Mais hormônios por nada
Estudo finlandês indica que reposição hormonal não funciona em mulheres que, durante a menopausa, sentem poucas ondas de calor. Dados podem aperfeiçoar os tratamentos
Vilhena Soares
Estado de Minas: 15/11/2013
Ao entrar na
menopausa, muitas mulheres começam a sofrer sintomas como insônia,
fadiga e alteração do humor. Um dos problemas mais conhecidos nesse
período são as ondas de calor. Pesquisadores da Finlândia, porém,
descobriram que o temido incômodo pode ser explorado de uma forma
positiva. Segundo eles, a ocorrência dos fogachos funciona como
indicador da necessidade da também famosa reposição hormonal. A
descoberta, publicada no jornal North American Menopause Society, pode
auxiliar na escolha de terapias mais individualizadas.
Tomi Mikkola, principal autor do estudo e professor do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Universidade de Helsinki (Finlândia), explica que as ondas de calor – causadas por uma desregulação no hipotálamo em decorrência da redução de níveis de estrogênio – foram sempre o sinal mais conhecido do início da menopausa. “Há uma crença de que os outros sintomas são fenômenos secundários. Entretanto, as mulheres mostram diferenças na capacidade de tolerar as ondas de calor. Algumas são perturbadas por mudanças de temperatura que são facilmente aceitável por outras.”
Para entender a fundo o sintoma, os pesquisadores realizaram um experimento com 150 mulheres, divididas em dois grupos: 72 relataram ter sete ou mais ondas moderadas de calor por dia, 78 apresentaram três ou menos ondas leves ou nenhuma. Os pesquisadores trataram metade das mulheres de cada grupo com hormônios e a outra com placebo (veja infográfico), e detectaram melhores resultados naquelas que mais sofriam os fogachos e foram submetidas à reposição hormonal. “Nossa combinação de hormônios aliviou as ondas de calor e melhorou a qualidade de vida. Porém, o uso de terapia hormonal não conferiu vantagem para as mulheres sem as ondas mais fortes”, destaca Mikkola.
O pesquisador acredita que o novo indício de falta de eficácia da reposição hormonal pode ajudar a aperfeiçoar tratamentos que buscam, em primeiro lugar, proporcionar bem-estar às pacientes. “Com um número crescente de mulheres na pós-menopausa e com o aumento da expectativa de vida, a qualidade de vida tornou-se o foco de intensa pesquisa. Apesar de precisar de mais estudos nessa área, nossos dados já podem fornecer informações importantes para as mulheres, considerando o início do tratamento hormonal.”
Discussão recorrente Para José Carlos de Lima, professor-adjunto do curso de ginecologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a pesquisa analisou um número pequeno de mulheres, mas, ainda assim, mostra uma suspeita que já existia na área. Os médicos têm cada vez mais discutido a importância de não generalizar a reposição hormonal. “A ideia de tratamento com hormônios não quer dizer que a paciente vá ter uma melhora dos sintomas que a incomodam. Até porque o conceito de qualidade de vida, que é o que o tratamento da menopausa busca, é algo muito subjetivo. Acredito que não podemos nem subestimar conceitos como esse do estudo nem superestimar. Devemos avaliá-los do melhor modo para usá-los em consultório”, defende.
A ginecologista Sueli Cardoso também acredita que a pesquisa mostra uma tendência no tratamento da menopausa e ressalta a importância de não só considerar os sintomas desse período, mas também o histórico clínico da paciente, como taxa de colesterol, ocorrência de diabetes e hipertensão. “Consideramos sempre o calor como um indício forte, por ser um dos problemas que mais incomodam, mas existem outros fatores que podem piorar a situação. Não ter o peso ideal, por exemplo, é um fator que pode influenciar negativamente (a terapia) e que também deve ser tratado”, complementa.
Sueli ressalta que o uso de hormônios é uma preocupação que vai além das mulheres que vivem o fim do período fértil. As mais jovens têm recorrido à fórmula para, por exemplo, retardar o processo de envelhecimento. “Os hormônios são muito utilizados também para quem tem falta de lubrificação vaginal, conhecida como vagina seca. Mas, hoje, temos cremes que podem tratar o problema sem precisar da ingestão dessas substâncias, evitando uma sobrecarga de medicamentos”, complementa a ginecologista.
José Carlos de Lima ressalta que a relação com os cânceres, principalmente o de mama, também tem levado à redução do uso de hormônios. “A premissa de um tratamento eficaz é fazer com que a mulher tenha saúde física, familiar, social e sexual. Esses são os pilares para a avaliação e o diagnóstico”, defende.
“O bem-estar sempre é o fator a ser levado em conta para que a menopausa seja tratada da melhor forma possível, ainda mais se pensarmos que esse período está ficando cada vez maior por causa do aumento de expectativa de vida”, acrescenta Lima.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres que nasceram neste ano no Brasil viverão 78,5 anos. A menopausa acontece por volta dos 50 anos de idade.
Tomi Mikkola, principal autor do estudo e professor do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Universidade de Helsinki (Finlândia), explica que as ondas de calor – causadas por uma desregulação no hipotálamo em decorrência da redução de níveis de estrogênio – foram sempre o sinal mais conhecido do início da menopausa. “Há uma crença de que os outros sintomas são fenômenos secundários. Entretanto, as mulheres mostram diferenças na capacidade de tolerar as ondas de calor. Algumas são perturbadas por mudanças de temperatura que são facilmente aceitável por outras.”
Para entender a fundo o sintoma, os pesquisadores realizaram um experimento com 150 mulheres, divididas em dois grupos: 72 relataram ter sete ou mais ondas moderadas de calor por dia, 78 apresentaram três ou menos ondas leves ou nenhuma. Os pesquisadores trataram metade das mulheres de cada grupo com hormônios e a outra com placebo (veja infográfico), e detectaram melhores resultados naquelas que mais sofriam os fogachos e foram submetidas à reposição hormonal. “Nossa combinação de hormônios aliviou as ondas de calor e melhorou a qualidade de vida. Porém, o uso de terapia hormonal não conferiu vantagem para as mulheres sem as ondas mais fortes”, destaca Mikkola.
O pesquisador acredita que o novo indício de falta de eficácia da reposição hormonal pode ajudar a aperfeiçoar tratamentos que buscam, em primeiro lugar, proporcionar bem-estar às pacientes. “Com um número crescente de mulheres na pós-menopausa e com o aumento da expectativa de vida, a qualidade de vida tornou-se o foco de intensa pesquisa. Apesar de precisar de mais estudos nessa área, nossos dados já podem fornecer informações importantes para as mulheres, considerando o início do tratamento hormonal.”
Discussão recorrente Para José Carlos de Lima, professor-adjunto do curso de ginecologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a pesquisa analisou um número pequeno de mulheres, mas, ainda assim, mostra uma suspeita que já existia na área. Os médicos têm cada vez mais discutido a importância de não generalizar a reposição hormonal. “A ideia de tratamento com hormônios não quer dizer que a paciente vá ter uma melhora dos sintomas que a incomodam. Até porque o conceito de qualidade de vida, que é o que o tratamento da menopausa busca, é algo muito subjetivo. Acredito que não podemos nem subestimar conceitos como esse do estudo nem superestimar. Devemos avaliá-los do melhor modo para usá-los em consultório”, defende.
A ginecologista Sueli Cardoso também acredita que a pesquisa mostra uma tendência no tratamento da menopausa e ressalta a importância de não só considerar os sintomas desse período, mas também o histórico clínico da paciente, como taxa de colesterol, ocorrência de diabetes e hipertensão. “Consideramos sempre o calor como um indício forte, por ser um dos problemas que mais incomodam, mas existem outros fatores que podem piorar a situação. Não ter o peso ideal, por exemplo, é um fator que pode influenciar negativamente (a terapia) e que também deve ser tratado”, complementa.
Sueli ressalta que o uso de hormônios é uma preocupação que vai além das mulheres que vivem o fim do período fértil. As mais jovens têm recorrido à fórmula para, por exemplo, retardar o processo de envelhecimento. “Os hormônios são muito utilizados também para quem tem falta de lubrificação vaginal, conhecida como vagina seca. Mas, hoje, temos cremes que podem tratar o problema sem precisar da ingestão dessas substâncias, evitando uma sobrecarga de medicamentos”, complementa a ginecologista.
José Carlos de Lima ressalta que a relação com os cânceres, principalmente o de mama, também tem levado à redução do uso de hormônios. “A premissa de um tratamento eficaz é fazer com que a mulher tenha saúde física, familiar, social e sexual. Esses são os pilares para a avaliação e o diagnóstico”, defende.
“O bem-estar sempre é o fator a ser levado em conta para que a menopausa seja tratada da melhor forma possível, ainda mais se pensarmos que esse período está ficando cada vez maior por causa do aumento de expectativa de vida”, acrescenta Lima.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres que nasceram neste ano no Brasil viverão 78,5 anos. A menopausa acontece por volta dos 50 anos de idade.
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