Publicação: 24/09/2013 04:00
Kenya Borges come orgânicos desde pequena,
estimulada pela mãe. Hoje, repassa a preferência por alimentos saudáveis
ao filho Vitor Hugo |
Segundo um estudo publicado no Jama Pediatrics, jornal da Associação Médica Americana, hábitos familiares saudáveis, como fazer as refeições em família, contribuem para prevenir a obesidade infantil e reduzir o excesso de peso. Os pesquisadores de quatro centros de saúde em Boston fizeram um experimento com dois grupos familiares. Um recebeu orientações para mudar os hábitos e o outro teve as práticas já consolidadas acompanhadas. As famílias que alteraram os comportamentos – dormindo o tempo suficiente e passando menos tempo em frente à televisão, por exemplo – tiveram melhoras significativas na saúde alimentar dos filhos.
Na casa de Kenya, os efeitos do experimento são comprovados na prática. “Quando fazemos as refeições juntos, podemos dar o exemplo, comer alimentos saudáveis. Se o pai não come verduras, como esperar isso do filho?”, exemplifica. Ela também aprendeu com os pais a ter uma rotina que levasse em conta uma alimentação mais saudável. "Minha mãe produz vegetais orgânicos e, desde sempre, eles fazem parte da nossa alimentação.”
Silvia Boani começou a cuidar da alimentação de Lucas quando ainda estava grávida |
Segundo o psicólogo infantil Marcelo Quirino, esse cuidado de reunir a família faz com que os mais novos associem a hora de comer a práticas saudáveis e a um tempo prazeroso de convivência e aprendizado. “As reuniões formam, na mente da criança, a imagem da importância dada à alimentação pela família, o que possibilita que ela perpetue bons hábitos durante a vida", explica.
Ainda no útero Nutrólogo e professor de pediatria da Universidade de São Paulo (USP), Rubens Feferbaum acredita que a influência dos hábitos dos mais velhos sobre os pequenos começa antes mesmo do nascimento das crianças, ainda na gestação. A forma como o bebê se nutre nos primeiros mil dias – 280 de gestação e 720 depois de nascer – é fundamental para a saúde futura. “Desde a gestação, os hábitos da mãe devem ser adequados, a alimentação da criança nessa fase vai se refletir na vida adulta”, afirma.
A advogada Silvia Boani, de 37, intensificou os cuidados que já tinha com a alimentação assim que soube da chegada de Lucas. “Minha preocupação começou desde a gestação. Eu já tinha uma alimentação balanceada, mas passei a me preocupar ainda mais”, conta. Quando Lucas tinha 2 anos, um susto tornou ainda mais rígida a maneira como a família e o garoto se alimentavam. O menino foi diagnosticado com colesterol alto – relacionado a um histórico familiar do problema. Aliados aos hábitos alimentares os exercícios físicos ajudaram a normalizar as taxas de colesterol do garoto.
Médico no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e no Hospital Sírio-Libanês, Paulo Taufi Maluf ressalta que a decisão da família de privilegiar atividades físicas e cuidados gerais com o organismo leva a um risco menor de complicações para a criança. “A prevenção da obesidade resulta da importância que a família dá ao problema e da filosofia de vida que se adota”, afirma.
Histórico de exageros
ou de cuidados
Alimentação sem controle e outros costumes inadequados são, na maioria dos casos, frutos das atitudes tomadas pelos pais. O acesso exagerado a salgadinhos, doces e outras guloseimas que podem fazer mal é, na maioria das vezes, possibilitado por algum adulto. Por isso, a mudança na rotina familiar pode provocar tantas mudanças na saúde da criança e na prevenção de alguns problemas. "A ‘culpa’ não é da criança. Os hábitos errôneos vêm da família, não é a criança sozinha que faz as compras e inclui salgadinhos e guloseimas no carrinho do supermercado", pondera o nutrólogo Rubens Feferbaum.
As telas da televisão, de tablets e do computador podem ser um fator de risco durante as refeições. A distração provocada pelos aparelhos eletrônicos faz com que o ato de comer seja deixado de lado, o que pode diminuir a sensação de saciedade e fazer com que a criança mastigue menos do que o ideal. “Nesses casos, o ato de alimentação se torna sem prazer, corrido e até mesmo desnecessário na cabeça de algumas crianças”, diz o psicólogo infantil Marcelo Quirino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário