cinema, estreantes na TV
» Kevin Spacey (House of cards, segundo ano estreia em 2014 no site de streaming Netflix) – foto
» Kevin Bacon (The following, segundo ano estreia em 2014)
» Jon Voight (Ray Donovan, no ar às segundas, às 21h, na HBO)
» Maggie Smith (Downton Abbey, terceira temporada no ar às quintas, às 22h30, na GNT)
» Don Cheadle (House of lies, reprises da segunda temporada nas quartas, às 2h, na HBO2)
Recuperados pela TV
» Claire Danes (Homeland, terceira temporada estreia dia 29 deste mês nos EUA. No Brasil, segunda temporada está sendo reprisada, aos domingos, às 9h15, no FX)
» Alec Baldwin (30 rock, já finalizada; Sony reprisa a série aos sábados, às 11h)
» Jeff Daniels (The newsroom, no ar às segundas, às 22h, na HBO) – foto
» Kiefer Sutherland (24 horas, já finalizada)
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