Terapia integral contra a malária
Descoberta substância capaz de interferir em todos os estágios do ciclo de vida do plasmódio, parasita causador da doença, que mata 660 mil pessoas anualmente
Paloma Oliveto
Estado de Minas: 28/11/2013
Há pelo menos 5
mil anos, a malária ronda a humanidade. Manuscritos egípcios do século 3
a.C. relatam a existência de uma estranha condição médica –
interpretada por muitos como uma maldição dos deuses – que provocava
febre alta, acompanhada de calafrios, vômitos e fortes dores pelo corpo.
Apesar de tão antiga, a doença ainda carece de um remédio de ampla
atuação, que não só aplaque os graves sintomas, mas combata a ação do
parasita em todas as suas fases, inclusive aquela em que está latente.
Uma pesquisa publicada na revista Nature sugere que a busca por esse
composto pode estar perto do fim.
Atualmente, a droga mais completa no mercado tem mais de meio século: data de 1952, quando a primaquina foi aprovada pelo Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos. Embora eficaz, a substância tem sérios efeitos colaterais, sendo o pior deles uma anemia que pode matar indivíduos com uma deficiência enzimática, comum justamente nas áreas onde a malária é endêmica, o que limita bastante seu uso.
“Além disso, é preciso tomar a primaquina por muito tempo; o tratamento prescrito pode chegar a duas semanas, então, obedecer a esse prazo pode ser um problema”, diz Elizabeth A. Winzeler, principal autora do estudo e pesquisadora da Universidade da Califórnia em San Diego. Para piorar a situação, ela lembra que diversos estudos indicam o surgimento de populações de parasitas resistentes, o que diminui a efetividade dos medicamentos.
Enquanto isso, o plasmódio, transmitido para o organismo humano por meio da picada da fêmea do mosquito Anopheles infectada, tira 660 mil vidas por ano, sendo 90% dos casos concentrados na África. Elizabeth explica que o Plasmodium vivax é o mais comum em todo o mundo, enquanto que o P. falciparum é considerado o mais letal. A Organização Mundial da Saúde estima 216 milhões de ocorrências da doença no planeta, principalmente entre mulheres grávidas e crianças. “Há uma clara necessidade de encontrarmos maneiras de combater os parasitas da malária ao longo de todos os estágios do ciclo de vida deles”, diz a pesquisadora.
Enzima Elizabeth, que também é diretora do Centro de Imunidade, Infecção e Inflamação da universidade, explica que, para considerar a malária eliminada do organismo, um bom medicamento deve primeiro combater os sintomas que aparecem quando o plasmódio se instala na corrente sanguínea. A droga deve também evitar que o parasita chegue ao fígado, onde ele se reproduz. Finalmente, é preciso bloquear novas transmissões, evitando que, a cada picada de mosquito, uma pessoa afetada acabe infectando dezenas de outras. Tudo isso, de acordo com a estudiosa, pode ser feito por uma classe de antimaláricos chamados imidazopirazinas, que tem como alvo uma enzima essencial para o crescimento e o desenvolvimento do plasmódio.
Na pesquisa, os cientistas identificaram a substância orgânica PI4K, envolvida no metabolismo de ácidos graxos, como o foco do combate ao plasmódio. Isso porque ela desempenha um papel crucial em todos os estágios do ciclo de vida do parasita. Em roedores e primatas não humanos, constatou-se que as imidazopirazinas conseguem inibir essa enzima. Dessa forma, elas combatem os sintomas da fase sanguínea, evitam a infecção do fígado e impedem a infecção do mosquito vetor. Elizabeth Winzeler destaca que a estratégia alcançou um importante progresso, eliminando a possibilidade de o plasmódio se alojar em silêncio no fígado. Uma vez no órgão, ele é capaz de ficar latente durante muitos anos, sem ser detectado, até se manifestar novamente.
“A dra. Winzeler teve uma ideia muito criativa e poderosa para ajudar a identificar os alvos para futuras drogas contra a malária”, avaliou, em um comunicado de imprensa, Case NcMara, coautora do artigo e pesquisadora do Instituto Genoma da Fundação de Pesquisa Novartis. Ela se refere à sofisticada tecnologia empregada pelos pesquisadores, que reproduziu cada estágio do ciclo de vida do parasita em tubos de ensaio. A cientista explicou que, como a PI4K também existe em humanos, o próximo desafio é desenvolver uma droga que consiga discriminar entre a enzima do indivíduo infectado e a do plasmódio, pois apenas a do segundo deve ser inibida.
Pesquisadora do Grupo de Saúde Global da Universidade da Califórnia em San Francisco, Allison Mills destaca a importância de impedir a recorrência da doença, ao eliminar o estágio de latência do plasmódio. Enquanto o medicamento ideal ainda é desenvolvido nos laboratórios, ela ressalta a necessidade de melhorar os testes de diagnóstico e os métodos de detecção da deficiência na enzima glicose 6 fosfato desidrogenase, que está relacionada à anemia severa em indivíduos que tomam altas doses de primaquina.
