sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O que fazer com idosos?‏

O que fazer com idosos? 
 
Doentes e esquecidos, velhos pobres precisam do amparo da sociedade
José Carlos Lassi Caldeira

Médico
Estado de Minas: 21/02/2014


Em Évora, na seiscentista Capela dos Ossos, construída com ossos dos frades franciscanos, há a célebre frase que remete à transitoriedade da vida: “ Nós, ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos”. A maior idade ou “a melhor idade” são apenas retóricas para tentar minorar o sofrimento daqueles que após os 60 anos sabem que a hora de seu encantamento se aproxima. Essa é uma fase da vida em que, salvo exceções, os problemas de saúde se tornam mais presentes, há uma piora do vigor e tônus vitais e há, sobretudo, as questões de ordem cognitiva que afetam cada vez mais um maior número de pessoas, dado o envelhecimento da população brasileira. Essas questões apresentam desde transtornos biopsicossociais leves com a preservação da capacidade de cuidar de si próprio até perdas funcionais graves nas áreas de cognição (da habilidade de compreender e resolver os problemas cotidianos), de mobilidade (dificuldades de locomoção e da manutençáo do uso de mãos e membros), da comunicação (da compreensão e expressão das linguagens, do pensamento e expressão de ideias, sentimentos e afetos).

Muitas destas habilidades se perdem tanto por doenças cérebro-vasculares como AVCs (derrames) ou arteriosclerose, quanto por degenerações neurológicas como Alzheimer ou E.L.A. ou Parkinson. Muitas das perdas ocorrem quando o indivíduo se encontra mais vulnerável afetivamente (vivendo sozinho em casa, com dificuldades de audição e visão, sem o necessário suporte familiar, já que os filhos muitas vezes têm seus trabalhos, seus filhos e seus próprio problemas etc.), aumentando sua dependência. Na minha infância, em Patrocínio, os velhos com problemas cognitivos eram chamados caducos – uma expressão até carinhosa – e eram mantidos na casa de algum dos filhos ou parente. Hoje, com o imprescindível trabalho da mulher, restou pouco tempo à família para cuidar de seus idosos, em especial nos cuidados sociais e afetivos. As disfunções vão desde a incapacidade para banhar-se, usar sanitário e manter higiene pessoal, alimentar-se, vestir-se, entre outras tantas coisas comezinhas. A perda da memória é, dentre todos, o fator determinante da deterioração da qualidade de vida e a maior causa dos problemas citados.

Trabalhando no SUS-BH, nós, médicos, nos deparamos com frequência com situações dessa natureza. Porém, apesar das dificuldades, temos tido um substantivo apoio do Centro Mais Vida da UFMG – Departamento de Geriatria. Esse centro oferece, além de cadeiras estofadas para todos os pacientes do SUS, uma medicina de qualidade, que minora os sofrimentos dessa parcela da população: pobre, velha e desamparada. Os recursos financeiros ali alocados pelo empresário Aloysio Faria deveriam servir de exemplo à parcela rica de Belo Horizonte (“Nós, ossos que aqui estamos...”). A partir daí, resta a questão: acolher em casa ou institucionalizar (asilar)? Apenas você sabe a sua resposta. 

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