quarta-feira, 11 de setembro de 2013

CINE CEARÁ » Aceitando as diferenças

Longa-metragem do uruguaio Fernández Pujol é uma das surpresas do festival, lançando desde já o nome do veterano Carlos Frasca como forte candidato ao prêmio de melhor ator


Mariana Peixoto

Estado de Minas: 11/09/2013 


O filme uruguaio Rincón de Darwin foi muito bem recebido ao ser exibido na noite de segunda-feira  (Cine Ceará/Divulgação  )
O filme uruguaio Rincón de Darwin foi muito bem recebido ao ser exibido na noite de segunda-feira

Fortaleza – Até a virada do século, o Uruguai não produzia um longa-metragem por ano. Tampouco tinha escola de cinema e sua tradição cinematográfica era basicamente como espectador e crítico. Treze anos passados, o Uruguai consegue produzir anualmente uma dezena de filmes, como também conta com cinco escolas voltadas para a produção audiovisual. Por meio de títulos como Whisky (Juan Pablo Rebella, 2004), O banheiro do papa (César Charlone, 2005), Gigante (Adrián Biniez, 2009) e A vida útil – O conto de cinema (Federico Vieiroj, 2010), a produção uruguaia ganhou destaque no circuito internacional. E ainda uma alcunha própria: cinema de minimalismo melancólico.

“Não creio que o cinema uruguaio seja minimalista melancólico. Creio que o uruguaio seja minimalista melancólico, principalmente a minha geração”, brincou o veterano ator de teatro Carlos Frasca, em entrevista ontem de manhã, em Fortaleza. Ele é um dos protagonistas de Rincón de Darwin, longa-metragem de estreia de Diego Fernández Pujol, por ora o maior destaque da competitiva iberoamericana do Cine Ceará – não será surpresa se Frasca levar o prêmio de melhor ator do festival. Até sexta-feira, serão exibidos oito longas na principal mostra do festival, entre produções de Cuba, México, Argentina, Espanha e Brasil (com três selecionados).

Estradeiro Comédia dramática em clima de road movie, Rincón de Darwin reúne três homens de gerações, personalidades e estilos de vida completamente distintos. Na trama, Gastón (Jorge Temponi) recebe de herança uma casa que havia sido visitada por Charles Darwin em 1833 e que ali teria feito pesquisas que o ajudaram a desenvolver a teoria da evolução. Para avaliar o local, ele convoca o escrivão Américo (Frasca), que anda deprimido com o envelhecimento e o casamento iminente da única filha. Por obra do acaso, os dois viajam na velha caminhonete de Beto (Jorge Esmoris), um faz-tudo de passado nebuloso. Nada sairá como o planejado e, por meio de diálogos impecáveis, a narrativa vai ganhando ritmo.

“Há mais uma categoria dentro do minimalismo melancólico”, disse Fernández Pujol. “Meu filme não tem um final tão aberto. Os personagens têm seus conflitos interiores, mas são capazes de ser felizes. O que estamos querendo é dizer quem somos através de diversos filmes. Há uma identidade cultural que nos une”, continua Pujol. O trio de protagonistas consegue espelhar essas nuances. “Se tivessem com quem escolher, eles não fariam essa viagem juntos. E muitas vezes começamos a conviver com uma pessoa, que não tem nada a ver com a gente, e depois nos damos conta de que não somos tão diferentes assim. Não precisamos (assim como os personagens) ser amigos, mas entender o outro já é o bastante”, argumenta o diretor.

Concomitantemente ao percurso na caminhonete, há uma narração, em inglês, das observações de Darwin, que age como um quarto personagem. “Eles estão fazendo o mesmo caminho que um aristocrata europeu fez 180 anos antes. Para ele, éramos selvagens”, afirma o diretor. Esse discurso paralelo acaba complementando a intenção de Fernández Pujol com a história, pois reafirma a ideia de diferença versus tolerância. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário