quarta-feira, 25 de setembro de 2013

FERNANDO BRANT » Perguntas sem respostas‏

Estado de Minas: 25/09/2013 



É comum nos relacionamentos sociais que as pessoas, postas diante de um questionamento incômodo, saiam pela tangente e façam um discurso inteiramente diverso do que lhes foi perguntado. Políticos, então, são mestres nesse ofício. Falam o que querem, desprezando o interlocutor. Nem falo do Paulo Maluf, pois esse é um escândalo. Quem foi mestre nesse saber, um caso exemplar de experiência e pura esperteza, foi o Leonel Brizola. Como não tinha espaço para se manifestar na grande mídia, aproveitava qualquer oportunidade para dizer não o que lhe era perguntado, mas o que lhe era conveniente expressar.

Sua frases eram lentas, pausadas, o que impedia que seu pensamento fosse cortado ao meio. Isso desagrada aos cidadãos de todo o mundo. Não é só no Brasil que a política é feita de dissimulações e inverdades. Pode-se até admitir que o chamado sistema tolha os movimentos e as boas intenções dos eleitos. Mas a coisa mais difícil de se encontrar, em qualquer país, é a coerência entre a fala do candidato e a ação do escolhido pelo voto. O eleitor não quer fazer papel de bobo, mas a sua memória curta faz com que a maioria repita os erros a cada eleição.

Veja o que ocorreu no Brasil durante o mês de junho. Os dirigentes, nos primeiros dias, perderam o rumo diante das manifestações volumosas em todas as ruas do país. A síntese de tudo era a constatação de que os representantes não estavam nos representando. E tome-se a enumeração dos problemas não resolvidos que infelicitam a vida de todos: queremos padrão Fifa, o melhor, para a educação, a saúde, o transporte, o saneamento básico. “ Não queremos teleférico, queremos tratamento de esgoto”, foi o que disse a voz emblemática na Rocinha. Até hoje, congressistas e governos estão fingindo que vão realizar o que o que o povo pediu. Até agora só fogos de artifício, enrolação. E a corrupção escorre pelos gabinetes.

E como anda o mundo, hoje, no começo de nossa primavera e do outono deles? Há dois anos, se morre e se mata na Síria. Os governos e a ONU ficam observando. Mais de 100 mil já morreram, outros milhares foram feridos, a terra está arrasada e os refugiados se contam aos milhões. Pobre e infeliz povo sírio.

De repente criaram uma linha vermelha imaginária que não poderia ser ultrapassada. Se usarem armas químicas haverá intervenção. Usaram as armas proibidas e cerca de 1,5 mil seres humanos tombaram ao contato com elas. Diante da ameaça de ação americana, os russos propuseram um acordo. O governo da Síria as entregaria à ONU para serem destruídas. As reuniões se sucedem mas nada avança.

Enquanto se conversa sobre se a lista apresentada é confiável, a vida dos sírios continua a mesma tragédia. O que lá acontece todos os dias parece não importar mais. Os poderosos das nações do Norte mudaram de assunto. Esqueceram os que morrem de armas convencionais. E o número de crianças, mulheres e homens abatidos na guerra civil aumenta a cada dia, a cada hora.


>>  fernandobrant@hotmail.com

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