A escritora Yeda
Prates Bernis lança livro de poemas Entressombras, que revela a poesia
sofisticada que encantou Henriqueta Lisboa e Drummond
Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 21/12/2013Sempre discreta, Yeda volta a publicar livro de versos incentivada por amigos e críticos literários |
Discípula de Henriqueta Lisboa, de quem era amiga e confidente, Yeda Prates Bernis está com livro novo, Entressombras, o que é um bom motivo para comemorar. Quietinha no seu apartamento no Bairro Funcionários, em Belo Horizonte, de onde raramente sai, ela é dona de uma poesia refinada, das melhores feitas no país.
Há muito estava sem publicar. Escreve bem desde a estreia, já no distante 1967, com Entre o rosa e o azul, e prossegue com brilho sua caminhada com este novo trabalho, que só vem firmar o seu nome como uma poeta de primeira linha, na qual também se inserem, só para falar dos que ficaram em Minas, nomes como os de Bueno de Rivera, Emílio Moura, Elza Beatriz e Libério Neves.
Mineira de Belo Horizonte, onde sempre residiu, a história de Yeda Prates Bernis com a poesia vem de longe, ainda da infância, quando fazia versinhos rimados para serem lidos no colégio, muitas vezes encomendados pelas colegas. “Depois prossegui escrevendo na universidade, onde cursei letras neolatinas, e no Conservatório Mineiro de Música, quando estudava piano”, conta.
Os poemas deste novo livro, que vem com um belo trabalho gráfico feito por Marconi Drummond, são quase todos inéditos – só uns poucos foram publicados na Revista da Academia Mineira de Letras, à qual ela pertence. Yeda tem ainda trabalhos espalhados em revistas literárias da França, Hungria, Itália e Espanha.
Há algum tempo, de acordo com a poeta, ela havia decidido que não iria publicar mais livros, porque dá muito trabalho e, além do mais, está se sentindo meio cansada. Mas, no caso de Entressombras, depois de ter mostrado os originais para os amigos Márcio Sampaio e Fábio Lucas, seu colega na academia, eles a incentivaram a lançá-lo. “Colocaram-me contra a parede e não tive outra saída a não ser aceitar mais este desafio”, conta Yeda.
Purificação
Valeu a pena, pois seus poemas, que tanto encantaram Henriqueta Lisboa e Carlos Drummond de Andrade – com quem se correspondeu durante muito tempo – e chegaram a ser musicados por Camargo Guarnieri, sob o título Tríptico de Yeda, estão ainda mais bonitos em Entressombras. Com o passar do tempo, o que nem sempre acontece, seus versos foram se purificando, ficando mais lapidados.
É um verdadeiro trabalho de carpintaria, como podemos ler no texto que dá título ao livro, no qual, com muita sensibilidade, a poeta faz uma referência a um problema de visão, com o qual convive há algum tempo: “ Indesejada neblina/ ofusca antiga visão./ Em espelho embaçado/ traços difusos/ sem cor./ Na entressombra do olhar uma dúvida:/ é folha soprada ao vento/ ou passarinho a voar?”
A renda obtida com a venda de Entressombras será toda revertida para as Voluntárias do Hospital do Câncer Mário Pena. Entre os vários prêmios que Yeda já recebeu, estão o Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras, e o Alejandro José Cabassa, da União Brasileira de Escritores.
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