Na semana passada, ao
descer até o portão de seu prédio, Laura viu a lua. De repente (quase
num susto), ela parou e pôs-se a olhar demoradamente para o alto,
capturada pelo círculo branco e luminoso que se deixava ver entre as
árvores da rua. Há muito tempo ela não contemplava uma lua cheia assim,
tão incisiva. Não que Laura seja chegada a paisagens idílicas ou temas
românticos. Mas diante dessa lua enorme, algo mexeu com sua
sensibilidade. Talvez porque estivesse se sentindo meio triste e
sozinha, sem a expectativa de que algo (por mínimo que fosse) pudesse
desviá-la da rotina de seus dias. Mas a lua cheia de setembro apareceu,
magnífica, e perturbou a mulher por alguns minutos, tornando-se, para
ela, o grande acontecimento da noite.
Dias depois, no domingo, e ainda com a memória da lua nos olhos, Laura se deu conta de que a primavera estava para começar naquela tarde. Foi durante uma caminhada até a padaria da esquina que ela se lembrou disso e conferiu a data na tela do celular: 22 de setembro de 2013. “Acho que a lua me preparou para receber a primavera”, disse para si mesma, com certa satisfação. Pelo jeito, ela acredita (ou tenta acreditar) que a primavera chegou para alterar o curso das coisas em sua vida. Afinal de contas, Laura passou por um período difícil nos últimos meses e tem o direito de achar que a primavera pode lhe trazer uma outra fase, bem mais venturosa e amena. Para isso, ela se apega intensamente à simbologia da estação: tempo em que o princípio luminoso volta à terra, depois de um longo período de recolhimento, e confere um novo sentido a tudo. Mesmo que nada disso possa ser verdade na vida real, ela prefere achar que é. “Não custa ser otimista de vez em quando”, Laura pensa, ao chegar em casa e ir para a cozinha preparar um sanduíche. Aí se lembra, sem mais nem menos, de Maria Pastora, uma conhecida sua que lhe escreveu contando ter perdido a única filha, Sílvia, há pouco tempo. Esta completaria 50 anos em 19 de setembro, mas adoeceu e partiu antes disso, deixando a mãe em completo desconsolo. “Que Maria Pastora encontre um alento possível para sua dor, nesta primavera”, desejou, com ternura.
Mais tarde, para não deixar passar o dia 22 em vão, Laura resolveu comemorar a chegada da primavera com duas taças de espumante bem gelado, ao som de um concerto de Keith Jarrett – um de seus pianistas preferidos. Nessa mesma noite, ainda ouviu músicas de John Coltrane. O calor excessivo que fez ao longo de todo o domingo (algo incomum no mês de setembro) não permitiu que ela tomasse o vinho tinto português que tanto gosta de beber nas comemorações especiais. Mas o espumante estava bom, e ela não lamentou a troca. Ligou para Glória, sua vizinha do 13º andar, para convidá-la a compartilhar da bebida e da música, mas não a encontrou em casa. Foi, então, à biblioteca e, depois de percorrer com os olhos toda a parte de poesia, pegou o livro Jardins, de Rainer Maria Rilke, por considerar que ele combinava muito bem com o primeiro dia de primavera do ano. E para não dizer que não pensou em flores, olhou para o vaso de orquídeas no canto da sala e viu, com alegria, que novas flores estavam nascendo.
Dias depois, no domingo, e ainda com a memória da lua nos olhos, Laura se deu conta de que a primavera estava para começar naquela tarde. Foi durante uma caminhada até a padaria da esquina que ela se lembrou disso e conferiu a data na tela do celular: 22 de setembro de 2013. “Acho que a lua me preparou para receber a primavera”, disse para si mesma, com certa satisfação. Pelo jeito, ela acredita (ou tenta acreditar) que a primavera chegou para alterar o curso das coisas em sua vida. Afinal de contas, Laura passou por um período difícil nos últimos meses e tem o direito de achar que a primavera pode lhe trazer uma outra fase, bem mais venturosa e amena. Para isso, ela se apega intensamente à simbologia da estação: tempo em que o princípio luminoso volta à terra, depois de um longo período de recolhimento, e confere um novo sentido a tudo. Mesmo que nada disso possa ser verdade na vida real, ela prefere achar que é. “Não custa ser otimista de vez em quando”, Laura pensa, ao chegar em casa e ir para a cozinha preparar um sanduíche. Aí se lembra, sem mais nem menos, de Maria Pastora, uma conhecida sua que lhe escreveu contando ter perdido a única filha, Sílvia, há pouco tempo. Esta completaria 50 anos em 19 de setembro, mas adoeceu e partiu antes disso, deixando a mãe em completo desconsolo. “Que Maria Pastora encontre um alento possível para sua dor, nesta primavera”, desejou, com ternura.
Mais tarde, para não deixar passar o dia 22 em vão, Laura resolveu comemorar a chegada da primavera com duas taças de espumante bem gelado, ao som de um concerto de Keith Jarrett – um de seus pianistas preferidos. Nessa mesma noite, ainda ouviu músicas de John Coltrane. O calor excessivo que fez ao longo de todo o domingo (algo incomum no mês de setembro) não permitiu que ela tomasse o vinho tinto português que tanto gosta de beber nas comemorações especiais. Mas o espumante estava bom, e ela não lamentou a troca. Ligou para Glória, sua vizinha do 13º andar, para convidá-la a compartilhar da bebida e da música, mas não a encontrou em casa. Foi, então, à biblioteca e, depois de percorrer com os olhos toda a parte de poesia, pegou o livro Jardins, de Rainer Maria Rilke, por considerar que ele combinava muito bem com o primeiro dia de primavera do ano. E para não dizer que não pensou em flores, olhou para o vaso de orquídeas no canto da sala e viu, com alegria, que novas flores estavam nascendo.
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