sábado, 18 de janeiro de 2014

Vilas tricentenárias - Angelo Oswaldo de Araújo Santos

Vilas tricentenárias
 
Serro e Caeté, quinta e sexta cidades de Minas, completam 300 anos com o desafio de preservação do rico patrimônio histórico e artístico


Angelo Oswaldo de Araújo Santos
Estado de Minas: 18/01/2014



Festa de Nossa Senhora do Rosário, na antiga Vila do Príncipe, no Serro Frio: três séculos de história (Paulo Sérgio Procopio/Divulgação)
Festa de Nossa Senhora do Rosário, na antiga Vila do Príncipe, no Serro Frio: três séculos de história

No dia 29, transcorre o tricentenário de criação da quinta e da sexta cidades da lista das 853 hoje existentes em Minas Gerais. Foi nessa data, em 1714, que o segundo governador da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, dom Brás Baltazar da Silveira, assinou provisão instituindo a Vila do Príncipe, no Serro Frio, e a Vila Nova da Rainha, no Caeté do Mato Dentro. Vieram somar-se a Vila do Carmo (Mariana), Vila Rica (Ouro Preto) e Vila Real de Sabará, criadas em 1711, e Vila de São João del Rei, do final de 1713.

Vila era como então se denominavam as sedes municipais, sendo cidade a dignidade honorífica reservada a alguns centros urbanos, como os que eram sé episcopal. A cátedra do bispo deveria estar numa cidade e não em vila. Para receber o primeiro bispo de Minas Gerais, o rei João V elevou Vila do Carmo a Cidade de Mariana, em 1745. A segunda cidade foi Ouro Preto, que deixou de ser Vila Rica em 1823, num preito de homenagem do imperador Pedro I à capital da província mineira.

Essas municipalidades pioneiras antecedem a autonomia das Minas Gerais, que só se verificou em 1720, no auge das sedições e revoltas alastradas no território do ouro. Daí, talvez, o espírito municipalista que se arraigou no solo mineiro. As primeiras vilas foram convergência da mineiridade, antes da instituição da capitania, depois província e estado.

Ivituruí, morro frio na língua indígena, traduziu-se por Serro do Frio ou Serro Frio, metrópole do norte, polo de vastíssimos territórios. Caeté, para os índios, era a floresta, o verde denso, o mato dentro, onde os bandeirantes pioneiros se assentaram no arraial que se tornaria a Vila Nova da Rainha, aos pés da Itaberaba-açu, a Serra da Piedade. Uma das mais notáveis figuras da história mineira, o presidente João Pinheiro (1860-1908) nasceu no Serro e foi sepultado em Caeté, amálgama da fraternidade das duas vilas no mesmo dia criadas.

DESEJO DE LIBERDADE Até a independência, Minas teve 16 vilas, todas elas ricas matrizes culturais. Em Serro nasceram construtores do Brasil, como o mestre Valentim da Fonseca de Silva, o grande artista rococó do Rio de Janeiro, e Teófilo Ottoni, profeta da República e desbravador do Mucuri. A matriz do Bonsucesso, em Caeté, obra de Coelho de Noronha que acolheu os primeiros trabalhos do Aleijadinho, é monumento admirável.

Em ambas, está presente o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), realizando no momento significativas aplicações no restauro e na conservação do Museu Casa dos Ottoni e no Museu Regional de Caeté, antiga residência do legendário Barão de Catas Altas.
Imagem histórica de procissão na Vila Nova da Rainha, no Caeté, com a Serra da Piedade ao fundo (Prefeitura de Caeté/Divulgação)
Imagem histórica de procissão na Vila Nova da Rainha, no Caeté, com a Serra da Piedade ao fundo


São museus que contam as origens de Minas, a vocação para a arte e o gosto pela vida pública, o desejo de liberdade e o engenho criativo, marcas da gente mineira. São documentos identitários que nos fazem saber de onde vimos para pensar aonde queremos ir. São testemunhos da história do Brasil que celebramos do alto destes três séculos de cultura e civilização no fabuloso sertão do ouro e dos diamantes.

Angelo Oswaldo de Araújo Santos é presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).

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