ZERO HORA - 11/09/2013
Anda difícil ser jovem. O leque de opções é farto e isso deixa qualquer
um indeciso. E, até quando se decide com alguma convicção, pouco
adianta: onde foram parar os empregos, onde estão os amores, o que fazer
quando as coisas não saem como o esperado?
De uma coisa a protagonista de 27 anos do filme Frances Ha sabe:
“dar certo” é algo muito relativo – e restrito. Existem poucas vias para
o sucesso e inúmeras para o fracasso. A única maneira de conseguir
vaguear pela vida sem lamentar as tentativas frustradas é reconhecer que
a normalidade também pode ser manca, vesga e fanha. Mesmo quando tem
chance de acertar, Frances prefere apostar no azarão: “Gosto das coisas
que parecem erros”.
E já que ela revela isso com um sorriso no rosto, e não resmungando,
subverte a questão e mostra que o “erro” pode ser um estilo de vida
aceitável, é só cuidar para que ele não provoque isolamento nem nos
conduza ao “ai de mim”. Arriscar com graça e autenticidade pode ser um
acerto do avesso.
Nem todos querem ser campeões em tudo. Os errantes não aparecem nas
colunas sociais nem são exemplos de virtude, mas têm um jeito próprio de
se expressar e de existir, lutando para manter sua identidade mesmo na
contramão do que se estabeleceu como “certo”. Conheço, por exemplo, quem
prefira dias nublados e chuvosos, o que soa como errado, ainda que um
erro poético.
Só que a poesia não tem nada a ver com essa preferência. Um dia,
essa pessoa me confessou que gostava de dias nublados porque era quando
não se sentia cobrada a “aproveitar a vida lá fora”. Ela aproveitava a
vida por dentro, e o clima fechado era seu cúmplice diante de uma
sociedade que decretou como certo que todas as pessoas devem frequentar
parques e praticar exercícios ao ar livre. Quando chovia, ela tinha a
rara oportunidade de se sentir enquadrada.
Há caminhos bem sinalizados para se ter uma vida plena, saudável e
com garantia de receber uma estrelinha dourada ao final da jornada, mas
há quem se sinta tentado pelos desvios. Qual o problema de não querer
ter filhos ou de não desejar fazer parte da diretoria? Lembro de uma
passagem divertida de um livro de Martin Page. O personagem recebe uma
promoção e a recusa, questionando. “Por que sou obrigado a evoluir?”. O
patrão insiste: “Mas você faz um trabalho excelente!”. E ele: “Não faço
isso de propósito”.
Há quem não queira mais responsabilidades do que já tem, mesmo que
isso implique ganhar menos dinheiro. Quem decretará que isso é falta de
rumo?
Errantes somos todos, em algum aspecto. Fazer besteira para chamar a
atenção é contraproducente, mas optar por alternativas não abençoadas
pelo senso comum pode ser apenas uma maneira de levar a vida como se
gosta.
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