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Sabe por onde andam seu CPF, número do celular, do telefone fixo e da carteira de identidade? Os endereços residencial e comercial? O número do seu ramal? O nome do pai, da mãe, da mulher, do filho? Se sabe, parabéns, porque a maioria desconhece. Sua ficha está nos arquivos do sindicato, do clube, no cadastro das lojas de departamentos, da imobiliária, do plano de saúde, do hospital, da operadora de telefonia. E, claro, nos computadores da Previdência, do banco, da Receita Federal, do Tribunal Regional Eleitoral, da companhia aérea. Essas listas são repassadas e até negociadas com empresas e todo tipo de gente. Sua vida está, definitivamente, devassada.
Não é raro a caixa de mensagens do celular apitar. E está lá o anúncio de uma pechincha em Venda Nova, de um conforto inalcançável no Belvedere ou a viagem dos sonhos a preços módicos e suaves prestações. Isso quando o aparelho não o acorda de madrugada ou o interrompe naquele momento único para aquela voz anunciar: “Temos uma oferta imperdível para você. Se quiser ouvir, aperte 1…”. Pior é quando o reclame é ao vivo: “Falo com o senhor fulano? O senhor poderia estar nos ouvindo por alguns minutos?”. Há coisas piores: mensagens recheadas de prêmios, enviadas de presídios. Ou o telefonema do bandido dizendo que seu filho, filha ou irmão foi sequestrado.
Esse lero-lero, essa lenga-lenga toda para falarmos da surpresa do Paulo, simplesmente Paulo. Funcionário de uma grande empresa, preparou-se para a aposentadoria. Esperou pacientemente o dia de correr ao posto do INSS e pedir a pensão. A idade não está mais apropriada a reuniões, relatórios, folhas de ponto, broncas da chefia. Juntou a papelada e foi procurar os direitos depois de trinta e tantos anos de labuta. Entregou tudo e foi para casa esperar a confirmação do pedido. Mas o que chegou primeiro foi a carta de terceiros cumprimentando-o pela aposentadoria e colocando-se à disposição para lhe repassar informações importantes. Bastaria ligar para o número indicado na carta.
E ele ligou, com a cautela de mineiro desconfiado do Vale do Jequitinhonha. Do outro lado da linha, informaram-no de que havia à disposição um crédito de financiamento consignado, garantido, de determinado valor. A partir de então, acabou o sossego. Pipocaram mensagens no celular, de bancos diferentes, parabenizando-o e oferecendo empréstimos. E a aposentadoria nem havia sido concedida. Paulo pegou o telefone e ligou para a ouvidoria do INSS. Resposta: “Procure uma agência da Previdência e diga que não tem interesse em financiamentos”. Simples assim, como disse um amigo de Paulo. É, o tal benefício é uma concessão casada?
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Em tempo: Seis vergalhões de aço especial, pesando toneladas, coisa de R$ 7 milhões a R$ 8 milhões, propriedade da prefeitura e do povo, somem de um galpão no Rio de Janeiro. Assim, num passe de mágica, sem alvará ou licença da prefeitura. Em outro canto, 11 mil enormes cisternas, avaliadas em mais de R$ 700 milhões, enferrujam no depósito de um sindicato rural, enquanto milhares de pequenos produtores nordestinos veem animais e plantações morrendo, sem água. Quem, mas quem mesmo, está tomando conta deste país?
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