Zero Hora 26/02/2014
Enquanto assistia à novela, você comparou a atriz ao Coringa por causa
da plástica que ela fez na boca. Ao ver a foto de uma socialite no
jornal, comentou que aquilo não era um penteado, e sim uma vingança do
cabeleireiro. Num bar, deu uma zoada no garçom assim que ele se virou de
costas: é a cara do Bart Simpson! A dona de olheiras profundas que é
amiga da amiga da sua amiga não escapa de uma piadinha em off. Você não
se conforma: por que a Teca continua usando aquela camisa azul-turquesa
acetinada? E não acreditou no microtamanho do biquíni da vizinha de
praia. Ela não tem espelho em casa?
Sei que você é boa gente e que jamais negaria um emprego ao garçom
com cara de Bart Simpson, que ama de paixão a amiga que usa camisa
azul-turquesa e que convidaria a vizinha fora de forma para ser madrinha
do seu filho. Você sabe que as pessoas valem pelo que são por dentro.
Você tem plena noção de que aparência não determina caráter,
inteligência, talento, importância. Você não é burra. Você apenas pega
no pé de vez em quando, como todo mundo.
Nenhum de nós passaria incólume por um “microfone aberto”. Falar mal
faz parte da natureza humana, mas quem quer saber de absolver
humanizações quando se pode ser o paladino da justiça? Todas as pessoas
são terríveis e preconceituosas, menos você, não é assim?
É bem ilustrativo o caso da professora de uma universidade carioca
que teve a infeliz ideia de fazer uma foto de um sujeito na área de
embarque do aeroporto vestindo bermuda e camiseta regata, publicando-a
no Facebook com a seguinte legenda: “Aeroporto ou rodoviária?”. Bastaram
essas três palavras para ser afastada do cargo e sofrer um linchamento
moral por internautas que não perdoaram a indelicadeza do registro.
Não defendo a postagem de fotos de desconhecidos no Face – aliás,
não defendo nem a de conhecidos. Não considero elegante a atitude da
professora, ainda mais que o rosto do sujeito foi exposto. É possível
que venha a ser processada por ele: não foi uma crítica ao pé do ouvido,
e sim pública. Não dá. Não pode. Que o cara se sentisse ridicularizado,
era de se esperar, mas a reação exagerada da coletividade evidencia uma
certa hipocrisia. A professora foi massacrada por todos os anjos do
universo que jamais fizeram um comentário jocoso em suas vidas.
Particularmente, acho que homem de camiseta regata, só se for
salva-vidas. Questão de gosto, opinião que se compartilha entre risadas
com meia dúzia de amigas. Era o que a professora imaginava estar
fazendo, sem considerar as consequências dessa nova sociedade em que
nada mais fica “entre nós”, tudo fica entre todos. Ninguém deve humilhar
ninguém, e ela o fez, mesmo que num impulso zombeteiro, sem intenção de
que repercutisse fora da sua turma. Foi ingênua. Que sirva de exemplo
para todas as postagens indevidas em redes sociais. Não existe mais
piada interna.
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