Morre aos 88 anos o bicampeão mundial Nílton Santos, o melhor lateral-esquerdo de todos os tempos. Atleta sofria do mal de Alzheimer e vivia numa clínica desde 2007
Estado de Minas: 28/11/2013
Em 16 anos de carreira, o atleta jogou num único clube, o Botafogo: convocação para a Seleção Brasileira veio já na temporada seguinte após sua estreia profissional |
O futebol brasileiro deu adeus ontem a um dos maiores ídolos e mestres de sua história. O ex-lateral-esquerdo Nílton Santos, da Seleção Brasileira e do Botafogo, morreu aos 88 anos em decorrência de insuficiência respiratória e cardíaca, na Clínica Bela Lopes, em Botafogo, Zona Sul do Rio. O craque botafoguense estava internado desde sábado. Teve uma pneumonia diagnosticada na segunda-feira com leve melhora no quadro no dia seguinte, mas não resistiu. Ele sofria de mal de Alzheimer (doença degenerativa do cérebro) e morava na Clínica da Gávea havia seis anos por causa da enfermidade. O clube carioca preparou o velório no salão nobre da sede de General Severiano.
Bicampeão mundial em 1958 e 1962 e eleito pela Fifa o maior lateral-esquerdo de todos os tempos, Nílton Santos enfrentava problemas de saúde desde 2007. Teve ainda dengue hemorrágica. O ex-jogador era acompanhado de perto pela segunda esposa, Maria Célia, com quem vivia havia 41 anos. Do primeiro casamento, o eterno camisa 6 alvinegro teve dois filhos: Carlos Eduardo e Andréa.
As despesas médicas eram custeadas pelo Botafogo como uma forma de reconhecimento pelos serviços prestados ao único time que defendeu na carreira. Nílton Santos jogou no clube de General Severiano de 1948 a 1964 e ficou conhecido como a “Enciclopédia do Futebol”. O último jogo oficial foi contra o Flamengo em 13 de dezembro de 1964, com triunfo alvinegro por 1 a 0.
Em 1998, o ex-camisa 6 recebeu o título de lateral-esquerdo da Seleção Mundial do Século, em Paris. Com a morte de Nílton Santos, dos campeões mundiais de 1958 agora estão vivos oito: Bellini, Pelé, Zagallo, Mazola, Pepe, Moacir, Dino Sani e Zito.
Antes de Nílton Santos, a lateral esquerda era apenas uma periferia do campo de futebol, onde os jogadores se limitavam às ações defensivas. Ele revolucionou essa história. Atuando com qualidade técnica sem precedentes para a época, avançava para apoiar o ataque e criar boas oportunidades de gols.
Seu talento foi descoberto aos 23 anos. O destino trabalhou para que se eternizasse com a camisa botafoguense. Quando prestava serviço na Aeronáutica, foi levado por um sargento para treinar nas Laranjeiras. Ao chegar ao Fluminense, no entanto, o tímido e modesto Nílton Santos não se considerou digno de dividir o campo com Queixada e Rodrigues, dois jogadores da Seleção Brasileira. Deu meia-volta e foi parar no rival.
No alvinegro, os companheiros mais próximos foram Pirilo, Garrincha, Didi, Amarildo, Caca, Zagallo e Rildo.
Era um atleta que defendia sem bater, finalizava bem com os dois pés e jamais chutou de bico. No início, sonhava atuar como atacante (tinha 1,84m), mas foi dissuadido da ideia pelo treinador Zezé Moreira.
AMARELINHA O talento logo levou Nílton Santos à Seleção Brasileira. A primeira convocação ocorreu em 1949, um ano após estrear como profissional. Disputou as Copas do Mundo de 1950 (reserva), 1954, 1958 e 1962, sagrando-se bicampeão nas duas últimas.
“Além de ter sido craque, foi grande exemplo e serei eternamente agradecido pelo que fez por mim. É mais um grande brasileiro que deverá ser sempre lembrado por todos”, reverenciou Pelé.
Sobre ele, o jornalista Armando Nogueira, um dos maiores cronistas esportivos brasileiros, sintetizou: “Tu, em campo, parecias tantos. E, no entanto, que encanto! Eras um só, Nílton Santos”.
O QUE ELE DISSE
“É a minha vida. Foi quem me deu tudo. Nunca me traiu, nunca me bateu na canela. Sempre me obedeceu. Minha bola é minha vida”
“Eu invejo os laterais de hoje. Não pelo dinheiro que eles ganham, mas pela liberdade que têm para jogar”
“Pelé, Garrincha e Didi jogam no nosso time. Os suecos que passem a noite em claro pensando em como marcar o Brasil. Eu vou dormir sossegado”
HERÓIS QUE SE FORAM
Os 19 campeões pelo Brasil que já morreram
.Gilmar (1968/62)
.Castilho (1958/62)
.Djalma Santos (1958/62)
.De Sordi (1958)
.Mauro (1958/62)
.Orlando (1958)
.Zózimo (1958/62)
.Nílton Santos (1958/62)
.Oreco (1958)
.Didi (1958/62)
.Garrincha (1958/62)
.Joel (1958)
.Vavá (1958/62)
.Dida (1958)
.Jurandir (1962)
.Zequinha (1962)
.Félix (1970)
.Fontana (1970)
.Everaldo (1970)
A lição do mestre - Carlos Marcelo
Nunca vi Nílton Santos jogar. Mas sempre o admirei por mostrar que o futebol é mais do que um jogo de vencedores e vencidos. Quando o talento se une à simplicidade e à honradez, o mais apaixonante dos esportes pode produzir imagens de encanto, capazes de desafiar o tempo e se alojar no inconsciente coletivo – de uma torcida, de um país.
Jogador que vestiu a camisa de um só clube, Nílton Santos participou de quatro Copas. Ganhou duas. Fez mais: com o ímpeto e o talento para atacar, mesmo sem o consentimento de seus treinadores, espantou o mundo e inaugurou a era dos laterais ofensivos. Como definiu outro bicampeão, o santista Zito, ao site da Fifa: “Quando você joga futebol como Nílton Santos, não importa a posição. Ele não era defensor nem atacante. Era uma estrela; simples assim”.
Bicampeão mundial, considerado o melhor de todos os tempos em sua posição, jamais recorreu ao marketing para brilhar. Ele não ostentou, ele não alardeou, ele não se jactou; ele foi. Por isso, a lição da Enciclopédia do Futebol vai além do Botafogo que incondicionalmente amou e do Brasil que orgulhosamente defendeu. Nílton Santos deixa uma aula de altivez e hombridade; uma lição de vida. Estrelas assim jamais se apagam.
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