Ruínas da vila Doun Baba Dièye, no Senegal, destruída pelo aumento do nível do mar |
Estocolmo/Londres – Enquanto integrantes do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) se reúnem em Estocolmo para aprovar a primeira parte de seu quinto relatório sobre o aquecimento global, especialistas de diferentes áreas relacionadas com a questão defendem que o grupo de centenas de cientistas mude de estratégia e passe a publicar análises mais pontuais e mais frequentes. Desde que foi criado, em 1998, o IPCC publicou quatro grandes relatórios, que consumiram, cada um, cerca de cinco anos para serem finalizados.
“Um arrasa-quarteirão a cada seis anos não é mais realmente útil”, disse à agência Reuters Myles Allen, professor da Universidade de Oxford e um dos autores que contribuíram com um sumário das conclusões do IPCC a serem apresentadas na sexta-feira, ao fim do encontro na capital sueca. “Apoio o ciclo global de avaliação, mas argumentamos fortemente pela necessidade de complementá-lo com atualizações frequentes”, reforçou Johan Rockstrom, diretor do Centro de Resiliência de Estocolmo.
Para cientistas como Allen e Rockstorm, seria aconselhável produzir relatórios mais constantes a respeito de secas, inundações e ondas de calor no ano anterior, por exemplo, para avaliar se a mudança climática está influenciando na sua frequência ou severidade. Já os relatórios especiais poderiam focar questões como a produção de alimentos sob um clima em mutação, as perspectivas de geoengenharia (projetos para reduzir a incidência de luz solar, por exemplo) ou os riscos de mudanças irreversíveis, como o rápido degelo da Antártida Ocidental.
O IPCC está trabalhando em três relatórios de visão geral, totalizando cerca de 3 mil páginas, começando pelo sumário de 31 páginas a ser lançado sexta-feira. Versões preliminares obtidas por diferentes veículos da mídia mostram que essa primeira parte do documento afirmará que há 95% de probabilidade de que o aquecimento global seja provocado pelas atividades humanas. Um grande trunfo do painel ligado à Organização das Nações Unidas (ONU) é que as avaliações climáticas são aprovadas tanto por cientistas quanto por governos, o que dá a esses textos uma ampla aceitação nas negociações para um acordo climático global, a ser aprovado até 2015.
Possíveis reformas serão discutidas em outubro na Geórgia. O governo dos EUA apresentou neste ano algumas propostas, incluindo a defesa de mais relatórios especiais. A Grã-Bretanha sugeriu ferramentas tipo wiki, para permitir atualizações mais frequentes, e a Itália argumenta que não há "necessidade automática" de mais um grande relatório sobre a ciência da mudança climática.
Nova York Paralelamente à Assembleia Geral da ONU, foi anunciado ontem que uma comissão liderada pelo ex-presidente do México Felipe Calderón ficou responsável por elaborar um relatório contra as mudanças climáticas. Integram o grupo líderes políticos e empresários. Segundo Calderón, é possível ter crescimento econômico, oportunidades de negócios, criação de empregos e, ao mesmo tempo, mitigar as emissões e conter a mudança climática. “É possível aplicar as políticas econômicas corretas que podem impulsionar o crescimento econômico sem ameaçar o ambiente”, defendeu.
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