sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Laparoscopia avança no Brasil e traz benefícios ao paciente - René Berindoague

Cirurgias mais seguras 

Laparoscopia avança no Brasil e traz benefícios ao paciente 
 
René Berindoague
Mestre e doutor em cirurgia geral, especializado em aparelho digestivo e diretor técnico do Instituto Mineiro de Obesidade e Cirurgia


Estado de Minas: 03/01/2014


A realização da primeira colecistectomia por laparoscopia (retirada da vesícula biliar) pelo francês Phillipe Mouret, em 1987, foi o início da revolução das cirurgias minimamente invasivas no mundo. No Brasil, essa operação foi realizada no início da década de 1990, com registro de três grandes centros em São Paulo, Goiânia e Belo Horizonte. Trata-se do principal avanço da área cirúrgica nas últimas décadas, responsável por reinventar a forma de encarar as doenças.

No geral, a vídeocirurgia difere da cirurgia convencional, sobretudo, pela não realização de um corte de grande extensão, e pelo uso de uma microcâmera. É possível ver e operar dentro do corpo humano, através de pequenos orifícios de 3 mm a 10 mm, por onde entra a microcâmara e os instrumentos, manuseados pelo cirurgião. Todo o processo operatório é gravado, sendo possível até que o paciente leve uma cópia do procedimento em DVD para casa. As imagens da câmera são ampliadas em uma tela de computador, orientando o médico na realização do procedimento.

Os órgãos doentes, estruturas musculares, vasos sanguíneos e nervos são vistos, mais claramente, em imagem ampliada, sem a interferência dos fluídos sanguíneos, comum na cirurgia normal. Como resultado, as manobras delicadas e complexas podem ser realizadas com maior segurança. As estruturas musculares, vasos sanguíneos e nervos são preservados. A tecnologia evoluiu nesses 25 anos, permitindo o uso da técnica em praticamente todas as áreas cirúrgicas. Hoje, quase todas as operações no aparelho digestivo são realizadas por vídeo laparoscopia: obesidade (redução do estômago), cirurgia do intestino, baço, apêndice, hérnia do hiato, esôfago e etc. As cirurgias ortopédicas, coluna, joelho, articulações em geral, coração e cirurgias na cabeça, como a de aneurisma cerebral, também contam com a ajuda dessa tecnologia. Há forte presença da laparoscopia na ginecologia, especialmente por ter sido a pioneira no país. Os cistos de ovário, dilatação das trompas, torção de ovário, gravidez tubária, investigação de infertilidade, realização de laqueaduras, tratamento de endometriose, de miomas e retirada do útero podem ser realizadas com segurança por laparoscopia.

A maior parte dos benefícios ocorre devido à menor agressão e menor trauma ao manusear os órgãos e tecidos. A vídeolaparoscopia pode ser executada em menor tempo que uma cirurgia convencional, reduzindo em três vezes o período necessário de internação. Além disso, garante melhor cicatrização, pouca incidência de dor e uma eficiente recuperação pós-operatória. O uso de afastadores de tecidos e músculos na cirurgia convencional ou aberta causa dores durante dias ao paciente. Na cirurgia convencional de coração, seria necessário cerrar o osso torácico. A redução da taxa de infecção ocorre devido à menor exposição dos órgãos e tecidos aos microrganismos presentes no meio ambiente. Por fim, com a microcâmera, usada também para o diagnóstico, é possível avaliar o problema, detalhadamente, sem a abertura do tecido.

Apesar dos incontestáveis avanços e benefícios, o uso dessa tecnologia ainda não está completamente difundido no sistema público de saúde. Os custos da tecnologia e dos materiais inviabilizam essa possibilidade, mesmo o custo total, incluindo o pós-operatório, sendo menor. Contudo, não restam dúvidas de se tratar do futuro da cirurgia. Depois da invenção dos antibióticos, a vídeo laparascopia muda padrões e processos nessa área, melhorando a qualidade da saúde e a longevidade.

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