Minigolfe
Se a Alemanha renasceu das cinzas da
Segunda Grande Guerra e a Coreia do Sul é hoje uma potência mundial, fio
que o Brasil se possa recuperar da separação de Grazi e Cauã
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 28/11/2013
Feira
paulistana na década de 1930 pode explicar o horror que tantas
celebridades brasileiras têm demonstrado pelas biografias. Contaram-me
que a feira ocupou terreno imenso com diversos estandes apresentando
e/ou vendendo os seus produtos. Na área das distrações, havia a barraca
de um mágico que adivinhava as vidas dos consulentes. Um jogo de
espelhos fazia aparecer a cabeça de linda mulher em cima de uma
plataforma, cabeça que contava diversas passagens das vidas dos
consulentes.
Muitos mineiros montaram seus estandes na feira,
entre os quais alguns que conheci mais tarde. Um deles, bom sujeito,
posto que muito feio e pouco inteligente, vivia assombrado com as
adivinhações da tal cabeça orientada pelo mágico.
Foi o
suficiente para um tio meu, que também tinha estande na feira, procurar o
mágico e contar o nome, a filiação, os colégios, tudo sobre a vida do
pouco inteligente, terminando por pedir ao mágico que dissesse, por
intermédio da cabeça de mulher, que o amigo deles, quando rapaz, gostava
de jogar golfinho.
Vejo no Houaiss que golfinho ou minigolfe foi
inspirado no golfe para ser jogado em campo de pequenas dimensões, cujo
percurso é entremeado de túneis, pontos, curvas fechadas e outros
obstáculos. Talvez pela posição do praticante durante as partidas, jogar
golfinho virou sinônimo de veadagem.
O mágico teve medo de ser
agredido pelo consulente, mas foi tranquilizado com bela gratificação e a
notícia de que os amigos do “golfista” garantiriam as coisas. E assim
lá foram todos consultar o mágico, à frente o feio e pouco inteligente,
que tinha orelhas de abano.
Além das orelhas de abano, o patrício
tinha o cacoete de juntar os braços perto da cintura, como se estivesse
levantando as calças. Cacoete que repetiu uma porção de vezes, enquanto
a cabeça dizia tudo de sua vida, mas tudo mesmo. E ele, assombrado:
“Não disse? Não falei?”. Até que a cabeça, meio encabulada, contou que o
consulente, quando jovem, era dado ao vício de jogar golfinho. Foi uma
gargalhada geral e o consulente emburrou.
Na volta para o hotel,
quando passaram sobre o Viaduto do Chá, o golfista gritou: “Para!
Para!”, o dono do carro freou e viu o amigo descer e se dirigir para o
parapeito do viaduto, com a seguinte notícia: “Vou me suicidar”. Só
desistiu do suicídio quando todos os amigos admitiram, sem ser verdade,
que também jogaram golfinho.
De repente, os celebres que hoje
defendem a proibição das biografias usando suas inteligências e seus
advogados para dizer que a censura não é censura, jogaram golfinho na
juventude ou ainda não craques no minigolfe.
Destruição
A
história registra inúmeros casos de países que sofreram baques
terríveis quando foram destruídos por guerras arrasadoras e se
recuperaram em pouco tempo. Poupando o leitor de uma lista interminável,
limito-me à Alemanha nazista, arrasada pelos aliados, transformada em
potência 30 ou 40 anos depois. O fenômeno coreano também é curioso: em
escassos 60 anos, como foi possível que a mesma península, com o mesmo
povo e a mesma língua, produzisse as duas Coreias de 2013?
Esses
fenômenos me animam a acreditar que o Brasil possa resistir e se
recuperar do golpe sofrido outro dia, quando circulou a notícia de que a
paranaense Grazielle “Grazi” Massafera e o carioca Cauã Reymond Marques
já não dividem o mesmo teto. O galã foi acusado de namorar celebridade
que cobra R$ 150 mil para aparecer numa festa, só para aparecer, para
“estar” na festa, sem cantar, declamar, dançar ou ficar com o dono da
casa.
Se a Alemanha renasceu das cinzas da Segunda Grande Guerra e
a Coreia do Sul é hoje uma potência mundial, fio que o Brasil se possa
recuperar da separação de Grazi e Cauã, mesmo acreditando que não
voltará a ser o país que conhecemos e respeitamos.
O mundo é uma bola
28
de novembro de 1660: em Londres, fundação da Royal Society. Repito: em
1660. Li outro dia que o parlamento britânico custa ao povo a décima
parte, isto é, 1/10 do custo do congresso brasileiro. Em contrapartida, o
parlamento britânico nunca teve a honra de ser presidido por um Renan,
um Sarney, um Henriquinho.
Em 1860, emancipação do município de
Franca, polo calçadista paulista. Durante anos, morando em BH e
visitando regularmente Capitólio, MG, onde fica o condomínio Escarpas do
Lago, ameacei dar um pulo a Franca para comprar botinas. Fiquei nas
ameaças.
Em 1991, fato espantoso: declaração de independência da
Ossétia do Sul. Por que espantoso? Ora, porque a Ossétia do Sul não foi
reconhecida. A maioria dos países da ONU considera a Ossétia do Sul
parte integrante da Geórgia, mas em agosto de 2008 o parlamento e o
presidente da Rússia anunciaram o reconhecimento formal da independência
da região juntamente com a da Abcásia. Hoje é o Dia do Soldado
Desconhecido.
Ruminanças
“As duas
palavras mais curtas e de mais simples pronúncia – sim e não – são as
que pedem mais detido exame.” (Pitágoras, c.570-c.495 a.C.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário