Mulheres conquistam espaço no universo brasileiro das HQs. A internet ajuda a divulgar trabalhos autorais e revela jovens talentos, como AnaLu, Cris Peter e Lu Cafaggi
Carolina Braga
Estado de Minas: 15/11/2013
Lu Cafaggi diz que a internet deu visibilidade aos quadrinhos criados por mulheres |
Experimente dar uma volta rápida entre as mesas do Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ), na Serraria Souza Pinto. À primeira vista, você vai perceber: os rapazes ainda são maioria entre os autores, mas elas não passam despercebidas. “Não somos poucas, embora pouco conhecidas. Vamos conquistando espaço”, diz a potiguar AnaLu Medeiros.
“Quadrinhos sempre foram mídia masculina. Como eles dominavam, acabavam fazendo para eles. Nós também procuramos algo para nós, mas não encontramos. Dessa forma, muitas meninas foram para outras áreas, embora algumas insistam”, explica a colorista gaúcha Cris Peter. Ela vai lançar o livro Totalmente subjetivo, formado por quatro desenhos a partir de sentimentos despertados pelas cores.
De cabelo vermelho, assim como sua personagem, AnaLu veio de Natal (RN) trazendo a primeira edição de Ana e o sapo. Ela faz parte da geração que usa a internet como propulsora de seu trabalho autoral. A arquiteta, de 25 anos, mantém o desenho como atividade paralela desde os 17. Em maio, decidiu levar o hobby a sério e montou o site www.tiraninha.com.br.
Para AnaLu, tanto faz se o autor é homem ou mulher. “O mais importante é cada um ter seu traço específico. É bacana a pessoa reconhecer o desenhista só de ver o trabalho, sem conferir assinatura. Geralmente, as mulheres fazem algo mais delicado no desenho e no roteiro. Afinal, temos visões diferentes das coisas”, comenta.
Autora de Turma da Mônica – Laços em parceria com o irmão, Vitor, a mineira Lu Cafaggi acredita na força da rede como plataforma de distribuição, mas pondera: “A internet dá a impressão de que as quadrinistas surgiram de repente, mas não é assim. Elas já existiam. Apareceram autores se sentindo mais livres para escrever sobre coisas pessoais sem ter de agradar a determinada editora ou ao público”.
A mineira Ana Carolina Cunha vai lançar seu primeiro trabalho autoral: a revista História de amor, parceria com Ariano Gomes. “Quadrinho ainda é predominantemente masculino, mas há um monte de mulheres talentosas”, diz. Se algumas autoras se dedicam a traços e histórias mais delicados, outras apostam nos super-heróis. “Não gosto muito de separar o que tem mais cara feminina ou masculina. Cada um tem seu jeito único de contar histórias”, avisa Cris Peter.
PÉREZ
É grande a expectativa sobre a presença do norte-americano George Pérez no FIQ. Ele pode apresentar em BH nova série de personagens femininas criada para uma editora indie dos EUA. George é o tipo de artista gente-boa. “Lá fora, ele é um dos problemas dos eventos. Se der a hora de ir embora, ele não vai se houver pessoas na fila. Faz amizade com o povo, estoura horário, quer atender todo mundo e sair com a galera. Se for abordado da maneira certa, vai com a gente para o Maletta”, afirma o pesquisador Raphael Ernesto, da Casa da Revista.
A comunidade nerd de BH fica em polvorosa com a chegada do FIQ. Isso ocorre sobretudo entre os adeptos do cosplay, aquelas figuras que saem por aí fantasiadas. Na abertura do evento, o arquiteto Renato Sambi Colotto reinou absoluto como o único elfo. A estudante Natália Paixão (foto) se prepara para acabar com esse reinado. Amanhã, ela vai homenagear o convidado George Pérez, conhecido por seus trabalhos para a DC Comics. Das 13h às 22h, a moça ficará fantasiada de Estelar, personagem ícone dos anos 1980. Foram quatro meses para reproduzir o figurino, que inclui peruca maior que a fã. Ela ficará a postos nas imediações do estande da Casa da Revista – o único (e primeiro) sebo participante do FIQ.
CONFIRA
Hoje
10h – Demonstração de pintura. Com Daniel Lima, Lélis, Júlia Bax e Fábio Cobiaco
11h30 – Quadrinhos não são mais só para adultos!. Com Chantal, Fábio Yabu, João Marcos e José Aguiar
13h30 – Conversa em quadrinhos: Boulet e sua caneta misteriosa. Com Maria Clara Carneiro e Boulet
14h30 – 100 balas. Com Delfin, Eduardo Risso e Dave Johnson
16h – Graphic MSP. Com Sidney Gusman, Danilo Beyruth, Gustavo Duarte, Shiko, Lu Cafaggi, Vitor Cafaggi e Cris Peter
18h – Mangá. Com Samuel Medina, Érica Awano, Marcelo Cassaro, Lobo Borges, Petra Leão e J. M. Trevisan
20h – O horror, o horror!. Com Rafael Rodrigues, Franco de Rosa, Salvador Sanz, Fábio Cobiaco e Rafael Albuquerque
>> Auditório Gutemberg Monteiro. Serraria Souza Pinto, Av. Assis Chateaubriand, 809, Floresta. Programação completa: www.fiqbh.com.br
DE OLHO EM MINAS
A convite do Estado de Minas, quadrinistas participantes do FIQ criarão imagens relacionando o festival internacional à capital mineira e à experiência deles por aqui. Curiosamente, no livro Ana e o sapo, lançado na Serraria Souza Pinto, AnaLu Medeiros presta sua homenagem ao estado.
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