Zero Hora - 27/11/2013
Passei os últimos 21 dias realizando um sonho antigo: conhecer a
Tailândia e, de quebra, dar um pulinho no Camboja logo ali ao lado –
ainda que seja um disparate falar em “logo ali” ao referir-se à Ásia.
Acompanhada do grupo seleto comandado pelas gurias do Viajando com
Arte, vivi em três semanas o que nunca imaginei possível em menos de
três vidas: fiz desde um safári de elefante até rafting de jangada, fui
de mergulho em alto-mar a passeio de barco por aldeias flutuantes, de
luau na beira da praia a cerimônia de bênção de um monge, sem falar na
apimentada aventura gastronômica e no impacto de conhecer os templos de
Angkor montada numa bicicleta. Cada dia parecia possuir 40 horas,
exatamente o que se deseja quando se está num ritmo frenético de
trabalho, com a vantagem de o trabalho ter sido deixado pronto antes.
Os detalhes ficarão para a segunda parte de Um Lugar na Janela,
relatos de viagem que um dia voltarei a publicar. Por ora, sendo o
espaço curto, saliento o reencontro com algo que se tornou raro entre
nós: a delicadeza.
O Oriente não grita. O Oriente sussurra.
Além de usarem um tom de voz absolutamente relaxante para nossos
ouvidos estressados, nunca vi tantos sorrisos em rostos estranhos. As
pessoas sorriem o tempo todo umas para as outras. Por nada. Por tudo.
Trabalham sob um calor massacrante e ainda assim não se emburram, não
perdem a compostura, não passam a mão na testa, parece que nada que é
externo os atinge. O ar-condicionado funciona por dentro. A alma é que é
climatizada.
Sua cultura não estimula o contato físico que para nós é tão normal:
nem abraços, muito menos esbarrões. Não se tocam com o corpo: o contato
se dá com o olhar direto e com o semblante sereno de quem, em sua
infinita calma (90% da população é budista), tem tempo para ouvir os
outros e para repetir informações pacientemente até que fique claro que o
importante não é tocar, e sim trocar.
Até mesmo no apressado e caótico trânsito de Bangcoc, a coisa se resolve sem buzina.
Pessoas viajam pelo mundo para conhecer monumentos, comer, comprar. A
atenção geralmente é voltada para o que se pode fotografar com a câmera
e administrar com o bolso. A Tailândia e o Camboja são realmente
fotogênicos. Quanto às compras, o mundo virou um supermercado gigante e o
que se comercializa lá é vendido aqui também, compra-se mais por
impulso do que pela novidade. O que não se globalizou (ainda) é o
espírito do lugar, e isso é que verdadeiramente encanta: a reverência
que não é submissão, mas respeito. O silêncio que não é timidez, mas
educação. E flores e cores em abundância, que traduzem a importância do
mínimo essencial: a beleza que não é vaidade, mas manifestação de amor à
vida.
Impossível não voltar tocada.
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