terça-feira, 24 de setembro de 2013

MUDANÇAS CLIMÁTICAS »IPCC- Veredicto: culpa é do homem‏

IPCC, painel da ONU que reúne cientistas e especialistas de variadas áreas, divulgará na sexta-feira relatório que atesta que problemas ambientais estão ligados à ação humana



Estado de Minas: 24/09/2013


Carro no meio do lamaçal na região central de Nova Friburgo, cidade serrana do Rio de Janeiro, devastada por fortes chuvas há dois anos    (Maurício Lima/AFP %u2013 18/1/11   )
Carro no meio do lamaçal na região central de Nova Friburgo, cidade serrana do Rio de Janeiro, devastada por fortes chuvas há dois anos


Estocolmo – Uma comissão de especialistas da Organização das Nações Unidas está reunida desde ontem para rever o esboço de um relatório que eleva para 95% a probabilidade de que a mudança climática tenha causas humanas, e alerta para episódios climáticos mais extremos se os governos não tomarem drásticas providências. Cientistas e funcionários de 110 governos iniciaram em Estocolmo, na Suécia, uma reunião de quatro dias para editar e aprovar um texto de 31 páginas que também tenta explicar um “hiato” no ritmo do aquecimento global neste século, apesar do aumento nas emissões de gases do efeito estufa.

Situação drástica do Rio Po, que tem 652 quilômetros e atravessa da Itália ao Mar Adriático (GIUSEPPE CACACE/AFP %u2013 25/7/07)
Situação drástica do Rio Po, que tem 652 quilômetros e atravessa da Itália ao Mar Adriático

O Painel Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC) repassará o documento ponto a ponto e o apresentará na sexta-feira como principal guia para os governos, que já decidiram aprovar até 2015 um novo acordo climático no âmbito da ONU. Este será o quinto relatório do painel da ONU, que reúne milhares de cientistas, desde sua criação, em 1988. Em 2007, o IPCC gerou uma mobilização sem precedentes a respeito do clima, o que rendeu a atribuição do Prêmio Nobel da Paz ao painel, ao lado do ex-vice-presidente americano Al Gore.


Mudanças na natureza alteraram o clima ao redor do globo, como no Quênia, assolado pela forte seca (Simon Maina/AFP %u2013 20/7/11   )
Mudanças na natureza alteraram o clima ao redor do globo, como no Quênia, assolado pela forte seca

“Espero que o mundo entenda a simplicidade e a gravidade da mensagem que vamos fornecer. As provas científicas das (...) mudanças climáticas se reforçaram a cada ano, deixando pouca incerteza, salvo sobre suas graves consequências”, disse Rajendra Pachauri, presidente do IPCC, ontem, logo depois da sessão de abertura do encontro. A mudança climática “vai transformar nossas vidas, nossas economias e, na verdade, a forma como o nosso planeta vai funcionar no futuro”, disse Achim Steiner, chefe do Programa de Meio Ambiente da ONU, aos delegados. O grande desafio é todos os países signatários da ONU transformarem suas economias em um modelo mais limpo, baseado em energias renováveis, principalmente.


Usina de energia térmica em Sófia, capital da Bulgária: fumaça que contribui para o efeito estufa  (DIMITAR DILKOFF/AFP %u2013 14/2/13 )
Usina de energia térmica em Sófia, capital da Bulgária: fumaça que contribui para o efeito estufa

O texto destacará a urgência de tomar medidas para poder conter o aquecimento da Terra a mais 20 C, um objetivo adotado pelos 195 países que negociam sob os auspícios da ONU, mas que parece cada vez mais distante, segundo cientistas. Esboços do novo relatório do IPCC indicam que as atividades humanas, principalmente a queima de combustíveis fósseis, são, de forma “extremamente provável” (pelo menos 95% de probabilidade), a principal causa do aquecimento global desde a década de 1950. O relatório, assinado por 259 autores de 39 países, é o primeiro de quatro que o IPCC deve lançar em 2014 para tratar do aquecimento global. Os ambientalistas querem uma ação rápida. O Greenpeace disse que os governos deveriam acabar o relatório e passar para as energias limpas. Samantha Smith, do WWF, disse: “O mundo natural está enviando um sinal de socorro, e estamos ignorando isso por nossa conta e risco”.




"Espero que o mundo entenda a simplicidade e a gravidade da mensagem que vamos fornecer. As provas científicas das (...) mudanças climáticas se reforçaram a cada ano, deixando pouca incerteza, salvo sobre suas graves consequências" -Rajendra Pachauri, presidente do IPCC



"Relatório será inquestionável", diz Pachauri

O IPCC já publicou quatro relatórios, em 1990, 1995, 2001 e 2007, que confirmaram o papel que o ser humano desempenha no aquecimento observado no século 20. O informe de 2007 previa um aumento da temperatura média do planeta entre 1,8 e 4 graus e a possibilidade de uma elevação até 60 C com relação às temperaturas anteriores à Revolução Industrial. Este documento indicava a causa humana era vista como “muito provável”, ou uma probabilidade de pelo menos 90%. Em 2010, pouco depois do fracasso da cúpula de Copenhague (em 2009) que pretendia alcançar um acordo climático mundial, o IPCC foi questionado pelos céticos do aquecimento global, que destacaram alguns erros em seu último informe, como o que falava do risco de um derretimento dos gelos do Himalaia antes de 2035.

A data não se baseou em uma das publicações científicas submetidas à avaliação do IPCC. A instituição admitiu ter cometido um “erro lamentável”, embora tenha esclarecido que não colocava em dúvida a validade de suas conclusões. O texto atual indica que a maior parte desses impactos deve piorar se os governos não tomarem medidas para reduzir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa, diz o texto.

Rajendra Pachauri prometeu que o diagnóstico contido no informe será inquestionável. “Não conheço um documento que tenha sido submetido a este tipo de análise minuciosa e que tenha envolvido tantas pessoas com espírito crítico, que ofereceram sua perspicácia e conselhos”, afirmou o co-presidente do grupo de trabalho que assinou o documento, Thomas Stocker. “O documento se baseou em milhares de medições na atmosfera, na terra, no gelo, no espaço”, acrescentou o cientista suíço, que é professor da Universidade de Berna. Ele ressaltou que estas medidas permitem ter uma visão sem precedentes e imparcial do estado do sistema climático. “A mudança climática é um dos grandes desafios de nossa época”, reafirmou o especialista, acrescentando que “esta mudança ameaça nossos recursos primários, a terra e a água. E como ameaça nossa única residência, devemos enfrentá-la”, ressaltou o especialista, frisando que isso exige “as melhores informações para tomar as medidas mais eficazes”.

Simpósio da ABC
No Brasil, eventos extremos, principalmente de chuva, têm sido trágicos e, lamentavelmente, frequentes. De triste lembrança recente são os episódios na região serrana do Rio de Janeiro (janeiro de 2011 e março de 2013) e no Morro do Bumba, em Niterói (abril de 2010), que causaram enorme comoção nacional. Diante disso, o Grupo de Estudos sobre Mudanças Ambientais Globais da Academia Brasileira de Ciências (ABC) está organizando para quinta-feira o simpósio “Mudanças climáticas e desastres naturais no Brasil: desafios e oportunidades para o setor de seguros”. A iniciativa foi do banco Itaú, membro institucional da ABC, que propôs à academia e à Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg) que trabalhassem juntas para organizarem evento sobre o assunto. O evento será na sede da ABC, no Centro do Rio de Janeiro. Mais informações e inscrições: Vitor Vieira (vvieira@abc.org.br). 

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