Estado de Minas: 12/09/2013
Luisa Chang viajou de
avião durante 34 horas para vir a Resistência, no Chaco, falar de
poesia chinesa. Luisa é catedrática de literatura na Universidade de
Taiwan. Não sei quanto tempo levou Orlando van Bredam, da Universidade
Nacional de Formosa. Nem que distância percorreram tantos que ali
estavam, da Europa, da América Latina e os muitos vindos de ônibus de
outras províncias argentinas. Mas a distância deixava de ser um
diferencial, uma vez que todos havíamos chegado, prontos para começar o
trabalho.
No imenso salão do Centro de Convenções, que se inaugurava com nosso Foro pelo Fomento do Livro e da Leitura, 1,3 mil professores nos esperavam. E no cerne de tantas falas que se apresentariam nos três dias seguintes, a mesma preocupação: como fazer crianças leitoras, que livros escolher para elas.
As crianças do Chaco fui encontrá-las em um colégio. “Qual é o livro seu de que você mais gosta?”, me perguntou o menininho. E colegas dele me perguntaram também com que idade eu havia começado a escrever, quanto tempo levo para escrever um livro, de onde tiro as ideias para as minhas histórias. Exatamente as mesmas perguntas que me fazem as crianças brasileiras quando visito escolas e que me fizeram na Colômbia e na Guatemala. Nunca me perguntam se tenho cachorro, se sei nadar ou se já caí de bicicleta. Nunca sequer me perguntam se tenho irmão.
Não conheço Taiwan e esqueci de perguntar a Luisa se as crianças de lá têm o mesmo tipo de curiosidade quando interrogam um escritor. Teria sido interessante saber. Pois a repetição das mesmas perguntas em geografias diversas pode significar duas coisas: uma, que as crianças são iguais em qualquer parte do mundo; duas, que apesar de diferenças curriculares, a escola equaliza as crianças.
Não tenho a resposta, embora me incline pela segunda hipótese. Sei, pelos colegas, que as perguntas são as mesmas para eles também. Com isso, podemos crer que diante de um escritor, seja ele quem for, as crianças em sala de aula não se sentem diante de uma pessoa como qualquer outra, mas sim diante de um modelo humano chamado escritor. Desse modelo não interessa saber sobre seu amor aos cães ou suas habilidade natatórias, o cotidiano é irrelevante. As únicas perguntas consideradas válidas pelos professores dizem respeito à profissão. E, sem conhecimento do que seja uma vida de escritor, o jeito é recorrer a perguntas tão estereotipadas quanto o modelo.
O desafio do escritor acaba sendo o mesmo, quer ao responder perguntas em escolas, quer ao escrever os livros que as crianças das escolas lerão: sair do modelo preestabelecido, ignorar o estereótipo e despertar nos leitores a curiosidade genuína, aquela que se ancora na emoção.
Foi disso que se falou no foro organizado pela Fundação Mempo Giardinelli? Não dessa maneira, mas, como no jogo do bicho, cercando o tema da leitura pelos sete lados. Cada um dos mais de 40 escritores e especialistas convidados trouxe sua contribuição e deixou sua imagem em tantas câmaras e celulares .
Luisa Chang ainda enfrentaria muitas horas de ônibus até Assunção, para de lá tomar o avião e começar a contar as 34 horas da volta. Mas sorria radiante, enquanto as professoras do Chaco conservavam, talvez para sempre, o ilustre nome do poeta Li Pó.
No imenso salão do Centro de Convenções, que se inaugurava com nosso Foro pelo Fomento do Livro e da Leitura, 1,3 mil professores nos esperavam. E no cerne de tantas falas que se apresentariam nos três dias seguintes, a mesma preocupação: como fazer crianças leitoras, que livros escolher para elas.
As crianças do Chaco fui encontrá-las em um colégio. “Qual é o livro seu de que você mais gosta?”, me perguntou o menininho. E colegas dele me perguntaram também com que idade eu havia começado a escrever, quanto tempo levo para escrever um livro, de onde tiro as ideias para as minhas histórias. Exatamente as mesmas perguntas que me fazem as crianças brasileiras quando visito escolas e que me fizeram na Colômbia e na Guatemala. Nunca me perguntam se tenho cachorro, se sei nadar ou se já caí de bicicleta. Nunca sequer me perguntam se tenho irmão.
Não conheço Taiwan e esqueci de perguntar a Luisa se as crianças de lá têm o mesmo tipo de curiosidade quando interrogam um escritor. Teria sido interessante saber. Pois a repetição das mesmas perguntas em geografias diversas pode significar duas coisas: uma, que as crianças são iguais em qualquer parte do mundo; duas, que apesar de diferenças curriculares, a escola equaliza as crianças.
Não tenho a resposta, embora me incline pela segunda hipótese. Sei, pelos colegas, que as perguntas são as mesmas para eles também. Com isso, podemos crer que diante de um escritor, seja ele quem for, as crianças em sala de aula não se sentem diante de uma pessoa como qualquer outra, mas sim diante de um modelo humano chamado escritor. Desse modelo não interessa saber sobre seu amor aos cães ou suas habilidade natatórias, o cotidiano é irrelevante. As únicas perguntas consideradas válidas pelos professores dizem respeito à profissão. E, sem conhecimento do que seja uma vida de escritor, o jeito é recorrer a perguntas tão estereotipadas quanto o modelo.
O desafio do escritor acaba sendo o mesmo, quer ao responder perguntas em escolas, quer ao escrever os livros que as crianças das escolas lerão: sair do modelo preestabelecido, ignorar o estereótipo e despertar nos leitores a curiosidade genuína, aquela que se ancora na emoção.
Foi disso que se falou no foro organizado pela Fundação Mempo Giardinelli? Não dessa maneira, mas, como no jogo do bicho, cercando o tema da leitura pelos sete lados. Cada um dos mais de 40 escritores e especialistas convidados trouxe sua contribuição e deixou sua imagem em tantas câmaras e celulares .
Luisa Chang ainda enfrentaria muitas horas de ônibus até Assunção, para de lá tomar o avião e começar a contar as 34 horas da volta. Mas sorria radiante, enquanto as professoras do Chaco conservavam, talvez para sempre, o ilustre nome do poeta Li Pó.
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