Foi-se o tempo, mais que politicamente
incorreto, em que os cabelos eram divididos em ruins e bons. Hoje
dizemos que são crespos ou lisos
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 09/11/2013
Como é do
conhecimento geral, contrassenso é ato ou dito contrário à boa lógica, à
razão, que desafia a opinião consabida, a crença ordinária e
compartilhada pela maioria. Parece-me uma absurdidade que as editoras
brasileiras editem milhares de livros absolutamente idiotas, a começar
pelos meus, e que um livro da melhor supimpitude, de cair o queixo, seja
editado pelo autor, poucas centenas de exemplares fora de comércio,
para ser lido e admirado por privilegiados como este philosopho de
aldeia.
Scott Turow, advogado e escritor norte-americano de 64
anos, autor de uma série de best-sellers (no dicionário de Bill Gates
não tem hífen), anda em guerra contra o Google, a Amazon, a Apple e
outros meios digitais pelos prejuízos que vêm causando nos acréscimos à
respeitável poupança que acumulou vendendo, no mundo inteiro, mais de 24
milhões de exemplares dos seus ótimos livros. Mesmo com o burro
amarrado à sombra, Turow está furioso e tem carradas de razão.
Que
diria o advogado norte-americano se soubesse que A vida surpreendente
de Fiódor Chaliápin, de Pedro Sérgio Lozar, um livro extraordinário,
teve pequena edição fora de comércio? Fiódor Ivánovitch Chaliápin,
cantor lírico russo – baixo profundo – foi considerado o maior do mundo
no século 20, inclusivamente aqui pelo philosopho, cujo registro é o de
baixo cantante.
Escritor, revisor, tradutor e filólogo, Pedro
Sérgio Lozar fala russo e baseou sua obra em diversos livros publicados
naquele idioma, como a autobiografia de Chaliápin (1873-1938), que teve
infância paupérrima, exercendo desde criança as mais humildes
profissões, filho de alcoólatra e de mãe que chegou a pedir esmolas nas
ruas.
Alto, boa pinta, apoiou a Revolução Soviética até
descobrir que a liberdade se transformou em tirania, a fraternidade em
guerra civil e a igualdade em rebaixamento dos que ousassem levantar a
voz acima do nível do pântano. Deixou a Rússia em 1922 para nunca mais
voltar.
Voz única, fumou desbragadamente a vida inteira. Vale
notar que Caruso, muito simpático e divertido nos camarins, como
escreveu Chaliápin, exigia nos seus contratos o direito de fumar
charutos nos bastidores do palco. Outro que muito impressionou o russo
foi o tenor Francesco Tamagno (1850-1905), “a voz do século”. No Google
ouvi a ária Di Quella Pira cantada por Tamagno.
Impende observar
que o brasileiro Pedro Sérgio Lozar, inteligente que é, anotou em seu
livro: “Segue-se a ortografia anterior ao inútil e incoerente ‘Acordo’
regulamentado pelo Decreto 6503, de 29/9/2008”. Inútil, incoerente e
imbecil, aduz o philosopho.
Cabelos
Foi-se
o tempo, mais que politicamente incorreto, em que os cabelos eram
divididos em ruins e bons. Hoje dizemos que são crespos ou lisos. Que
ninguém nos oiça, mas a sinonímia de crespo tem coisas terríveis, como
escabroso, irado, ameaçador, perigoso, grosseiro, rude, indecente,
indecoroso, escabroso. Para complicar as coisas, liso, como advérbio, é
limpamente, com honestidade, e como adjetivo é sincero, verdadeiro, de
caráter íntegro.
Limito-me, em nossa conversa de hoje, ao risco
representado na criminologia pelos cabelos lisos de cor amarelo-tostada,
entre o dourado e o castanto-claro. Louro vem do latim laúrus,i ou us
“loureiro, coroa de louros, triunfo, vitória, palma”, por extensão
“dourado, a cor entre o dourado e o castanho-claro”.
Entre os
milhares de crimes que nos são entregues de bandeja, entra mês, sai mês,
pela televisão, três assombraram particularmente este assombrado país: o
do casal von Richtofen, o do empresário Marcos Kitano Matsunaga e o da
família Pesseghini, na Vila Brasilândia, os três na cidade de São Paulo.
O
casal e o empresário muito bem de vida; a família Pesseghini
trabalhando honestamente, ocupando duas casas próprias, dois automóveis
na garagem. Salvo no caso do empresário, morto, destrinçado, ensacado e
emalado por sua mulher Elize, os outros crimes foram cometidos pela
filha do casal, Suzane von Richtofen, ajudada por dois bandidos, e pelo
menino Marcelo Pesseghini, de 13 anos, filho, neto e sobrinho-neto dos
quatro mortos.
Menino que se suicidou, Elize e Suzane até hoje
muito saudáveis. Que há de comum entre Suzane, então estudante de
direito, Elize, ex-garota de programa casada com o empresário, e o
Marcelinho de 13 anos? Cabelos bons! Louríssimos os três...
O mundo é uma bola
9
de novembro de 1417: Maomé VIII torna-se o 14º rei nasrida de Granada
para reinar até 1429, com um interregno. Nasrida foi a última dinastia
muçulmana na Península Ibérica. O Emirado Nasrida de Granada existiu
entre 1238 e 1492, terminando com a rendição de Maomé XII. Para não
dizer que os fiéis ficaram 250 anos, de cócoras, orando voltados para
Meca, informo que construíram a Alhambra, complexo palaciano e
fortaleza, cuja decoração alcançou o cume da arte islâmica.
Em
1823, Pedro I, do Brasil, fecha a Assembleia Constituinte, talqualmente
um philosopho amigo nosso faria com o atual congresso, se convidado para
dirigir este país grande e bobo.
Em 1888, Mary Jane Kelly foi a
quinta vítima de Jack, o Estripador. Em 1994 foi descoberto o elemento
químico darmstádtio ou darmstácio, de número atômico 110 e símbolo Ds.
Ruminanças
“O ensino deve ser interessante, alegre, gracioso. Toda escola se deve conduzir por uma severa doçura.” (Montaigne, 1533–1592)
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