quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Frei Betto - Meu celular, minha vida‏

Meu celular, minha vida 

Por ser um equipamento dotado de múltiplos recursos, ele me traz a sensação de que sou um Pequeno Príncipe

Frei Betto

Estado de Minas: 04/12/2013


Há uma nova doença nos anais da medicina: a nomofobia, o medo de ficar sem celular. O termo foi cunhado no Reino Unido e deriva de “no mobile phobia”. O fato é óbvio: para qualquer lugar que se olhe, as pessoas estão atentas ao celular – rua, restaurante, local de trabalho, ônibus, metrô, escola e até igreja.

Não sem razão, a revista Forbes considerou o mexicano Carlos Slim, em 2013, pela quarta vez consecutiva, o homem mais rico do mundo, com uma fortuna calculada em US$ 73 bilhões. Com negócios na área de comunicação em vários países, no Brasil ele controla a Globopar (Net), a Claro e a Embratel.

O Brasil é o 60º país do mundo mais conectado por celular, e o 4º a dar mais lucros às empresas de telefonia. O brasileiro gasta, em média, 7,3% de sua renda mensal com o uso do telefone móvel. Em julho, nosso país dispunha de 267 milhões de aparelhos. Essa fissura de manter o celular ligado o tempo todo – e manter-se ligado ao celular todo o tempo (até na hora de dormir) – se explica pela hipnose coletiva gerada pelas redes sociais.

Uma das anomalias de nossa época pós-moderna é o esgarçamento das relações pessoais e comunitárias. A família tradicional, que se reunia à mesa de refeições ou na sala para conversar, é hoje um bem escasso. As relações matrimoniais mal resistem à primeira crise. Segundo o IBGE, as uniões conjugais duram, em média, cerca de sete anos!

Na opinião de Aristóteles, amizades são imprescindíveis à nossa felicidade. No entanto, neste mundo competitivo, muitas andam contaminadas por inveja, ciúme, cobranças, ou prejudicadas pela falta de tempo. Resta então, nesse mar revolto no qual naufragam antigos e saudáveis costumes, a ilha salvadora do celular! O aparelho corresponde muito bem às contradições da pós-modernidade: por ele me comunico, sem conversar; opino, sem me comprometer; me expresso, sem me envolver; troco mensagens e torpedos, sem me doar a ninguém e a nenhuma causa.

O fascínio do celular consiste em amenizar minha solidão sem exigir solidarizar-me. Estou na rede, interajo com inúmeras pessoas e, no entanto, fico na minha, olhando o meu umbigo, indiferente ao fato de algumas dessas pessoas estarem sofrendo ou, pelo menos, necessitando de minha presença física consoladora ou incentivadora.

O celular faz de mim, Clark Kent, um Super-Homem. Eu, a quem quase ninguém presta atenção, agora gozo de um público multimídia ligado no que expresso. Em contrapartida, o celular me rouba tempo: de leituras, de trabalho, de convivência familiar e com amigos. Com ele ligado no bolso ou ao meu lado, fica cada vez mais difícil a concentração.

O celular é um espelho mágico. Repare como as pessoas o fitam. É como se se vissem na tela. Por ser um equipamento eletrônico dotado de múltiplos recursos, ele me traz a sensação de que sou um Pequeno Príncipe capaz de visitar sucessivamente diferentes planetas.

No celular, eu me enxergo como gostaria que as pessoas me vissem. Com a vantagem de que ele dissimula minha verdadeira identidade, meu modo de ser, permitindo que eu me esconda atrás dele. Ele faz de mim um ser onipresente. O que transmito é captado por uma rede infinita de pessoas, que, por sua vez, podem reproduzi-lo para inúmeras outras.

Hoje em dia, os consultórios médicos já lidam com crianças, jovens e adultos que padecem de nomofobia. Gente que não consegue se desconectar do aparelho. Vive as 24horas do dia ligada a ele. Ah, como é saudável estar bem consigo mesmo e manter o celular desligado por um bom tempo, sobretudo à noite! Mas isso exige o que parece cada vez mais raro nos dias atuais: boa autoestima, falta de ansiedade, consistência subjetiva, gosto pelo silêncio e uma vida ancorada em um sentido altruísta.

Um comentário:

  1. Então. Esse povo maldito fica criando novas ferramentas e tecnologias que só nos atrapalham a vida!
    Bom mesmo seria viver no século XV, andar a pé em longas viagens ou ir de cavalo pra quem fosse mais boyzinho ou até de charrete! ahahahah Que máximo arrancar dente na porrada! Saber das notícias dos seus queridos depois que passasse algum viajante de 3 em 3 anos. Ser completamente tapado sem as informações e movimentos da redes sociais, tipo: Olha o rei mandou, obedece se não o pau come! hahahahahaha. Com muita sorte, morrer aos 30 anos, sim porque a taxa de mortalidade do 0 aos 12 anos era comum. Para que remédios e laboratórios sofisticados? Para que um aparelho que nos faça comunicar em segundos o que há 30 anos demoraria no mínimo horas até encontrar um telefone público - pois só os ricos possuíam aquele aparelho mágico? Comprar a fichinha - se encontrasse - e esperar completar a ligação e torcer para que ela não caísse. Caiu a ficha? Bacana mesmo é cavar o terreiro na unha, plantar qualquer coisa e torcer pra chover no tempo certo. Para que esses malditos super computadores que nos dizem quando vai chover ou fazer sol? Para que carros? Rádios? TVs? Realmente a tecnologia é uma merda, só atrapalha!

    Esses discursos de gente crente geralmente são uma merda. Vamos manter o mundo na idade das trevas, assim todo mundo pode ser convencido de que o PT é legal, que Deus e o Diabo existem e que sim, podemos queimá-lo se você for visto ao lado de um gato preto. Cruzes! ahahahahahahhhaahaa.

    He will tremble the nations.
    Kingdoms to fall one by one
    Victim to fall for temptations
    A daughter to fall for a son
    The ancient serpent deceiver
    To masses standing in awe
    He will ascend to the heavens
    Above the stars of god.

    Hail Satan, Archangelo
    Hail Satan, Welcome year zero
    Hail Satan, Archangelo
    Hail Satan, Welcome year zero.

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