Sara Lira
Estado de Minas: 28/10/2013
Diva Pimenta, com os filhos Arthur e Davi, que passaram pela cirurgia de retirada de amígdalas. Segundo a mãe, a qualidade de vida dos meninos mudou |
Universitária Diva Pimenta Magalhães, de 25 anos, retirou as amígdalas aos 15, numa época em que a cirurgia era indicada com menos rigor do que atualmente. Ela lembra que o pós-operatório foi complicado. "Foi muito doloroso e eu não conseguia comer nada. Perdi quase 15 quilos em apenas dois meses", conta. Anos depois, já mãe, ela precisou reviver a história com o filho mais velho, Davi, hoje com 4 anos. "As amígdalas dele eram enormes e quase fechavam a garganta. Ele roncava muito durante à noite e dormia mal. Como ele respirava pela boca, sua dentição estava ficando comprometida. Além disso, ele tinha dor de garganta com febre altíssima frequentemente", recorda-se.
A cirurgia trouxe benefícios para o garoto e a surpresa foi que a recuperação foi mais tranquila do que a dela. "Ele melhorou na escola, ficou mais ativo e um dos maiores benefícios foi que Davi não acordou mais à noite", comemora Diva. No mês passado, o caçula da família, Arthur, também teve que passar pelo procedimento cirúrgico, pelos mesmos problemas do irmão: dificuldade para respirar, engolir, além de ele adoecer com frequência. Apenas dois dias depois da operação o garoto já estava brincando e começando a comer alguns alimentos.
As amígdalas, ou tonsilas palatinas, ficam na região próxima à base da língua denominada orofaringe e fazem parte do sistema imunológico do nosso organismo, pois têm a função de produzir substâncias de defesa, como as imunoglobulinas, que funcionam como anticorpos e no controle bacteriano local. Em muito casos, as amígdalas – que são duas massas de tecido, uma de cada lado da garganta no fundo da boca – não geram complicações, mas para muitas pessoas elas se tornam um verdadeiro problema. As amígdalas, assim como as adenoides, são parte de um "anel" de tecido glandular que envolve internamente a garganta. As adenoides, no entanto, estão localizadas na parte superior da garganta no fundo do nariz, por onde passa o ar que respiramos pelo nariz, portanto não é visível pela boca sem instrumentos especiais.
Quando o esquema de defesa das amígdalas não funciona de forma adequada, elas podem infeccionar e o tratamento geralmente é feito com antibióticos. Porém, há situações em que esse processo ocorre com frequência, como em vários momentos do ano. "Há casos de infecções de repetição por queda de imunidade, geralmente causada por estresse, má qualidade de vida ou predisposição pessoal", afirma o diretor da Academia Brasileira de Laringologia e Voz, entidade da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial, João Batista de Oliveira Andrade.
Às vezes, as amígdalas se desenvolvem muito e podem provocar obstrução das vias aéreas, comprometendo a respiração, a qualidade de vida e o sono, causando ronco e a apneia. Nesse caso, elas vêm acompanhadas da adenoide, que é o aumento das tonsilas faríngeas, localizadas na transição do nariz com a faringe. "As amígdalas têm um crescimento a partir dos 2 anos, com redução da sua evolução a partir dos 6 anos, culminando com redução quase total, ou involução, a partir do décimo ano de vida. Há casos em que não ocorre essa involução, mas sim uma hipertrofia, levando até mesmo a obstrução das vias aerodigestivas", explica João Batista.
QUEDA EM CIRURGIAS Segundo o médico João Batista, a cirurgia era mais comum há alguns anos, mas, atualmente há mais rigor para indicá-la. Em uma comparação do Ministério da Saúde entre os anos de 2011 e 2012, o número de procedimentos feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) caiu de 41.435 para 41.241. "As cirurgias foram muito comuns antigamente, mas houve redução devido aos estudos da fisiologia das amígdalas, descobertas sobre as defesas locais e melhor compreensão sobre as funções delas no organismo", afirma o otorrinolaringologista.
A professora do curso de medicina da Universidade de Brasília (UnB) e chefe do Serviço de Otorrinolaringologia da instituição, Alessandra Ramos, acrescenta que a modernização dos medicamentos também contribuiu para a redução do número de cirurgias. "Hoje existem mais antibióticos e é possível controlar, do ponto de vista clínico, muitos casos de infecções que antes a gente não conseguia", diz. De acordo com a especialista, há o mito de que pacientes que passaram pela amigdalectomia podem sofrer queda da imunidade ou ter mais facilidade de desenvolver faringite. "Hoje, a cirurgia só é indicada nos casos que o médico tem absoluta certeza de que ela vai resolver o problema. A retirada das amígdalas não causa deficiência imunológica, pois quando ela é removida é porque o tecido estava doente e não fazia o papel de defesa de forma adequada", afirma Alessandra.
