terça-feira, 24 de setembro de 2013

PRAZER EM AJUDAR » Missão de vida

PRAZER EM AJUDAR » Missão de vida 


Escola Superior de Justiça leva desde 2007 educação a 600 crianças e jovens de 6 a 17 anos em Guiné-Bissau



Lilian Monteiro


Estado de Minas: 24/09/2013 



Cerca de 600 crianças e jovens têm aulas, assistência de saúde e refeições na escola, atividades apoiadas pela empresa educacional brasileira. Ideia é estender projeto, ainda este ano, para outra ilha africana (ESJUS/Divulgação)
Cerca de 600 crianças e jovens têm aulas, assistência de saúde e refeições na escola, atividades apoiadas pela empresa educacional brasileira. Ideia é estender projeto, ainda este ano, para outra ilha africana

O olhar, o ensinamento, a vontade e a atitude de ajudar quem precisa vieram dos pais. Desde criança aprendeu como hábito da família, em Goiás, a participar de ações de responsabilidade social. A lição é passada a cada geração e, há 10 anos vivendo em Minas Gerais, a advogada Sara Bernardes, diretora-presidente da Escola Superior de Justiça (Esjus), mantém há seis o projeto Conhecimento gera vida, que leva educação a 600 crianças de 6 a 16 anos em oito aldeias de Guiné-Bissau, na África Ocidental. “Minha ação é consciência humana porque Cristo disse: ‘Ame teu próximo como a si mesmo’. A paixão pelo projeto nasceu do meu coração. Não é bandeira. Tenho a necessidade de me alimentar diariamente da missão de contribuir com alguém. É implícito ao meu viver. O projeto nasceu da ideia de formar pessoas. A base é cristã e levamos educação, alimentação, vestuário, transporte e saúde. É um trabalho material e espiritual com acompanhamento minucioso”, diz.

Sara conta que a Esjus é a fundadora mantenedora do projeto e tem parceria com o Centro Pedagógico Missionário (Cepem), que coordena e executa o programa com 26 professores e dois coordenadores. Trabalho compartilhado por brasileiros e africanos em ilhas como Aghonho, Ancaodjo, Ancarabe, Ossocon, Aonho e Anghane. A instituição sustenta o projeto integralmente com recursos próprios enviados mensalmente para aquisição de material didático, construção de espaço físico para as aulas e para a alimentação, entre outras demandas. “Há pouco tempo construíram uma canoa para dar mais assistência a alunos em Guiné-Bissau. A ‘Canoa da Esperança’, como foi batizada, é o principal meio de transporte do local e beneficiou cerca de 200 crianças”, conta Sara.


 (ESJUS/Divulgação)


Preocupada em diminuir o índice de analfabetismo, a advogada se sente motivada com os resultados. “No início do projeto a taxa de analfabetismo nas ilhas girava em torno de 30%, hoje caiu para 20%. Com dedicação e empenho, colhemos frutos. É um sentimento de amor ao próximo materializado em atitudes. A Esjus atua na área de educação, preparando profissionais para o mercado de trabalho, por isso, nada mais natural que ter um projeto voltado para o ensino em lugares mais necessitados.”

Braço direito de Sara no projeto em Guine-Bissau, Sirlene Pereira Amorim Silva, diretora do Cepem, conta que tudo começou em 2003, na Ilha de Uno, situada no Arquipélago do Bijagos – Guine-Bissau. A ilha é formada por 31 aldeias, com cerca de cinco mil habitantes e situada a nove horas da capital. “Com grande carência na área de saúde e educação, devido ao difícil acesso e ao próprio isolamento, encontramos jovens de 17 anos que nunca tinham frequentado uma escola. O atendimento é feito em dois turnos e oferecemos ainda alimentação e atendimento de saúde.”

Sirlene destaca que o trabalho evoluiu, principalmente, porque “este ano recebemos muitos voluntários de Portugal (médicos e dentistas) que assistiram não só crianças da escola como toda a população”. A diretora destaca que, com a parceira com a Esjus e o projeto Conhecimento gera vida, a iniciativa que começou com o Cepem em 2003, ganhou mais segurança, já que “hoje, graças ao apoio financeiro integral que recebemos da Escola Superior de Justiça, oferecemos alimentação todos os dias a essas crianças e também ensino de qualidade”.

A cada três meses, a iniciativa recebe auxílio suplementar de alimentos oferecidos por uma organização americana, a IPHD. “O custeio da alimentação pela Esjus também auxilia no aprendizado dos alunos, já que sem comer muitas não conseguiam prestar atenção nas aulas porque sentiam dor de cabeça e de estômago. Alimentadas, o índice de frequência aumentou consideravelmente”, acrescenta a diretora do Cepem.

DESAFIOS Sirlene Amorim lembra que o quadro de analfabetismo mudou bastante desde a fundação do projeto. “Antes, víamos nas classes 6ª, 7ª e 8ª jovens acima de 20 anos. Hoje, essa realidade tem se transformado e estamos direcionando alunos para essas séries com idades corretas . As nossas crianças chegam à pré-escola com 6 anos e entram na primeira classe com 7. Observamos também como melhorou a língua portuguesa, muitos deles só falavam a língua comercial (crioulo) e o dialeto Bijago.” Sirlene enfatiza que o corpo docente é composto por nativos da própria ilha que completaram o ensino fundamental e que recebem a formação de magistério a cada 15 dias. Eles são acompanhados pela equipe pedagógica da escola durante as aulas. “Muitos desses professores tinham abandonado os estudos por falta de condições de ir até a capital. Com o trabalho da Cepem e do projeto Conhecimento gera vida foram incentivados por nós a continuar. Muitos deles já têm o ensino fundamental completo.” Ela acrescenta que o professor Francisco é um exemplo: parou de estudar há 20 anos na 5ª série. “Com o projeto, ele se sentiu estimulado a retomar e já completou a 9ª série. É um dos melhores profissionais da alfabetização.” Mas Sirlene lembra que o grande desafio foi conscientizar os pais sobre a importância da escola, já que a maioria leva as crianças todos os dias para a lavoura. “Para o próximo ano temos metas desafiadoras: expandir a escola para as ilhas vizinhas. Nestse momento, estamos em preparação para darmos início ao programa na Ilha de Formosa, que fica a três horas da Ilha de Uno, onde a realidade é a mesma. E implantar na Ilha de Uno um projeto de alfabetização de adultos com mulheres.”

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