quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Eduardo Almeida Reis-Fígaros‏

Fígaros
O só fato de andar cercado de bandidos não transforma o sujeito em facínora

Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 26/02/2014

Jassa em Sampa, Souza no Rio de Janeiro, Wander em Belo Horizonte são sinônimos de cabeleireiros top, que só cuidam das melenas das celebridades: Sílvio Santos, pseudônimo de Señor Abravanel, Ivo Pitanguy, Lúcio Costa. Em BH, quando enjoei de uma cabeleireira que não sabia cortar cabelos e vivia falando em Deus, porque cortava a juba de um deputado pastor, o empresário Lúcio Costa, bom amigo, indicou-me o Wander, que nunca foi para o meu bico: só corta (e pinta...) os cabelos das celebridades: milionários, jornalistas donos de empresas de comunicação, empresários famosos e companhia ilimitada. Corta com navalha para neutralizar os degraus dos cortes com tesoura e tem uma touca admirável, de borracha, com uma dúzia de furinhos. Se o cliente conta com 24 fios na moleira, o Wander pesca 12 com um ferrinho através dos furinhos e os pinta do lado de fora da touca, faz luzes, serviço muito chique. Aí, você encontra com um amigo famoso, no almoço do batizado de filho de jornalista famosíssimo, e o amigo grita de longe, apontando para sua própria calva: “Hoje estive lá!”.

Resumindo: 99 entre 100 clientes do Wander são celebridades e somam 90% do PIB mineiro. O outro cliente era um philosopho metido a besta quando morava em BH. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e os philosophos: vim parar em Juiz de Fora, cidade-polo da Zona da Mata, onde me indicaram barbeiro razoável, atendimento domiciliar, barateiro, que vivia falando em Deus e fazendo curso para pastor pentacostalista. Desafortunadamente, seu Deus não conhece os relógios e os calendários, o que o faz marcar visita para as 8h e chegar depois do meio-dia, quando chega, porque costuma vir dois dias depois. Excomunguei-o e fiquei com uma juba de três meses, quando fui parar no hospital em BH. Operado pelo doutor Caetano, pedi ao Wander que fosse ao Felício Rocho dar um jeito na minha indecorosa cabeleira. O bom amigo apareceu de moto, único veículo capaz de circular em BH a partir das 6h45 nos dias úteis, navalhou-me as melenas em cortesia que emocionou o convalescente, obrigando a pobre faxineira hospitalar a encher saco plástico imenso com cabelos mais que grisalhados. Durante o corte, fiquei sabendo que alguns muitos dos seus velhos fregueses célebres estão infelizmente presos com sentenças transitadas em julgado: AP-470, vulgo mensalão.


Fulano
A Justiça quer saber se o fulano roubou. O verbo é forte, mas simplifica as coisas. Prova dos autos, votos demorados e chatíssimos, cada ministro querendo mostrar que sabe mais do que os outros, quando até os postes da Cemig sabem que os votos são escritos pelos assessores, rapazes e moças brilhantes. Como podem certos ministros demonstrar erudição, quando é sabido que foram reprovados em concursos para a magistratura? Carta de bacharel e registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não valem. Poucos brasileiros haverá que tenham obtido seus diplomas numa escola com a expressão daquela em que estudei, com o corpo docente (e decente) que lá estava. Estudei o suficiente para saber que nada sei da ciência do direito. No caso específico do fulano basta consultar o Serafim Jardim, que o assessorou durante anos ganhando uma tuta e meia. Serafim sabe tudo e mais alguma coisa sobre o fulano – e sabe como se comporta fora da vida pública, quando sócio de modesto estabelecimento hoteleiro. Que se pode esperar do caráter de um Nem da Rocinha? Nada mais que atitudes próprias de um Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem. Ressalve-se o fato de o bandido carioca ter nascido em casa humílima, de família humildíssima, no dia 24 de maio de 1967, antes de assumir o lugar do Bem-te-vi no comando do tráfico da Rocinha.


Companhias
O só fato de andar cercado de bandidos não transforma o sujeito em facínora. Se transformasse, não poderíamos citar os 10 deputados que não se misturam nem podem ser confundidos com os outros 503 da Câmara dos Deputados. Contudo, num conjunto de 190 países, quando o governo de um deles resolve enturmar-se com os piores, com os cocôs dos cavalos dos bandidos, há que desconfiar da opção. Aplica-se, nesse caso, a locução diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és. Dou um doce ao leitor que me disser qual foi o governo que se enturmou com Cristina Kirchner, Evo Morales, Raúl Castro, Nicolás Maduro e Rafael Correa. Enturmou-se e não dá um pio sem consultar seus parceiros. Se o leitor souber, me diga, por favor, que certas verdades a gente precisa ouvir de muita gente para acreditar.


O mundo é uma bola
26 de fevereiro de 1848: Proclamação da Segunda República Francesa. Francês adora segundas, terceiras, a começar pelas primeiras-damas. Temos exemplos recentes em Paris com o presidente François Hollande, baixinho, barrigudinho, trocando de mulher como trocamos de camisas. Mil vezes o uruguaio Mujica, fiel à companheira de muitos anos. Também, com aquele sítio e aquele fusca, o máximo que pode pegar é um resfriado no próximo inverno. Hoje é o Dia do Comediante.


Ruminanças
 “Eu cavo, tu cavas, ele cava, nós cavamos, vós cavais, eles cavam. Não é bonito, nem rima, mas é profundo...” (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o barão de Itararé, 1895-1971).

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