Estado de Minas: 28/12/2013
Em O silêncio das inocentes, Maria da Penha, que dá nome à lei, mobiliza sociedade contra a violência |
“Perto da sua casa tem uma mulher sendo assassinada neste momento, e você não sabe”. O duro depoimento da delegada de polícia Maria dos Anjos Camardella resume bem o tom do documentário O silêncio das inocentes (Brasil, 2010, 53min), do diretor Ique Gazzola, que o Sesc TV (canal 3 da Sky, 137 da Net e 29 da Oi TV) exibe hoje às 22h (com reapresentação às 20h de segunda). Do nome à condução da narrativa, tudo é instigante e extremamente benfeito no filme, que reúne depoimentos emocionados e comoventes de mulheres que foram vítimas de violência, além de autoridades e especialistas no assunto.
Só a presença de Maria da Penha, corajosa cearense que lutou por justiça contra o pai de seus três filhos, depois de ter sido alvejada por ele com um tiro nas contas enquanto dormia, em 1983 (o que a deixou paraplégica), já seria suficiente para envolver o espectador. O longa torna palpável a dor daquela que deu nome à principal arma da mulher na luta contra os abusos: a Lei Maria da Penha, de 2006. E vai além: condena a submissão ainda frequente no universo feminino. Importante, por exemplo, é a declaração da relatora da lei, Jandira Fhegali, denunciando todos os tipos de violência, psicológica, moral e física: “Um detetive ou uma arma no armário são formas de tortura.” Mulheres “sem nome” mostram que, ainda que haja muito por fazer, a história começa a mudar: “Depois que meu vizinho foi preso, meu marido nunca mais me bateu”, declara uma das que temem se revelar.
Músico (baterista) e ator de teatro, o diretor Ique Gazzola, em entrevista ao Sesc TV, contou que “o trabalho de pesquisa foi muito difícil, pois a maioria em situação de violência doméstica não queria filmar, temendo represálias.” O filme conquistou o prêmio de Melhor Média-Metragem na 7ª Mostra Latino-Americana de Direitos Humanos 2012 e, este ano, foi selecionado na Mostra Brésil en Mouvements, de Paris (França). Se a Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou a situação do Brasil em relação às mulheres violentadas, o que culminou na Lei Maria da Penha, O silêncio das inocentes vem para dar voz ao que não pode ser calado.
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