“Quando pensamos na eliminação da malária, temos de nos debruçar sobre várias questões. É muito importante encontrar um remédio, mas também temos de pensar em políticas globais de longo prazo que garantam o acesso desse medicamento a todos que realmente necessitam dele”, reforça Allison.
“É muito importante encontrar um remédio, mas também temos de pensar em políticas globais de longo prazo que garantam o acesso desse medicamento a todos que realmente necessitam dele”
Allison Mills,
pesquisadora da Universidade da Califórnia em San Francisco
Atualmente, a droga mais completa no mercado tem mais de meio século: data de 1952, quando a primaquina foi aprovada pelo Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos. Embora eficaz, a substância tem sérios efeitos colaterais, sendo o pior deles uma anemia que pode matar indivíduos com uma deficiência enzimática, comum justamente nas áreas onde a malária é endêmica, o que limita bastante seu uso.
“Além disso, é preciso tomar a primaquina por muito tempo; o tratamento prescrito pode chegar a duas semanas, então, obedecer a esse prazo pode ser um problema”, diz Elizabeth A. Winzeler, principal autora do estudo e pesquisadora da Universidade da Califórnia em San Diego. Para piorar a situação, ela lembra que diversos estudos indicam o surgimento de populações de parasitas resistentes, o que diminui a efetividade dos medicamentos.
Enquanto isso, o plasmódio, transmitido para o organismo humano por meio da picada da fêmea do mosquito Anopheles infectada, tira 660 mil vidas por ano, sendo 90% dos casos concentrados na África. Elizabeth explica que o Plasmodium vivax é o mais comum em todo o mundo, enquanto que o P. falciparum é considerado o mais letal. A Organização Mundial da Saúde estima 216 milhões de ocorrências da doença no planeta, principalmente entre mulheres grávidas e crianças. “Há uma clara necessidade de encontrarmos maneiras de combater os parasitas da malária ao longo de todos os estágios do ciclo de vida deles”, diz a pesquisadora.
Enzima Elizabeth, que também é diretora do Centro de Imunidade, Infecção e Inflamação da universidade, explica que, para considerar a malária eliminada do organismo, um bom medicamento deve primeiro combater os sintomas que aparecem quando o plasmódio se instala na corrente sanguínea. A droga deve também evitar que o parasita chegue ao fígado, onde ele se reproduz. Finalmente, é preciso bloquear novas transmissões, evitando que, a cada picada de mosquito, uma pessoa afetada acabe infectando dezenas de outras. Tudo isso, de acordo com a estudiosa, pode ser feito por uma classe de antimaláricos chamados imidazopirazinas, que tem como alvo uma enzima essencial para o crescimento e o desenvolvimento do plasmódio.
Na pesquisa, os cientistas identificaram a substância orgânica PI4K, envolvida no metabolismo de ácidos graxos, como o foco do combate ao plasmódio. Isso porque ela desempenha um papel crucial em todos os estágios do ciclo de vida do parasita. Em roedores e primatas não humanos, constatou-se que as imidazopirazinas conseguem inibir essa enzima. Dessa forma, elas combatem os sintomas da fase sanguínea, evitam a infecção do fígado e impedem a infecção do mosquito vetor. Elizabeth Winzeler destaca que a estratégia alcançou um importante progresso, eliminando a possibilidade de o plasmódio se alojar em silêncio no fígado. Uma vez no órgão, ele é capaz de ficar latente durante muitos anos, sem ser detectado, até se manifestar novamente.
“A dra. Winzeler teve uma ideia muito criativa e poderosa para ajudar a identificar os alvos para futuras drogas contra a malária”, avaliou, em um comunicado de imprensa, Case NcMara, coautora do artigo e pesquisadora do Instituto Genoma da Fundação de Pesquisa Novartis. Ela se refere à sofisticada tecnologia empregada pelos pesquisadores, que reproduziu cada estágio do ciclo de vida do parasita em tubos de ensaio. A cientista explicou que, como a PI4K também existe em humanos, o próximo desafio é desenvolver uma droga que consiga discriminar entre a enzima do indivíduo infectado e a do plasmódio, pois apenas a do segundo deve ser inibida.
Pesquisadora do Grupo de Saúde Global da Universidade da Califórnia em San Francisco, Allison Mills destaca a importância de impedir a recorrência da doença, ao eliminar o estágio de latência do plasmódio. Enquanto o medicamento ideal ainda é desenvolvido nos laboratórios, ela ressalta a necessidade de melhorar os testes de diagnóstico e os métodos de detecção da deficiência na enzima glicose 6 fosfato desidrogenase, que está relacionada à anemia severa em indivíduos que tomam altas doses de primaquina.
“Quando pensamos na eliminação da malária, temos de nos debruçar sobre várias questões. É muito importante encontrar um remédio, mas também temos de pensar em políticas globais de longo prazo que garantam o acesso desse medicamento a todos que realmente necessitam dele”, reforça Allison.
“É muito importante encontrar um remédio, mas também temos de pensar em políticas globais de longo prazo que garantam o acesso desse medicamento a todos que realmente necessitam dele”
Allison Mills,
pesquisadora da Universidade da Califórnia em San Francisco
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