Por dentro do seu corpo
Amígdalas e adenoides são compostas de um tecido parecido com os dos linfonodos ou gânglios. Elas são parte de um anel de tecido glandular que envolve internamente a garganta.
Os problemas mais comuns nas amígdalas são as infecções, que causam dor de garganta, aumento das amígdalas e adenoides (dificultando a respiração e deglutição). É importante procurar um otorrinolaringologista ao ter muitas infecções de garganta com febre; mau hálito forte; nariz entupido; respirar pela boca; ronco e sono muito agitado.
Geralmente, os tratamentos de amigdalite infecciosa são feitos com antibióticos. Para a amigdalite caseosa, é preciso redobrar os cuidados com a higiene oral para evitar que restos de comida se acumulem nas amígdalas. "Os cáseos não devem ser retirados à força pela pessoa, pois esse processo pode causar lesões no tecido amigdaliano. Quem tem o problema deve procurar orientação de um otorrinolaringologista", sugere a especialista Alessandra Ramos.
adenoides
estão localizadas na parte superior da garganta no fundo do nariz, por onde passa o ar que respiramos pelo nariz, portanto não são visíveis pela boca sem instrumentos especiais. As adenoides grandes ocorrem quase exclusivamente em crianças e na puberdade regridem de tamanho. As grandes podem causar obstrução nasal e levar a criança a dormir com a boca aberta, roncando à noite e gerando alterações na arcada dentária. Esse processo pode desencadear ainda problemas no ouvido, como otite.
amígdalas
Ficam no fundo da boca, estrategicamente localizadas perto das entradas do ar que respiramos. Elas podem facilmente ser infectadas por vírus ou bactérias que vêm com o ar. É por isso que ajudam a formar anticorpos contra esses germes como parte do sistema imunológico para que o organismo resista a infecções. Essa função é muito forte nos primeiros anos de vida e vai se tornando menos importante quando a criança vai crescendo.
Virótica e bacteriana
As infecções frequentes das amígdalas, as amigdalites, podem ser causadas por vírus, e mesmo as geradas por bactérias podem inicialmente ter sido infectadas por vírus. Febre, dor de garganta, dor para engolir, mau hálito, caroços no pescoço e mal-estar são sintomas que podem ocorrer em caso de amigdalite. A intensidade desses sintomas varia muito, e há casos em que o paciente precisa até ficar em repouso. O tratamento é principalmente contra os sintomas, com antitérmicos para diminuir o mal-estar provocado por febre e eventualmente analgésicos anti-inflamatórios, sob orientação médica, para diminuir a dor e permitir que o paciente se alimente bem.
Quando a infecção das amígdalas é causada por bactérias, ou seja, quando a amigdalite é bacteriana, é necessário tomar antibióticos para evitar complicações. Nesse tipo de infecção, o paciente costuma apresentar febre acima de 38 graus e bastante indisposição. Nesse caso é fundamental procurar o auxílio de um médico.
Caseosa
Um outro tipo de problema comum, mas que não causa problemas graves à saúde, é a amigdalite caseosa. As amígdalas têm estrutura anatômica formada por criptas, ou seja, pequenos buracos, e algumas pessoas têm esses órgãos maiores, causando alargamento dessas aberturas. Nessas regiões vão se juntando restos de alimentos, descamações celulares e outros micro-organismos que, juntos, formam o cáseo, ou caseum, que são pequenas massas de cor amarelada com odor desagradável.
Eles causam mau hálito e incômodo na garganta, como se a pessoa tivesse um corpo estranho na região. Eventualmente, essas "bolinhas" se soltam. O problema não é considerado uma infecção nem pode evoluir para problemas mais sérios. "Ela (amigdalite caseosa) não é grave, mas é muito desagradável porque causa halitose", afirma a professora da UnB Alessandra Ramos. O problema é crônico e não há cura. Apenas em casos raros, ele pode virar uma infecção. "Por haver colonização de bactérias, eventualmente podem desenvolver casos de infecção aguda com pus, dor ou febre, a serem tratados com antibióticos", explica o diretor da Academia Brasileira de Laringologia e Voz, João Batista de Oliveira Andrade.
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