ZERO HORA - 04/12/2013
Quando
me convidaram para assistir a uma nova modalidade de stand-up que está
sendo implantada no Brasil (e que já funciona com sucesso nos Estados
Unidos), fiquei curiosa. A ideia é levar pessoas comuns para
compartilharem, no palco de um bar, a sua trajetória de vida. Em 12
minutos, a pessoa, sem ajuda de anotações, espontaneamente, conta sua
história real, que pode ter a ver com superação, sorte, risco ou
qualquer coisa que não seja trivial. Cômica ou trágica, pouco importa.
Na
noite do projeto-piloto, eu estava na plateia. Foram cinco convidados a
falar. Um diretor de teatro contou o que ele e seu companheiro passaram
para adotar duas crianças. Um músico contou sobre o momento em que
descobriu que tinha um câncer no estômago e do acidente de carro que
sofreu um dia antes da cirurgia. Uma garota contou sua experiência
vivendo num país estrangeiro, quando fez uma besteira e acabou presa. Um
personal trainer contou sobre como deixou de ser um adolescente obeso,
perdendo cerca de 40 quilos e tornando-se um amante dos esportes. E, por
fim, uma mulher viciada em limpeza e arrumação contou como controla o
TOC – transtorno obsessivo-compulsivo.
Nós cruzamos por eles
todos os dias nas ruas. São exatamente como você e eu. Comem pizza, vão
ao cinema, namoram, correm no parque. Olhando assim, nem diríamos que já
viveram um roteiro pronto para um filme. A questão é: quem, com pelo
menos uns 30 anos de idade, não teria algo significativo para contar?
Todos, ou quase todos nós, já passamos por um turning point, uma perda,
uma dificuldade, uma experiência surreal. Não há vida que seja
irrelevante.
Em 12 minutos, uma pessoa comum, ao vivo, pode
oferecer um reality show muito mais interessante do que três meses de
episódios diários de Big Brother, pois ela está ali, na frente de
estranhos, meio nervosa, constrangida, relembrando algo muito
particular, como se estivesse numa sessão de terapia em grupo. Não há
figurino, nem texto decorado, nem direção de cena. É simplesmente alguém
falando algo que nunca postará no Facebook.
Para que serve isso?
Para
quem fala, sinceramente, não sei. Se quiser, você pode se inscrever
(www.historiasverdadeiras.com.br) e descobrir como é a sensação, caso
seja escolhido – haverá uma apresentação por mês em Porto Alegre, a
partir de janeiro.
Para quem ouve, é uma oportunidade de cair na
real neste mundo onde tudo nos é apresentado com alguma maquiagem. É a
chance de dar uma colher de chá ao que é estritamente humano. É uma
possibilidade de se emocionar sem uma tela separando você de quem conta a
história. É ser plateia de um striptease inusitado: ver alguém despindo
a alma. É perceber que nem sempre a arte e o talento são necessários
para uma narrativa – a realidade crua também tem seus encantos. É
sentir-se lisonjeado pela confiança de quem não teme ser julgado. É
testemunhar o humor, o jogo de cintura, a capacidade de relativizar e as
saídas encontradas por desconhecidos.
Numa época em que muitos se exibem, mas poucos se revelam, está aí uma novidade.
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