Asteroides ganham árvore genealógica
Pesquisadores da Unesp desenvolvem método mais aprimorado para definir a família das rochas espaciais
Vilhena Soares
Estado de Minas: 11/09/2013
Ilustração mostra momento em que grande rocha espacial se desintegra: processos como esse dão origem às famílias de asteroides. Estudo sobre o tema é trabalhoso |
Brasília – Como o Sistema Solar foi formado? Para responder a essa pergunta, astrônomos se voltam ao estudo de vários corpos espaciais, como o Sol, os planetas, os cometas e os asteroides. Agora, nova técnica desenvolvida por uma equipe internacional liderada por especialistas da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) vai ajudar a compreender melhor esses últimos objetos.
O time criou uma forma mais refinada que as atuais para identificar as chamadas famílias de asteroides, grupos de rochas que se formam quando objetos grandes colidem e se dividem em muitas peças menores. Esses pedaços passam, então, a orbitar o Sol em conjunto. Eventualmente, alguma dessas partes pode tomar um caminho próprio e ameaçar o planeta, por exemplo.
Identificar quais são os membros de uma família é fundamental para definir sua origem e, assim, entender melhor a história do Sistema Solar. O problema é que os métodos atuais ainda trazem muitos erros, reunindo objetos que não têm a mesma origem – muitas vezes, objetos estranhos acabam se aproximando do conjunto e confundindo os pesquisadores. “Com respeito a outros métodos, o nosso permite identificar menos objetos com taxonomias incompatíveis, chamados de interlopers, como membros das famílias”, afirma Valério Carruba, coordenador do estudo.
A nova técnica se tornou possível graças a uma missão da Nasa denominada Wise (Wide-field Infrared Survey Explorer), que mediu a luz refletida (albedo geométrico) por 100 mil asteroides entre 2011 e 2012. Com isso, tornou-se possível usar essa informação para definir se dois asteroides são da mesma família – em caso afirmativo, eles devem ter o albedo geométrico semelhante.
Conjunto de dados Inserir esse dado no estudo dos conjuntos de rochas permite eliminar aqueles corpos que estão próximos do grupo, mas têm origem diferentes. Logo, pertencem a outra família. Também permite que um objeto distante do grupo seja classificado como um “membro desgarrado” da família. “Neste trabalho, juntamos três tipos de dados: elementos orbitais próprios (descrevem a posição, a elongação e a inclinação), as cores e os albedos do Wise”, descreve Carruba.
O professor ressalta que o estudo foi um trabalho feito em conjunto com outros países. “É uma parceria entre pesquisadores do Brasil, da França e dos Estados Unidos. No Brasil, colaboraram pesquisadores da Unesp e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Na França, pesquisadores do Observatoire de Meudon. E, nos EUA, do SouthWest Research Institute (SWRI)”, conta Carruba, que foi revisor para o Planetary Geology and Geophysics (PGG), programa de pesquisa da Nasa. “Por conta disso, busquei também o trabalho deles para utilizar em nossa pesquisa”, destaca.
Basílio Santiago, astrônomo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destaca que a triagem dos asteroides, mostrando qual deles pertence a determinada família, é algo trabalhoso, uma tarefa complicada. “Muitos compartilham mais ou menos a mesma órbita. O problema é que, com o tempo, esses pedaços vão se dispersando, entram em órbitas diferentes. Por isso a necessidade de técnicas mais apuradas. Se forem analisados só os parâmetros orbitais, você acaba identificando somente um conjunto”, explica.
O especialista destaca que o albedo é um ponto essencial na técnica recém-desenvolvida. “O problema é que eles se espalham, mas têm a mesma origem, o mesmo núcleo principal. Com informações como a reflexão da luz que emitem, fica mais fácil identificar de onde surgiram”, complementa o pesquisador.
Segurança De acordo com Rundsthen Nader, astrônomo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o estudo de asteroides, além de ajudar a esclarecer como ocorreu a formação do Universo, é importante na busca por prevenir a colisão desses corpos com a Terra. “Os asteroides são uma amostra do que era o Sistema Solar. Ao estudar suas famílias, você consegue descobrir em qual região da galáxia ele estava quando ocorreu o espalhamento. E, ao analisar isso, você também pode estudar e tentar classificar outras famílias que têm chances de colidir com a Terra, prevendo isso com antecedência”, explica o pesquisador.
Valério Carruba adianta que o método será aperfeiçoado, para que acompanhe outros trabalhos científicos publicados fora do país. “Depois da publicação do nosso artigo, um novo método mais avançado de classificação de asteroides foi submetido para a publicação. Já estamos trabalhando para adequar nosso estudo à essa nova taxonomia e temos novos resultados muito promissores, que serão apresentados em duas conferências em Londres e na Itália ainda este ano”, declara. “Os dados obtidos com esse novo método foram disponibilizados gratuitamente para toda a comunidade científica e estão disponíveis no depositório de dados astronômicos da Universidade de Estrasburgo, na França.”
Para Santiago, da UFRGS, o trabalho pode ajudar outros estudos. “Eles introduziram informações que vêm de duas grandes missões. A novidade bacana é combinar esses dados e torná-los públicos, para que outros pesquisadores possam ter acesso e, assim, a pesquisa evolua”, destaca.
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