Não raras vezes recebo e-mails falando da
insignificância de cada um de nós e mesmo do planeta Terra, um pálido
ponto azul no universo
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 15/11/2013
Por meio do EM,
numa das edições de setembro, soubemos que Ricardo III, rei da
Inglaterra, tinha lombrigas. Ele nasceu em 1452 e reinou de 1483 a 1485,
quando foi morto na Batalha de Bosworth Field. Casado com Anne Neville,
viúva de Edward of Westminster, teve os filhos Edward of Middleham,
príncipe de Gales, John of Gloucester e Katherine Plantagenet. Foi o
último rei da Dinastia Plantageneta, casa real que governou a Inglaterra
entre 1154 e 1485. Plantageneta vem do inglês plantagenet, do latim
planta + genista (giesta, leguminosa papilionoídea), emblema da família
que teve os reis Henry II, Richard I, John, Henry III, Edward I, Edward
II, Edward III, Richard II, Henry IV, Henry V, Henry VI, Edward IV,
Edward V e o citado Ricardo III, monarca lombricário imortalizado numa
peça de William Shakespeare.
Quando menino, tive no Rio de
Janeiro uma empregada opilada como ela só. Medicada, deu à luz imensa
tênia que vi no fundo de um penico. Dizem que a Taenia solium pode
alcançar oito metros e a Taenia saginata chega aos 12m. Não medi o verme
cestoide, mas vi que a moça desopilou em poucos dias. Não faz muito
tempo, no Programa do Jô, bela cientista sustentava a tese de que o
homem povoou a América também por meio da costa chilena. Baseou sua tese
nos coprólitos (cocôs mumificados) de milhares de anos, identificando
lombrigas da Oceania inexistentes nos humanos que chegaram à América
pelo Estreito de Behring, onde o Alasca fica pertinho da Rússia.
Há
mais de um ano, no dia 23 de setembro de 2012, contei-lhes que saudoso
amigo tinha fazenda na Baixada Fluminense, ao pé da Serra de
Teresópolis. Toda tarde, ao voltar do curral, o retireiro Antônio
passava pela casa do patrão para entornar um golo de cachaça. Assustado
com a opilação do empregado, meu amigo acrescentou à cachaça uma dose
generosa de fenotiazina, vermífugo bovino então em voga. Manhã seguinte,
ao dealbar da aurora, quando o empregado passou a caminho do curral,
meu amigo quis saber do resultado da mistura de aguardente com o
anti-helmíntico. Antônio foi admirável: “Ah, doutor, se eu não estou de
foice ela me pega: lombriga de cabeça azul!”. Os pesquisadores da
Universidade de Cambridge, que descobriram os vermes de Ricardo III,
ficam devendo à história a cor da cabeça das lombrigas reais. É certo
que o marido de Anne Neville não usava foices, mas combatia com espadas
que também matam lombrigas de cabeça azul.
Philosophares
Não
raras vezes recebo e-mails falando da insignificância de cada um de nós
e mesmo do planeta Terra, um pálido ponto azul no universo. Realmente, o
todo não tem expressão, mas precisamos admitir a significância de cada
indivíduo pela sua óptica. Uma dor de ouvido, uma verruga plantar, uma
prisão de ventre – é tudo muito significativo para quem se vê às voltas
com o problema e com outros maiores, que são muitos. Passamos por aqui
sem a menor importância, a não ser para cada um de nós. Newton,
Shakespeare, Cervantes, Goethe, Einstein, Planck fizeram nome, que não
os impediu de partir. Se tusso e o leitor espirra, pouco nos importam os
seis gênios citados. E tem mais uma coisa: este pequeno suelto está
muito philosophico para o meu gosto. Vou aproveitar o final do charuto
para assistir a um joguinho de futebol europeu na tevê: ao vivo, que a
morte é certa.
Entrevistas
Até se
entende que um entrevistado não corresponda ao que dele esperam o
entrevistador e os telespectadores, apesar da seleção feita pela imensa
equipe de produção que há por trás do entrevistador. Só não dá para
entender que o senhor José Eugênio Soares, de alcunha o Jô, selecione
desastrada entrevista para a Semana do Jô, no canal GNT, como aquela que
foi exibida no dia 13 de outubro, domingo. Refiro-me a um
soteropolitano, mergulhador, que atende pelo apelido de Moqueca. O
baianês do cavalheiro é ininteligível e o pouco que deu para entender
foi de uma chulice incompatível com um programa que entra nas casas de
família às nove da noite. Qual é a graça do senhor Moqueca?
Honestamente, quantas pessoas entendem sua algaravia? Aquilo que dá para
entender é indigno de ser veiculado num canal de tevê.
O mundo é uma bola
15
de novembro de 1889, Proclamação da República do Brasil: Rui Barbosa
assina o primeiro decreto do governo provisório. Os resultados são
vistos até hoje. Admitamos, então, que o 15 de novembro valeu pelo
feriado, mesmo assim para os que não gostam de trabalhar. Em 1895, aí
sim, tivemos dia importantíssimo: fundação do Clube de Regatas do
Flamengo. Em 1905, inauguração da Avenida Central, atual Avenida Rio
Branco, no Rio de Janeiro, palco de manifestações que terminam em
quebradeira e ladroeira, porque sujeito que rouba computadores e
televisores não é vândalo: é ladrão. Em 1988, no exílio, Yasser Arafat
proclama o Estado da Palestina, enquanto alguém polvilhava suas roupas
com o elemento químico sintético, da família dos actinídeos, conhecido
como polônio. Hoje é o Dia do Joalheiro, do Esporte Amador e da Língua
Gestual Portuguesa.
Ruminanças
“Contra o calar não há castigo, nem resposta.” (Cervantes, 1547–1616).
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